Após acordo entre China e EUA, dólar não deve superar os R$ 6

Principal motivação para a valorização do real e de outras moedas neste ano, o temor de guerra comercial com o "tarifaço" idealizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perdeu força após o acordo selado entre China e EUA. Com o alívio momentâneo, as sinalizações indicam a manutenção do real mais forte, mas distante do patamar acima de R$ 6, registrado ao final de 2024.

O que aconteceu

Mercado respira após acordo entre China e EUA. A negociação comercial por 90 dias suspende a maior parte das tarifas entre as duas maiores economias do mundo. Com as conversas, os temores de guerra comercial foram reduzidos e representam um respiro também para o mercado brasileiro.

China e Estados Unidos são as duas maiores potências do mundo e, por acaso, os dois principais parceiros comerciais do Brasil. Se você tem esses caras brigando, a gente não tem como achar que não vai ser afetado.
Jacques Zylbergeld, superintendente de câmbio do Rendimento

"Tarifaço" de Trump derrubou a cotação do dólar. Diante dos anúncios, o índice DXY, que calcula a variação do dólar na comparação com outras seis moedas de economias avançadas, acumula desvalorização de 7,5% no acumulado de 2025 até a véspera do acordo dos EUA com a China.

Desvalorização do dólar é atribuída à desconfiança. "As políticas tarifárias propostas inicialmente pela administração Trump tiveram um efeito disseminado de enfraquecimento do dólar em relação às divisas de países desenvolvidos", explica Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. Ele afirma que o movimento foi ocasionado pela redução no comércio global entre os EUA e o restante do mundo, a menor demanda por ativos em dólar e o aumento da incerteza institucional.

Real

Dólar perde força em relação ao real desde janeiro. Após fechar o ano passado cotado a R$ 6,18, a cotação da moeda norte-americana acumulava queda de 8,5% ante o real até a sexta-feira da semana passada, véspera do acordo comercial entre China e Estados Unidos.

Novo retrato geopolítico não deve desvalorizar o real. Diante do novo cenário global, Zylbergeld avalia que a cotação da moeda norte-americana está mais próxima de retornar aos R$ 5,50 do que de recuperar os R$ 6. "Se você me perguntasse há três meses, eu diria que a cotação do dólar iria subir", afirma ele.

Atuação do Banco Central amplia o otimismo recente. Zylbergeld explica que a percepção diferente daquela observada ao final do ano passado é ocasionada pela atuação do Copom (Comitê de Política Monetária) com as recentes altas da taxa Selic. "Há uma confiança na autoridade monetária, o que não existia há seis meses. Eles [diretores do BC] estão comprometidos em reduzir a inflação."

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O diferencial de juros do Brasil em relação às principais economias globais, resultado de um ciclo de alta da taxa Selic que atingiu 14,75% ao ano, mostra-se um importante atrativo para capitais estrangeiros, especialmente no mercado de renda fixa. Isso contribui para a valorização e estabilidade do real.
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad

Retrato é positivo também para o longo prazo. Segundo Zylbergeld, a manutenção do ambiente atual pode devolver o dólar para o patamar de R$ 5,40 ao final deste ano. "Com uma perspectiva melhor para a inflação e juros para 2026, temos condições de terminar este ano com um cenário bastante promissor", prevê.

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