Ex-funcionários vencem Nubank na Justiça por foto oficial simulando nudez
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Ex-funcionários têm obtido decisão favorável da Justiça em processos por danos morais contra o Nubank nos quais relatam terem sido coagidos a tirar retratos oficiais corporativos que insinuavam nudez.
As fotos, individuais, mostravam o rosto e o ombro nu do colaborador e eram usadas como sua identificação oficial tanto internamente no banco quanto em trocas de mensagens com clientes. O Nubank diz que as imagens faziam parte de uma campanha de engajamento de funcionários de 2018 e não informa quando deixaram de ser utilizadas.
Entenda o caso
Ex-funcionários afirmam em ações judiciais que, ao começar a trabalhar no Nubank, eram obrigados a tirar uma foto que simulava nudez. Aos homens, era pedido que ficassem sem camisa; às mulheres, que baixassem a alça da blusa e do sutiã.
Foto fazia parte do processo de admissão, segundo processo. Em uma sentença favorável a um ex-funcionário que demandava indenização, a juíza Juliana Baldini de Macedo, da 33ª Vara do Trabalho de São Paulo, cita o relato de uma testemunha: "Quando foi admitida, foi obrigada a tirar foto sem camiseta e com a alça do sutiã abaixada para parecer que estava nua" em "uma sala com fotógrafo e fila de outros funcionários que estavam aguardando". A decisão desse caso, ao qual o UOL teve acesso, saiu no dia 7 de maio.
A Justiça condenou a empresa a pagar indenização ao ex-funcionário por violação do seu direito de imagem. No processo, o ex-funcionário pediu indenização por danos morais alegando que foi submetido a situações vexatórias, mas a juíza considerou que houve violação ao seu direito de imagem e determinou o pagamento de R$ 10 mil como indenização por danos morais. A advogada Raissa Cayres, que representa esse ex-funcionário, diz que considera o valor baixo e que vai recorrer para aumentá-lo.
O nu do Nubank vem de nudez. Eles querem ser desconstruídos e 'transparentes'. Quando os funcionários eram admitidos, essa foto fazia parte do processo de integração. Eles eram obrigados a fazer.
Raissa Cayres, advogada do escritório Cayres Morandi Queiroz
O escritório atua em ao menos 23 casos envolvendo as fotos. Desses, nove tiveram decisão favorável ao ex-funcionário, seis tiveram acordo entre as partes e os demais aguardam decisão judicial, diz a advogada.
O Nubank afirma que a foto não era obrigatória. Em nota enviada ao UOL como resposta a questionamentos sobre essas imagens, o banco disse que as fotos faziam parte de uma campanha voluntária realizada em 2018. Segundo o banco, tratava-se de uma ação interna de engajamento com os funcionários. No processo a que o UOL teve acesso, o Nubank argumenta que o empregado concordou com o uso de sua imagem, conforme previsão contratual.
O banco não informa até quando as fotos foram utilizadas. De acordo com o depoimento da testemunha no processo julgado pela juíza Macedo, no final de 2020 foi solicitado que todos os funcionários retirassem as fotos do sistema da empresa.
Reclamações de clientes
Imagem também era usada na comunicação com clientes. A testemunha do caso julgado pela juíza Macedo disse que "a foto era utilizada 'em tudo', inclusive para responder e-mail dos clientes". Segundo o depoimento, havia uma resposta padrão para os clientes em caso de questionamento sobre a foto.
Fotos geraram reclamações de clientes e casos de assédio, diz advogada. "Muitas mulheres sofriam assédio por parte de clientes. Muitos davam em cima. E tinha casos de clientes que ficavam ofendidos. Teve caso da mulher de um cliente que ligou para brigar com a funcionária que mandou a foto para o marido dela. Há diversos relatos desse tipo", afirma Cayres.
Cliente reclamou de foto na internet. Em uma queixa registrada no site Reclame Aqui em 2018, um homem reclama que recebeu um e-mail de um funcionário do Nubank com sua foto sem camisa. Ele diz que teve seu pedido de cartão de crédito rejeitado pela instituição, mas que mesmo assim continuava a receber e-mails do banco, sendo que um deles veio com a foto de um funcionário sem camisa. "Que tipo de profissional responde dessa forma? Que nível de amadorismo possui essa instituição, que além de não saber por que um e-mail é mandando, manda outro com a foto do seu suposto funcionário sem camisa? Vocês enlouqueceram?", diz a reclamação.
À época, o Nubank respondeu no Reclame Aqui que tem um "atendimento diferente" por causa de seu "jeito jovem e ágil". Nessa postagem, o banco afirmou que adota uma forma de atendimento diferente da tradicional.
Utilizamos uma linguagem mais simples, objetiva e, em algumas situações, até mesmo informal. (...) Quando falamos que somos Nu, estamos nos referindo à liberdade que tanto prezamos, às nossas fotos sem camiseta, ao nosso jeito jovem e ágil de ser e ao fim das complexidades, taxas e burocracias.
Nubank, em resposta enviada em 2018 a uma reclamação postada na internet
O que o Nubank diz agora
Na nota enviada ao UOL, o banco afirma que encerrou a campanha com fotos após análise interna. O Nubank afirma ainda que pauta suas relações com base em respeito, transparência e responsabilidade.
Após análise interna, decidimos descontinuar e descartar todos os materiais de uma campanha voluntária realizada há sete anos, em 2018. Essa medida já foi comunicada aos nossos colaboradores e faz parte do nosso processo contínuo de aprimoramento e adequação de nossas ações.
Nubank, em nota enviada ao UOL
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