Disputa no delivery de comida abre espaço para startup faturar R$ 7 mi

Enquanto o setor de delivery se aquece com o retorno da 99Food, a chegada da chinesa Meituan ao Brasil e a movimentação de iFood e Uber, a startup brasileira Loocal Delivery aposta em um caminho diferente para crescer: não cobra comissão sobre vendas, tem frota própria de entregadores, entrega comida e outros produtos, e oferece um hub de soluções logísticas, tecnológicas e educacionais para o varejo.

Fundada em 2020, a Loocal nasceu em Santos (SP) e hoje atende 2.700 empresas, entre restaurantes e lojas como Sodiê Doces, China in Box e Droga Raia. O foco é em entregas ultrarrápidas — o tempo médio é de 19 minutos. Com isso, chegou ao faturamento de R$ 7 milhões no ano passado, e quer chegar a R$ 10 milhões neste ano.

Agora com a movimentação no setor, a Loocal diz ver na concorrência uma oportunidade para alavancar seu faturamento, seja oferecendo solução logística ou atuando como consultora para redes varejistas que buscam vender mais e operar melhor no mundo digital.

Quem é a Loocal Delivery

Mais do que um serviço de entrega, a Loocal se define como um "hub de benefícios" para o varejo, nas palavras do fundador e CEO Diego Franco. Com o serviço, os estabelecimentos podem escolher entre diferentes modalidades logísticas. Desde a entrega por demanda, como nos apps tradicionais, em que o pedido chega e o entregador é acionado; até a contratação de entregador dedicado por período. Nesse caso, o estabelecimento pode alocar um entregador exclusivo em horários de pico, sem necessidade de contratação mensal. A empresa também pode integrar sua frota própria na plataforma da Loocal, para que a startup faça a gestão e acompanhamento.

Essa abordagem atraiu inclusive empresas que foram cortadas das grandes plataformas. Elas saíram por falta de capacidade de atender com eficiência em determinadas regiões. Nesses casos, a Loocal passou a ser alternativa para manter o delivery funcionando, segundo Franco.

Pode trabalhar em conjunto com apps mais estabelecidos. Algumas empresas seguem nas plataformas como iFood e Rappi, mas usam os serviços da Loocal para melhorar a margem de entrega com os serviços da empresa - é o caso de marcas como Sodiê Doces, China in Box e Droga Raia.

Os grandes players oferecem isso hoje? Oferecem. Mas em todas as regiões? Não. Fora que tem uma questão financeira, que para esses grandes players gerenciarem isso tudo, a venda e a entrega, eles cobram muito caro. Eu não sou um canal de venda, a Loocal é um braço de logística. Esse é o diferencial. Toda a tecnologia, todo o meu time é voltado para atender a demanda de entrega da empresa
Diego Franco, CEO e fundador da Loocal

Surgiu na pandemia, de olho nas cidades menores

A empresa nasceu em Santos, no litoral paulista, no primeiro ano da pandemia. Naquele momento, o empresário também buscava se reerguer após ter de paralisar as atividades de uma startup de eventos recém-criada e pelo falecimento da mãe de sua filha. Segundo ele, não demorou para que o varejo físico entendesse que as vendas poderiam seguir de forma online, mas faltava quem distribuísse principalmente em pequenas cidades.

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Há menos concorrência do delivery em pequenas cidades, o que poderia ser oportunidade para a Loocal. "Eu entendi que ali era uma ponta de menor barreira e que eu poderia trazer recursos para dentro de casa", diz o empresário. As operações começaram na cidade do litoral sul e se expandiram por toda a Baixada Santista, Vinhedo e Jundiaí.

A startup controla toda a jornada da entrega para conseguir ter entregas ultrarrápidas, com tempo médio de 19 minutos. Isso permite acompanhar o tempo de preparo, avaliar onde estão os problemas, buscar as rotas mais rápidas e garantir um bom serviço. Hoje, há 95% de assertividade entre o tempo prometido e o tempo de entrega realizado.

Os entregadores da Loocal foram os principais responsáveis por desenvolver e testar as tecnologias da empresa. "Nosso time nasceu da operação. Hoje, quem lidera nossas áreas de expansão e logística já foi entregador. A gente conhece o processo em detalhe porque viveu ele", resume o empresário fundador.

Desde o início, o foco da Loocal era ter como clientes de diferentes segmentos do varejo. Eles vão desde restaurantes, responsáveis por 85% do faturamento da empresa, a farmácias, que respondem por outros 10%, e lojas de roupas e outros tipos de comércio, que somam os outros 5%. A meta da empresa é diversificar o negócio.

Diego Franco é CEO e fundador da Loocal Delivery, que começou como um negócio durante a pandemia e faturou R$ 7 milhões em 2024
Diego Franco é CEO e fundador da Loocal Delivery, que começou como um negócio durante a pandemia e faturou R$ 7 milhões em 2024 Imagem: Divulgação

Para onde a Loocal vai agora

A companhia também se expandiu para além do estado de São Paulo. A Loocal Delivery presta serviços hoje para empresas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, e planeja iniciar operações em Goiânia, Santa Catarina e em alguma capital da região Nordeste ainda este ano. O objetivo é chegar a 5 mil entregas por dia.

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A projeção é também de crescimento econômico. Ao longo dos primeiros quatro meses do ano, a startup conseguiu zerar a perda de clientes. A empresa crescia 25% ao mês, mas perdia 15% dos contratos. Atualmente, o crescimento gira em torno de 20%. Meta do faturamento é de ir dos R$ 7 milhões, do ano passado, para R$ 10 milhões ao fim de 2025.

Neste ano, a Loocal estruturou uma vertical específica para o varejo farmacêutico, com equipe dedicada e funcionalidades sob demanda. E, para além da logística, a empresa também lança neste mês um novo braço de atuação, um canal de educação e consultoria voltado para às empresas. A ideia é ensinar o lojista a usar melhor os canais de venda, reduzir taxas e ampliar margens.

O comerciante às vezes tem 'ranço' do iFood, mas não sabe como sair de lá. Mas ele pode construir um canal próprio, entender a própria operação e faturar mais. Porque, por exemplo, um cliente que é recorrente não deveria precisar paga taxa para o iFood, ele poderia chamar para o canal próprio do comércio

Como a Loocal ganha dinheiro, se não cobra comissão

O modelo de negócios não é sustentado na cobrança de comissões sobre vendas, diferentemente de marketplaces tradicionais. A receita da Loocal vem de uma porcentagem sobre a taxa de entrega, cobrada por pedido concluído, e modelos de crédito pré-pago ou pós-pago para empresas que contratam os serviços regularmente.

O CEO afirma que dessa forma, a entrega acaba sendo mais vantajosa para o restaurante. Também garante um retorno maior para o lojista e os entregadores. No caso desses profissionais, que somam 40 mil cadastrados na base da Loocal. O valor padrão da entrega inicia em R$ 9,90 até um quilômetro rodada - acima das taxas de outras plataformas, que giram em torno de R$ 7, - mas há variações por conta da negociação comercial. A empresa diz, contudo, que ela pode chegar a 90% do valor total da entrega em certas rotas.

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O futuro em um mercado de delivery em ebulição

A entrada de novas plataformas no Brasil deve acirrar a disputa por restaurantes e consumidores, mas pode gerar confusão operacional. A mudança é vista como uma janela de oportunidade pela Loocal.

A nova ofensiva inclui a chegada da chinesa Meituan ao Brasil, o retorno da 99Food ao país e o lançamento da estratégia de zerar taxas de intermediação tanto pela 99 como pela Rappi. Já o iFood lançou a campanha "o iFood é tudo para mim" para ampliar as outras verticais da empresa e fechou parceria com a Uber de integração dos apps.

Enquanto grandes grupos miram o Brasil como mercado em expansão, nós já estamos aqui, operando, entendendo o comportamento do consumidor e desenvolvendo soluções que realmente fazem sentido para quem precisa entregar com velocidade e qualidade. Somos uma tech brasileira, feita para o Brasil, e pronta para esse novo momento do delivery

Para especialistas, a entrada de novas empresas e os anúncios feitos pelas companhias inauguram uma nova fase no mercado de delivery brasileiro. Segundo o Instituto Foodservice Brasil, o setor passa por um ponto de virada, após anos de retração pós-pandemia e queda de tráfego, de -3% em 2024 na comparação com o ano anterior.

O delivery vive um reaquecimento mas com uma nova racionalidade, mais centrado em rentabilidade, diversificação e diferenciação
Ingrid Devisate, vice-presidente do Instituto Foodservice Brasil

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Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) também vê com otimismo o novo momento. Ele ainda avalia que o aumento da concorrência não impede o crescimento de empresas menores, como a Loocal, apesar da concentração de investimentos bilionários. Mas observa que elas se sairão melhor atuando diretamente em parceria com os grandes players e na logística brasileira.

É como solução de terceiros para essas grandes plataformas. O desafio é grande, crescer em um mercado como o nosso, mas para a logística eu enxergo que há espaço aqui
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel

As receitas do setor no país devem chegar a US$ 21,18 bilhões em 2025. Os dados são da Statista em relatório divulgado no início do ano. O estudo mostra que o país representa 1,51% da receita mundial do setor, que movimenta US$ 1,40 trilhão. Até 2029, o total de receitas deve chegar a US$ 27,81 bilhões em 2029, o que representa um crescimento anual de 7,04%.

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