Alta do café faz clubes de assinatura subirem preços: 'seguramos ao máximo'

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A alta no preço do café nos últimos meses têm feito os clubes de assinatura aumentar os preços das mensalidades e produtos. Dois deles já elevaram o valor e um terceiro deve seguir o mesmo caminho agora em junho. Para eles, o que importa é manter a qualidade - principal atrativo para os consumidores.
O que aconteceu
Preço do café moído disparou mais de 80% nos últimos 12 meses. Os dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mostram o grão como um dos principais vilões da inflação no período. Somente neste ano, o preço acumula variação positiva de 35,87%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a equipe econômica estuda a alta dos preços.
Clube de assinatura aumentou preço no começo do ano. A Noete Café Clube reajustou em 45% os valores na comparação deste ano para o ano passado: de R$ 95 o quilo passou para R$ 140 o quilo. Por enquanto a alta na mensalidade não gerou saída de assinantes.
Vamos acompanhar os preços futuros para futuros reajustes. O mais importante é não diminuir a qualidade dos grãos.
Daniel Cabral, proprietário da Noete Café Clube
Outro clube elevou valor de assinatura em 10%. Há dois meses, o Moka Clube subiu o preço de R$ 99 para R$ 109 para assinaturas de 500 gramas de café por mês. E há a possibilidade de ocorrer um novo reajuste, observa Hugo Sousa Rocco, sócio da Moka Clube.
Infelizmente sim (tivemos que aumentar). Essa alta no processo acaba beneficiando uma pequena parte da cadeia do café somente. Deixando ainda mais difícil manter a qualidade e ainda disputar a compra com os gringos que querem cada vez mais o café brasileiro. A única saída é pagar preços melhores para os produtores.
Hugo Sousa Rocco, sócio da Moka Clube
No Coffee&Joy o aumento nos preços deve ocorrer agora em junho. Sergio Miranda, proprietário e co-fundador do clube de assinatura de café Coffee&Joy, observou ao UOL Economia que a marca "segurou (o preço) o máximo" que pode antes de repassar o aumento para o consumidor.
A ideia da Coffee&Joy é sempre tentar democratizar ao máximo o acesso aos melhores cafés do Brasil. Somos um dos melhores custos benefícios que se tem para o nível de café que oferecemos. E óbvio que isso traz um desafio gigante para nossa operação, esse ano, para continuar fornecendo o produto de qualidade que a gente oferece vamos ter que aumentar sim (o preço da assinatura).
Sergio Miranda, proprietário e co-fundador do clube de assinatura de café Coffee&Joy
Como funcionam
Cada clube funciona de uma maneira diferente. A dinâmica de funcionamento é relativamente "simples": um kit com grãos ou pó de café é mandado diretamente para a casa do cliente. Em alguns casos, o produto é surpresa, enquanto em outros é possível escolher exatamente o que se vai querer receber. Não há hoje um mapeamento da quantidade de clubes de assinatura de café existentes no país.
Clubes fazem a curadoria dos cafés colocados nos kits. Os cafés distribuídos passam por uma seleção prévia.
Assinantes buscam "experiência" e contato com novidades. Giuliana Bastos, consultora de tendências de mercado da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), entende que a maior parte das pessoas que procuram os clubes de assinatura de café são entusiastas, que, de vez em quando consomem café gourmet ou especial - este último acima de 84 pontos. "É um público mais curioso sobre café e que fala bastante sobre café. Querem se aventurar mais".
Moka Clube

É um dos primeiros clubes de assinatura do país. A ideia de criar o clube ocorreu em 2010, quando Rocco morava em Londres, no Reino Unido. Na época, ele teve acesso a alguns exemplares de uma revista que vinha acompanhada de amostras de café e da história do produto. "Eu achei aquilo genial", disse ao UOL. Dois anos depois, já de volta ao Brasil, Rocco lançou o Moka Clube.
Empresa faz a curadoria do café que vai chegar à casa dos assinantes. Para isso, Rocco vai até os produtores de café, analisa o grão e prova a bebida. No ano passado, ele ficou três meses fora de casa nesse roteiro pelos cafezais. "Todo mundo quer vender, mas a gente acaba selecionando", conta.
Kit é surpresa. No Moka Clube são enviados pacotes de 250 gramas de produtos diferentes. É possível ainda escolher a quantidade, entre 500g ou dois pacotes, ou 1kg, equivalente a quatro pacotes, frequência (mensal ou bimensal) e o tipo de moagem.

Além do clube de assinatura de café, marca possui outros negócios. A Moka Clube fornece cafés para cafeterias, vende o produto em supermercados e ainda dispõe de uma e-commerce. Nesta última, 15% das vendas são provenientes dos assinantes do clube. Em 2025, o faturamento esperado da marca é de R$ 30 milhões, sendo que o clube representa um terço deste resultado, ou seja, R$ 10 milhões.
Moka Clube conta hoje com 3 mil assinantes.
Remodelagem fez número de assinantes do clube crescer três vezes. Até o ano passado, o clube de assinatura da Moka Clube estava meio escanteado. Internamente, a marca sabia que não havia tantas vantagens de ser assinante em comparação à compra pela e-commerce: o preço era muito parecido. Porém, em 2024, a empresa decidiu oferecer uma série de benefícios para os assinantes: frete grátis, 15% de desconto nas compras pela e-commerce, mimos e dobrou a quantidade de café enviado (de um pacote para dois). E o resultado veio a ponto da marca já estudar "lacrar" o clube: novos participantes só entram se algum sair.
Antes da pandemia era muito focado muito em atender cafeterias, atendia em torno de 400 cafeterias em todo o Brasil. E a assinatura estava meio que de lado. A gente entendeu que o clube teria que ser muito mais do que experiência. (Em 2024) Remodelamos a assinatura e o clube começou a crescer. Então a gente saiu lá de mil e poucos assinantes para mais de 3 mil em praticamente um ano.
Hugo Sousa Rocco, sócio da Moka Clube
Coffee&Joy

Clube possibilita a personalização do kit ou a escolha dos itens por conta da empresa. "Você consegue customizar tudo, não é 'preso' a nada", conta o proprietário e co-fundador Sergio Miranda. Os kits do clube saem a partir de R$ 34,80 - para um pacote de 250 gramas.
Coffee&Joy foi criado em 2016 com o propósito de "democratizar o café especial", possibilitando o acesso ao produto por mais gente. A marca também se propõe a fazer com que o brasileiro encare o café como um "alimento". "A gente faz muita conta de casa, procura sempre trabalhar um valor que a gente consegue beneficiar o produtor que está produzindo com qualidade, mas também consegue dar acesso às pessoas que querem provar esse alimento diferenciado", explica Miranda.
Muita gente acha que o Brasil é constituído de grandes fazendeiros de café, mas não é essa realidade. A realidade são pequenos produtores que estão o ano inteiro ralando para se manter na agricultura e, muitas das vezes, eles ficam produzindo um alimento de excelente qualidade e que não é valorizado como deveria ser e não é apresentado igual deveria ser apresentado.
Sergio Miranda, proprietário e co-fundador
Mais de 500 amostras de cafés foram analisadas na última safra. Os grãos são enviados pelos produtores pelos Correios e passam por uma análise prévia antes da visita aos cafezais. Desde 2016, a marca já fez negócios com mais de 300 produtores.
Todo café que está no Coffee&Joy a gente apertou a mão do produtor. Fomos lá conhecer, entender um pouquinho da sustentabilidade do produtor, como é todo o trato na lavoura. Não é só mandar o café (pelos Correios), a gente vai lá te conhecer e um pouquinho da fazenda. Ver se, de fato, o que você está contando é verdade para poder contar para os nossos clientes.
Média de permanência no clube é de oito meses. Hoje a marca não abre o número exato de assinantes por "questões estratégicas" e diz apenas que há "milhares de assinantes ativos", observa Miranda. O faturamento da empresa também não é divulgado, mas 85% do valor vem do clube de assinaturas e o restante da e-commerce.
Assinantes do Coffee&Joy recebem mimos no kit. Já foram enviados canecas, enfeites para a árvore de Natal e até porta-copos com tecelagem manual. A ideia dos mimos é também incentivar produtores locais que não são necessariamente ligados ao café, explica Miranda. "Quando a gente coloca alguns produtos diferentes na caixinha como mimo, a gente também atiça um pouco a curiosidade das pessoas para experimentar coisas que não comprariam normalmente", diz o co-fundador da marca.
Noete Café Clube

Clube de assinatura foi carro-chefe da marca nos primeiros dois anos. A Noete foi criada em abril de 2015 e é baseado em Belo Horizonte. Após os primeiros dois anos, a marca passou a diversificar as fontes de receita, abrindo uma cafeteria em BH e vendendo o grão para cafeterias, clínicas e restaurantes.
Hoje, metade da receita da Noete vem do clube de assinatura de café. Ao todo são 415 assinantes ativos, que pagam a partir de R$ 50 nos planos mensais. "O clube é nossa raiz, nossa alma, mas não é a nossa única receita", diz o dono da Noete, Daniel Cabral.
É possível receber até 3kg de café por mês pelo clube. O produto pode vir moído ou em grãos, ficando à escolha do assinante.
Assinantes ficam no clube por mais de um ano, conforme o dono da marca. "A pessoa, de fato, faz parte da nossa história e ela se sente parte dessa história. A gente até já conhece até presencialmente os assinantes que estão há dez anos conosco."

Talvez a gente seja um clube que não tenha tantos assinantes, igual aos outros, mas tenho certeza que a gente explora a palavra 'clube' ao máximo. A gente tem uma sinergia entre o nosso ambiente online e offline. O cliente pode vir para a cafeteria e ficar o dia inteiro trabalhando. E vai ter 10% de desconto (no que comprar no local). O assinante também recebe alguns convites para eventos e em Belo Horizonte não cobramos frete.
Daniel Cabral, proprietário da Noete Café Clube
Noete fatura em média R$ 80 mil por mês - e o clube representa 40% desse total. Hoje, 40% dos assinantes são de Belo Horizonte e outros 10%, do interior de Minas Gerais. Além disso, outros 40% são de assinantes de São Paulo e os 10% restantes são de sete estados diferentes e do Distrito Federal.
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