Quem é a bilionária que herdou impérios, anda de metrô e viaja na econômica

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Mitzi Perdue nasceu dentro de um império, a rede de hotéis Sheraton, e herdou outro.
No entanto, a bilionária sempre levou um estilo de vida simples —andando de metrô, usando roupas de segunda mão e vivendo em um apartamento relativamente modesto— em que construiu uma carreira (e um currículo) ainda mais excêntrico e extraordinário.
Quem é Mitzi Perdue?
Mitzi, de 84 anos, é filha de Ernest Henderson, um dos dois fundadores da rede de hotéis Sheraton. Nascida em Massachusetts, nos EUA, ela e seus irmãos herdaram o império do pai, que era o sócio majoritário do negócio —uma empresa de US$ 12,2 bilhões (R$ 66,24 bilhões), segundo a revista americana Fortune.
Ela ainda se casou anos mais tarde com Frank Perdue, o "rei do frango". O empresário era dono da Perdue Farms, a maior criadora de frangos do país, e uma empresa que lucrou US$ 10 bilhões (R$ 54,3 bilhões) em 2024.
Apesar de tanta riqueza, ela levou uma vida parcialmente incompatível com sua conta bancária. Nascida em 1941, durante a Segunda Guerra, ela foi criada de maneira mais simples pela família Henderson. Como a quinta filha da casa, ela cresceu usando roupas de segunda mão. Cursou escola pública durante alguns anos, antes que se mudasse para uma particular. Aqueles anos parecem ter sido formativos.
Em 1963, ela se formou com honras acadêmicas na Universidade Harvard, em que cursou estudos de governança. Dois anos depois, ela concluiu seu mestrado em administração pública pela Universidade George Washington, outra instituição de prestígio. Sua tese muito à frente de seu tempo era a respeito do futuro dos computadores.
Com estes diplomas em mãos, ela deixou para trás a adolescência trabalhando no Sheraton com o pai e foi atuar na área pública. Ela foi estagiária do Departamento do Tesouro americano, no escritório do comissário do IRS (Internal Revenue Service, a receita federal do país), relembrou ao jornal The New York Times em 2017.
Dois anos depois, em 1967, Mitzi perdeu o pai. A herança poderia ter aberto as portas para uma vida de extravagância e pouco trabalho, já que teria sido mais fácil ter dado o dinheiro para alguém administrar e viver do lucro, segundo ela. Mas não era seu objetivo —ou o da família. Os Henderson se reuniram e venderam a rede de hotéis, o que deixou Mitzi confortável.
Assim, ela tomou outro caminho: dedicou-se a uma carreira como jornalista, pesquisadora, fazendeira e filantropa —investindo em projetos e iniciativas em que ela acredita. No âmbito pessoal, ela se casou em 1968 pela primeira vez, com o geneticista espanhol Francisco J. Ayala, com quem teve dois filhos.
Nos anos seguintes, ela se interessaria por agricultura. Comprou terras próximas ao campus da Universidade da Califórnia em Davis, segundo a revista Fortune, para que a faculdade também pudesse fazer experimentos na área de agricultura e passou a se dedicar a lavouras de arroz —o que despertou seu interesse em temas relacionados às formas de cultivo e saúde mental.
Como produtora de arroz, ela foi presidente da American Agri-Women, uma organização de mulheres agricultoras. Paradoxalmente, ela escreveu uma das maiores colunas sobre questões ambientais da imprensa americana entre 1991 e 2002, "The Environment and You", para a qual ela entrevistava cientistas sobre o tema. Seus textos eram distribuídos para centenas de jornais locais dos EUA, primeiro pelo serviço Capitol News da Califórnia e depois pela Scripps Howard News Service.
Mitzi foi delegada na Conferência das Nações Unidas para Mulheres em Nairóbi representando seu país em 1985. Também foi comissária no Comitê Nacional de Bibliotecas e Ciências da Informação dos EUA, de acordo com seu site pessoal.

Mitzi também se tornou correspondente de guerra depois do início da invasão russa na Ucrânia. Ela esteve quatro vezes no país como convidada da polícia de Kiev, segundo seu site, e conduziu entrevistas em abrigos anti-bombas. Comovida pelos casos de tráfico humano e pelos horrores do conflito, ela virou notícia em dezembro de 2022 ao resolver leiloar seu anel de noivado dado por Frank Perdue para arrecadar fundos para a Ucrânia.
O anel, em si, tinha uma história tão rica quanto a sua dona. Sua esmeralda era parte do tesouro do navio espanhol Nuestra Señora de Atocha, que afundou em 1622. A pedra foi encontrada nos anos 60 pelo time do mergulhador Mel Fisher no local do naufrágio na costa da Flórida. Por isso, o anel teria alcançado o lance de US$ 1,2 milhão (R$ 6,5 milhões). Ela justificou a decisão à revista Town & Country:
Meu falecido marido era a pessoa mais generosa que já conheci e estava certa de que ele ficaria satisfeito com este uso do seu presente. O valor sentimental alcança galáxias distantes, mas quando estava decidindo se o leiloaria ou não, fiquei pensando: 'este anel tem a possibilidade de salvar as pessoas de muito sofrimento'. Em grande escala, ao pesar as coisas, o que conta mais —fazer o bem para muitas pessoas ou ter uma só se beneficiando? Mitzi Perdue
O gesto espelha também um ato pelo qual seu pai ficou famoso. Em 1957, Ernest Henderson doou US$ 10 mil em auxílio aos húngaros após a revolução pelo privilégio de dançar com a atriz e bailarina Ginger Rogers.
Atualmente, Mitzi escreve para o site da Foreign Press Correspondents USA (Associação Americana de Correspondentes Internacionais), da qual é membro do corpo diretor, e para o site Psychology Today. Ela também colabora com publicações como The Wall Street Journal, USA Today, Washington Examiner, entre outros.
Ela se gaba de já ter produzido nos anos 80 mais de 400 entrevistas para a KXTV, afiliada da rede CBS em Sacramento, na Califórnia, e também mais de 300 edições de seu programa de rádio "Mitzi's Country Comments". Ela ainda escreveu nove livros, entre eles um sobre o marido falecido em 2005: "Tough Man, Tender Chicken: Business and Life Lessons from Frank Perdue".
Com a morte de Frank, ela não se interessou pelo negócio. A empresa passou a ser tocada pelos filhos de casamentos anteriores de seu marido e também por um de seus filhos do primeiro casamento, Carlos.
Mitzi também é pesquisadora e membro do corpo docente do Institute of World Politics. A instituição de pós-graduação em Washington oferece formação para alunos em temas de segurança nacional, inteligência, diplomacia e relações internacionais.
Ela ainda se dedica ao desenvolvimento de terapia contra o trauma com auxílio de inteligência artificial para vítimas da guerra na Ucrânia. De acordo com a Fortune, o projeto atualmente "tem poucos recursos" para lidar com a demanda. Em todas as suas viagens a trabalho, contudo, ela voaria na classe econômica.
A bilionária vive há anos em um apartamento em Salisbury, no estado de Maryland, onde moram outros funcionários de suas empresas. Ela ainda tem como vizinhos policiais, enfermeiras e outros trabalhadores de classe média, segundo a Fortune. "É agradável, mas ninguém diria que é chique".
Frequentemente, Mitzi visita Nova York a trabalho. Por lá, ela anda de metrô, em vez de chamar um Uber. Ela também tem o hábito de mandar seus sapatos à sapataria para consertar, em vez de comprar novos pares. Ela diz não usar roupas de grife porque não gosta de ostentar sua riqueza.
Eu preferiria ter uma vida de um banquete de alegria sem fim do que não conseguir contar cinco dias felizes. Se você quer ser feliz, pense no que pode fazer pelos outros. Se quer ser infeliz, pensa no que devem a você. Mitzi Perdue
Ela ainda nota que grandes riquezas de família como as suas raramente duram 100 anos. "As famílias que perduram são aquelas que aprendem a administrar. Elas não estão aqui para gastar tudo. Elas estão aqui para serem guias para a próxima geração", filosofou à Fortune. Não à toa, Mitzi parece investir pesado em ser este farol em tantas áreas.
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