Inflação já deverá estourar nesta semana a meta no novo sistema de medição

Com a divulgação, nesta semana, do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de junho, a inflação brasileira deverá ultrapassar o teto da meta no acumulado de 12 meses, que é de de 4,5%, pelo nono mês consecutivo.

Até o ano passado, a obediência à meta de 12 meses era medida sempre ao final de dezembro. Porém, um novo sistema implementado em 2025 tornou essa checagem mensal, obrigando o Banco Central brasileiro, responsável por manter os preços sob controle, a se explicar quando o descumprimento se der por seis vezes seguidas.

O que deverá acontecer

Especialistas e agentes do mercado financeiro preveem que a inflação acumulada em 12 meses vai furar o limite da meta pela nona vez seguida em junho. A projeção média de analistas consultados pelo UOL é de que o IPCA registrará uma variação de preços de 0,25% em junho. Caso esse número seja confirmado na divulgação do próximo dia 10, a inflação acumulada em 12 meses será de 5,36%. Apenas uma deflação superior a 0,57% impediria o estouro da meta.

A meta para o IPCA definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3% para 12 meses. Existe uma tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Descumprimento por seis meses consecutivos, que obriga o BC a se explicar, será o primeiro desde a adoção do novo modelo de metas. O novo sistema estabelece que a meta seja aferida mensalmente pelas variações do IPCA no acumulado dos 12 meses. Caso o rompimento do intervalo persista por seis meses seguidos, o BC precisa se justificar e dar um prazo para devolver a inflação à meta.

Estouro prolongado é explicado pelo aquecimento da economia. O recente avanço da atividade econômica, o desemprego no menor nível da história, o aumento da concessão de crédito e a adoção de medidas fiscais expansivas influenciaram a manutenção do IPCA acima do teto da meta nos últimos meses. Os especialistas ouvidos pelo UOL explicam que o cenário é determinante para elevar a demanda por bens e serviços e estimular a inflação.

O principal responsável pelo descumprimento da meta é um quadro de superaquecimento da atividade que, na ausência de choques que o compensassem, resultou em descumprimento da meta agora e, provavelmente, levará ao descumprimento ainda pelos próximos 12 ou 18 meses.
Homero Guizzo, economista da Terra Investimentos

Meta foi descumprida três vezes nos últimos quatro anos. O estouro no modelo contínuo vai repetir o cenário observado em 2021, 2022 e 2024. Nos três anos, a inflação superou o limite em, respectivamente, 4,81 pontos percentuais (10,06%, ante teto de 5,25%), 0,79 ponto percentual (5,79%, ante limite de 5%) e 0,33 ponto percentual (4,84, ante teto de 4,5%).

Alimentos assumiram o papel de vilões das famílias neste ano. A inflação da comida acumula alta de 3,88% de janeiro a maio e de 7,33% em 12 meses. Também pesou para o desempenho recente do IPCA o retorno do custo extra sobre as contas de luz.

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Justificativa do BC

Galípolo vai justificar furo da meta pala segunda vez
Galípolo vai justificar furo da meta pala segunda vez Imagem: Sergio Lima/AFP

Galípolo precisará enviar uma nova carta para o ministro da Fazenda. O presidente do BC precisará explicar as razões que fizeram o índice oficial de preços superar o teto da meta. A obrigação é a mesma que ele precisou cumprir em janeiro, dias após ser empossado no cargo.

Justificativa deve mencionar fatores internos e externos. "O BC apontará os choques observados nos preços administrados e energia, os impactos adversos de fatores internacionais e a demora dos efeitos da política monetária restritiva. Também deverá falar sobre a influência das expectativas desancoradas e riscos de segunda rodada inflacionária via núcleo de serviços", prevê o especialista em investimentos Jeff Patzlaff.

BC também terá que indicar prazo para devolver inflação à meta. Entre as novas normas do CMN, está a necessidade de manifestar as ações tomadas para manter a inflação na meta e estabelecer um prazo para a queda das variações até o intervalo. "Ao comentar a estratégia de combate à inflação, o BC deve recorrer ao argumento de que a política monetária está em terreno contracionista e que lá deve ficar pelo tempo necessário para assegurar a convergência da inflação", diz Guizzo.

Discussão foi tema do último Relatório de Política Monetária. "Nas projeções do cenário de referência, a inflação se mantém acima do limite do intervalo de tolerância nos próximos meses, começando a cair a partir do quarto trimestre, mas ainda permanecendo acima da meta", estima a autoridade monetária no documento divulgado há dez dias.

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Mercado vê inflação de volta ao intervalo em um ano e dois meses. Conforme as expectativas mais recentes dos analistas do mercado financeiro, a volta para a meta em agosto de 2026, quando o IPCA acumulado em 12 meses cairá de 4,65% para 4,49%, patamar limite da banda de tolerância. Se confirmada, a situação obrigará mais duas justificativas do BC.

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