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Medidas de Trump podem ser remédio errado para economia dos EUA

Scott Olson/Getty Images/AFP
Imagem: Scott Olson/Getty Images/AFP

Howard Schneider

20/01/2017 11h09

WASHINGTON (Reuters) - Cortes de impostos, desregulamentações e mais gastos federais defendidos pela administração Trump são um remédio clássico para a estagnação econômica e longas filas de desemprego.

Mas esse remédio pode ser forte demais para uma economia que tem crescido há oito anos, com salários agora subindo e a taxa de desemprego perto do que muitos economistas consideram pleno emprego.

Análise da Reuters sobre dados de empregos regionais e tendências históricas sugere que o estímulo pode aumentar a demanda para trabalhadores em regiões onde já há aperto do mercado. Isso, por sua vez, pode provocar inflação, forçar o Federal Reserve, banco central norte-americano, a elevar os juros mais do que o esperado e aumentar a ameaça de recessão.

O que a economia precisa agora, segundo economistas e autoridades do Fed, é de uma pequena cirurgia: políticas focadas em regiões em situação complicada em suas áreas rurais e industriais, que saíram de sincronia com a economia global e surgiram como principal base de Trump, ajudando-o a conquistar a Presidência.

"Quando se pensa no que Trump está herdando, é uma economia na qual grande parte da crise recente foi resolvida", disse o economista-chefe do site de empregos indeed.com, Jed Kolko.

"Os desafios que permanecem são aqueles mais difíceis de consertar", disse ele, citando como exemplos a queda no cinturão de carvão ou o aumento do uso de drogas entre a comunidade de classe média.

Trump assume o cargo nesta sexta-feira prometendo fortalecer a classe média e colocar milhões de trabalhadores de volta no mercado de trabalho, gastando muito em infraestrutura, sendo duro no comércio e cortando impostos para elevar o investimento.

Crescimento demais?

Autoridades do Fed estão cada vez mais preocupadas que, como a economia dos EUA já está perto de seu potencial, tal impulso do crescimento pode levar a falta de emprego, altas insustentáveis de salário e muita inflação.

Nas semanas desde a eleição em 8 de novembro, o foco dos membros do banco central mudou de como analisar altas graduais dos juros que poderiam sustentar o desemprego em torno dos níveis atuais para os riscos de crescimento que aconteça rápido demais.

Os períodos em que o desemprego ficou baixo demais sem uma resposta do Fed "terminaram em algum tipo de recessão", disse o presidente do Fed de Atlanta, Dennis Lockhart, na semana passada.

A atual taxa de desemprego de 4,7 por cento está em linha com o que a chair do Fed, Janet Yellen, citou como pleno emprego nesta semana, mencionando ainda o risco de recessão se o Fed tiver que elevar os juros rápido demais.

Trump critica o número oficial de desemprego, dizendo que ele ignora milhões de norte-americanos que pararam de procurar trabalho e que, na sua opinião, poderiam voltar ao mercado com centenas de bilhões de dólares em projetos públicos e investimento privado.

Entretanto, análise da Reuters sobre os dados de emprego nos Estados sugere que pode haver motivos relacionados a regiões ou à indústria para que essas pessoas não possam ser prontamente mobilizadas. Ciclos econômicos passados também sugerem que até mesmo manter a taxa de desemprego onde ela está será um desafio.

A história recente sugere que grandes gastos ou cortes tributários tão tarde assim no ciclo empresarial podem de fato antecipar o fim da atual expansão.