IPCA desacelera mais que o esperado em fevereiro e abre espaço para corte maior dos juros
Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira fechou fevereiro abaixo do esperado favorecida pela queda nos preços dos alimentos, aproximando-se da meta do governo e pavimentado ainda mais o caminho para o Banco Central acelerar o ritmo de cortes de juros já no próximo mês.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,33 por cento em fevereiro, contra 0,38 por cento em janeiro, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É o resultado mais baixo para o mês desde 2000 (0,13 por cento) e melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,45 por cento.
Nos 12 meses até fevereiro, o índice avançou 4,76 por cento, sobre 5,35 por cento no mês anterior, ficando muito perto do centro da meta oficial --de 4,5 por cento com margem de 1,5 ponto percentual.
Nessa base de comparação, o IPCA voltou à casa dos 4 por cento pela primeira vez desde meados de 2012, registrando o nível mais baixo desde setembro de 2010 (4,70 por cento). A expectativa de especialistas ouvidos pela Reuters era de que o índice ficasse em 4,88 por cento.
FEIJÃO E FRANGO
O grupo que mais contribuiu para o resultado melhor do IPCA de fevereiro foi alimentos, que compensou a forte alta sazonal nos preços de educação, mostrou o IBGE.
Os preços do grupo Alimentação e Bebidas recuaram 0,45 por cento, com impacto negativo de 0,11 ponto percentual no IPCA e no nível mais baixo desde julho de 2010 (-0,76 por cento). Entre os produtos que ficaram mais baratos em fevereiro, destacaram-se as quedas de 14,22 por cento do feijão-carioca e de 3,83 por cento do frango inteiro.
Na outra ponta, a inflação de Educação chegou a 5,04 por cento refletindo os reajustes de início de ano, em especial os das mensalidades de cursos regulares (+6,99 por cento).
"A oferta de alimentos se sobrepôs à demanda menor em fevereiro. Os alimentos estão mais baratos pela grande e forte safra para este ano", disse o coordenador do IBGE Fernando Gonçalves.
A inflação de serviços, que o BC vem observando com atenção para a condução da política monetária, também mostrou maior pressão ao acelerar a alta a 0,84 por cento em fevereiro, sobre 0,36 por cento no mês anterior. Entretanto, em 12 meses foi abaixo de 5 por cento, para 5,95 por cento, contra 6,18 por cento em janeiro.
As estimativas para a inflação neste ano e no próximo, na última pesquisa Focus do BC, são respectivamente de 4,36 e 4,50 por cento.[nL2N1GJ0CD]
O cenário de alívio no IPCA ratifica o movimento de afrouxamento monetário que vem sendo feito pelo BC, com a Selic já caindo 2 pontos percentuais, a 12,25 por cento, desde o início dos cortes em outubro. No último encontro, em fevereiro, o corte foi de 0,75 ponto percentual.
Agora, economistas já precificam chances maiores de o BC acelerar o corte na reunião de abril para 1 ponto, cenário que o mercado de juros futuros também passou a apontar após o resultado do IPCA.
"A desinflação é bem difusa e é um tipo de IPCA que qualquer banqueiro central gostaria de ver. Todas as notícias recentes são para um corte de 1 ponto percentual (em abril)", disse o economista do Banco Pine Marco Caruso.
Na ata de sua última reunião, o BC afirmou que uma intensificação do ritmo de corte nos juros básicos equivale a maior grau de antecipação desse ciclo de flexibilização, reforçando que pode acelerar o passo em breve.
"O resultado (do IPCA) consolida o caminho para o BC acelerar o ritmo e calculamos que em quatro reuniões pode chegar a uma Selic em 9 por cento, com dois cortes seguidos de 1 ponto", disse o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, para quem o BC pode antecipar o ciclo de afrouxamento.
(Reportagem adicional de Silvio Cascione, em Brasília)
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