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Aos 40 anos, Bacia de Campos deve perder posto de maior produtora de petróleo

Marta Nogueira

25/08/2017 13h55

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Berço de gigantescas descobertas petrolíferas e tecnológicas da Petrobras, que colocaram o Brasil no mapa global da indústria de petróleo, a Bacia de Campos está prestes a perder neste ano o posto de maior produtora do país para a Bacia de Santos, exatamente ao completar 40 anos.

A mudança deve ocorrer em meio ao crescimento da produção no pré-sal. A Bacia de Santos abriga os campos mais importantes dessa província produtora do país, como Lula e Sapinhoá.

Em junho de 2017, a Bacia de Campos foi responsável por 51% da produção de petróleo do Brasil, enquanto a Bacia de Santos, que segue em crescimento acelerado, incentivada pelo pré-sal, somou 43%, segundo os últimos dados publicados pela ANP.

O cenário é muito diferente do observado há cinco anos, quando Campos representava pouco mais de 80% da produção de petróleo, enquanto Santos, apenas 7%.

É difícil dizer quando exatamente ocorrerá a mudança, mas especialistas e até mesmo a agência reguladora ANP consideram que isso pode acontecer ainda neste ano.

"Vai ser a qualquer momento, o que é normal. A Bacia de Campos se tornou uma bacia madura, 90% dos campos são maduros hoje, e a Bacia de Santos é a jovem, a que está substituindo", disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires.

"É um processo de substituição, as pessoas às vezes esquecem que petróleo é um recurso não renovável, finito."

A produção na Bacia de Campos registrou em junho média de 1.363.089 barris de petróleo por dia (bpd), queda de 18% ante o mesmo período de 2012. Enquanto isso, Santos registrou 1.148.768 bpd em junho, volume pouco mais de oito vezes maior que o mesmo mês de 2012.

Com o desenvolvimento do pré-sal, a produção de petróleo brasileira tende a se tornar mais rentável, devido à qualidade do óleo extraído de lá, acrescentou o professor e membro do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Helder Queiroz.

"Normalmente pagam um prêmio para o petróleo mais leve, o petróleo do pré-sal tem se revelado mais leve, com maior grau API do que os tradicionais da Bacia de Campos, que são mais pesados, então há uma tendência de ter um óleo de boa qualidade (no Brasil)", disse Queiroz, que já foi diretor da ANP.

Importância de Campos

Há no mercado quem diga que o foco urgente da Petrobras no pré-sal, em meio a restrições financeiras devido a uma enorme dívida, estaria por trás do declínio de Campos, mas a suposição não encontra consenso no mercado.

Executivos da empresa vêm reforçando que a Petrobras tem dado a atenção necessária à antiga província petrolífera, ressaltando que ela não perderá sua importância.

O Plano de Negócios e Gestão da Petrobras 2017-2021 prevê investimentos de US$ 10 bilhões na Bacia de Campos.

Os investimentos previstos, segundo a Petrobras, serão empenhados em 48 projetos de desenvolvimento da produção.

A previsão é que sejam instaladas quatro novas plataformas na Bacia de Campos nos próximos anos, sendo que a primeira delas nos campos de Tartaruga Verde e Tartaruga Mestiça, adiada recentemente deste ano para o próximo ano. Além dela, estão previstas duas novas unidades no campo de Marlim e uma no pré-sal da concessão de Albacora.

Dessa forma, para a Petrobras, a mudança de cenário acontece principalmente devido a grande pujança do pré-sal, que iniciou sua produção a menos de dez anos. A produção dessa nova província petrolífera ultrapassou, em junho, pela primeira vez, a produção do pós-sal.

O pré-sal brasileiro produziu, em junho, 1,353 milhão de barris de petróleo por dia (bpd), segundo a ANP, enquanto a produção total do país no pós-sal foi de 1,322 milhão de bpd.

"Parte significativa desta produção (do pré-sal) vem da Bacia de Santos, mas também temos produção advinda do pré-sal na Bacia de Campos", destacou a empresa em uma nota à Reuters, frisando que ambas as bacias devem ser entendidas no contexto do portfólio de ativos de produção da Petrobras, que são gerenciados de forma integrada.

O ex-diretor-geral da ANP e diretor da DZ Negócios com Energia, David Zylbersztajn, concordou que todos os holofotes estão indo para Santos por causa do pré-sal.

"O pós-sal já é uma bacia envelhecida e andou tendo um declínio muito mais rápido do que se imaginava... Dificilmente vai ter uma mudança desse comportamento. A Bacia de Santos será, seguramente, a nova fronteira produção de petróleo do Brasil", afirmou.

O cenário pode reduzir o poder dos sindicatos de petroleiros, que antes representavam grande parte da produção do país e agora têm perdido cada vez mais representatividade, uma vez que a maior parte da produção nova advinda de Santos são de plataformas afretadas e, por tanto, operada por funcionários terceirizados.

"A produção (nova) não fica mais na mão (dos petroleiros)", lamentou o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro/NF) --que representa os funcionários da Bacia de Campos--, Tezeu Bezerra.

Segundo ele, com menos investimentos em Campos, onde estão áreas mais maduras, a tendência é Santos se tornar cada vez mais importante.