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Venda de fatia na Eletrobras deve atrair elétricas chinesas

25/08/2017 18h40

SÃO PAULO (Reuters) - Os planos do governo federal de desestatizar a Eletrobras, com uma emissão de ações que torne a União minoritária na companhia, deverão atrair o interesse de grandes elétricas chinesas, disseram à Reuters especialistas familiarizados com a estratégia dos investidores orientais.

Gigantes asiáticas estiveram por trás de negócios bilionários no setor elétrico brasileiro nos últimos anos, como a compra da CPFL Energia pela State Grid e aquisição de hidrelétricas da norte-americana Duke Energy pela China Three Gorges.

"Os chineses seriam ótimos parceiros para a Eletrobras... a Eletrobras agrada bastante porque é uma empresa forte e tem muitos ativos valiosos", disse o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, em entrevista à Reuters.

O governo tem dito que a ideia não é atrair um único comprador para a estatal e que manterá uma participação na companhia, com a previsão inclusive de ter poder de veto em assuntos estratégicos.

Esse modelo tende a ser bem visto pelos investidores chineses, dado que tanto a State Grid quando a Three Gorges já possuem parcerias de sucesso com a Eletrobras e outras estatais brasileiras em energia, disse Tang.

"Estatais chinesas gostam de estatais brasileiras. A parceria com o governo é até melhor, até encoraja mais", afirmou o executivo, que assessora diversas empresas chinesas em negócios no país.

A sócia da consultoria de negócios Vallya, que tem escritório no Brasil e na China, Larissa Wachholz, concorda com a avaliação e afirma que "faria muito sentido" para investidores asiáticos disputar uma fatia na Eletrobras.

"Eu acredito que, se permitido, empresas chinesas estarão ansiosas por disputar. Elas têm confiança em sua capacidade de analisar riscos no setor elétrico... sem influência política, há um bom time técnico que já está lá e pode tocar o negócio para qualquer investidor estrangeiro", disse.

Ela ressaltou também o grande apetite oriental por investimentos em energias renováveis, que são parte importante do portfólio da Eletrobras e dos planos de expansão da matriz elétrica brasileira.

Ela não citou nomes de empresas que poderiam ter interesse no negócio.

Mas, para Tang, da Câmara Brasil-China, State Grid e China Three Gorges provavelmente ficariam de fora da transação, que poderia atrair novas gigantes elétricas para o país.

"Deve ser um grupo novo. Essas que já estão aqui acho que estão digerindo as aquisições já feitas. Não estou excluindo eles, mas acho que precisam de um tempo para digerir."

Autoridades já disseram que o governo espera que a Eletrobras levante cerca de 20 bilhões de reais com a oferta de ações em estudo.

O dinheiro seria utilizado pela elétrica para pagar um bônus à União em troca do direito de vender a preços maiores a produção de 14 de suas hidrelétricas que operam atualmente em um chamado regime de cotas, em que vendem a energia a valores abaixo de mercado.

(Por Luciano Costa, com reportagem adicional de Jake Spring)