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Reforma da Previdência não sai antes de 2019, diz Mario Mesquita

Luiz Guilherme Gerbelli e Patrícia Duarte

04/09/2017 15h19

SÃO PAULO, 4 Set (Reuters) - O ano de 2017 deve terminar com o cenário econômico melhor do que o político e legislativo, o oposto do que se via nos primeiros meses, mas isso significa que a reforma da Previdência não será votada nem em 2018, avaliou o economista-chefe do banco Itaú Unibanco, Mario Mesquita.

"A capacidade do governo de direcionar a agenda legislativa vai sendo enfraquecida se ele precisar usar capital político para outros fins", afirmou ele em entrevista à agência Reuters nesta segunda-feira (4), em referência à possibilidade de o presidente Michel Temer receber novas denúncias por crimes e que precisarão passar pelo crivo da Câmara dos Deputados para seguir adiante.

"A gente acha que o governo tem apoio para aprovar medidas que requeiram maioria simples, mas consideramos 308 deputados (necessários para aprovar a reforma da Previdência) um desafio muito maior", acrescentou. "Não está mais na nossa conta a aprovação da reforma da Previdência neste e no próximo ano".

Mesquita, que foi diretor do Banco Central de 2006 a 2010, quando a autoridade monetária estava sob a batuta do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também acredita que o governo terá de fazer novo contingenciamento no Orçamento deste ano para cumprir a meta fiscal e, assim, não precisar elevar mais impostos.

O fracasso do governo em aprovar a reforma da Previdência, no entanto, não deve elevar muito a tensão do mercado financeiro, por ora, avaliou, por causa de dois fatores: cenário benigno internacional e expectativa de que um candidato reformista consiga ganhar a eleição presidencial de 2018.

"Os mercados internacionais estão benignos. O grande risco é a política monetária nos Estados Unidos ser mais contracionista, mais agressiva, e esse risco parece limitado porque os salários estão bem comportados", argumentou Mesquita.

Com o cenário fiscal bastante conturbado, Mesquita acredita que a dívida bruta do país somente começará a recuar no final da próxima década. Mas sob uma condição: "Se passar a (reforma da) Previdência em 2019, o auge da dívida será de 85 por cento do PIB em 2027", afirmou ele.

Hoje, a dívida bruta do país está em 73,8% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo dados recentes do BC. 

Crescimento maior e juro menor

Mesquita diz que a economia tem mostrado mais força do que o esperado e, por isso, vai elevar a projeção de crescimento para o PIB deste ano de 0,3% para algo próximo a 1%, mantendo a previsão de expansão de 2,7% em 2018, mas com viés de alta. 

"Se o cenário eleitoral for tranquilo, é possível que a economia comece a acelerar e ganhe mais tração em 2018", acrescentou ele.

O economista também vê um cenário mais positivo para o mercado de trabalho que, ao que tudo indica, já pode estar mostrando recuperação consistente. Em julho, no último dado divulgado, a taxa de desemprego ficou em 12,8%, segundo nível mais baixo do ano, ficando atrás apenas dos 12,6% observados em janeiro. 

"A nossa expectativa era que o desemprego só começaria a cair no primeiro e segundo trimestres de 2018", disse.

O Itaú também estima que o atual ciclo de corte da Selic deve chegar a 7% no início do ano que vem, o que também deve colaborar para a retomada da economia. Hoje, a taxa básica de juros está em 9,25% ao ano.

"Na nossa visão, precisamos ter novas surpresas para baixo da inflação para justificar uma projeção de taxa de juros abaixo de 7%", afirmou Mesquita.

O ex-diretor do BC disse ainda que, mesmo os recentes aumentos de preços promovidos pela Petrobras nos combustíveis, sobretudo pelo estrago feito pelo furacão Harvey que impactou a produção de petróleo nos Estados Unidos, não vão impactar a inflação no Brasil e, consequentemente, a política monetária.

(Edição de Camila Moreira)