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Conab reduz previsão de safra de café do país; vê queda de 12,8% ante 2016

21/09/2017 13h50

Por José Roberto Gomes e Marcelo Teixeira

SÃO PAULO (Reuters) - A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) cortou sua projeção para a safra de café do Brasil em 2017, em função de problemas climáticos e ataques de pragas que afetaram as lavouras de arábica no maior produtor e exportador global.

Agora a estatal estima uma queda de 12,8 por cento ante 2016, quando o parque produtivo estava em seu ano de alta no ciclo bianual do arábica. A redução anual só não é maior porque a colheita de grãos robusta (conilon) apresentou boa recuperação, após anos de seca.

Em seu terceiro levantamento sobre a cultura, a Conab prevê que o país produzirá neste ano 44,77 milhões de sacas de café arábica e conilon (robusta), contra 51,37 milhões no ano passado e 45,6 milhões na estimativa de maio.

Tal redução reflete, principalmente, a menor safra de arábica, que deve totalizar 34,07 milhões de sacas, aquém das 35,4 milhões consideradas em maio e 21,5 por cento inferior na comparação com as 43,38 milhões de 2016.

Segundo Aroldo Antônio de Oliveira Neto, superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, a safra de 2017 sofreu com um aumento de doenças e pragas, como a broca do café. Ele citou ainda problemas climáticos, como chuva na colheita e precipitações irregulares em períodos de floradas.

Esses problemas resultaram em grãos miúdos e malformados, e a safra ficou abaixo do esperado, acrescentou Oliveira Neto.

"No Sul de Minas, houve infestação de praga, principalmente a broca. Mas não foi só isso... Na região do norte de Minas, houve déficit hídrico, prejudicou desenvolvimento da planta. E houve chuva exatamente nos meses de colheita, maio, junho julho", afirmou ele, sobre a principal região produtora do país.

"Em São Paulo, que também tem bastante arábica, teve impacto da broca. Grãos miúdos, deformação de grão. Lá também houve muita poda, pela bienualidade negativa, então a área em produção caiu", acrescentou.

A estatal destacou que em Minas Gerais, maior Estado produtor de arábica, houve uma redução da produção de 21 por cento, principalmente pela bienalidade negativa das maiores regiões produtoras. A produção de arábica do Estado deve totalizar 24,04 milhões de sacas.

Em contrapartida, a safra de conilon do Brasil deve se recuperar após a seca do ano passado em áreas produtoras do Espírito Santo e alcançar 10,7 milhões de sacas, frente a 10,1 milhões de sacas projetadas em maio e 7,98 milhões de sacas um ano atrás.

O levantamento da Conab foi realizado em agosto --antes, portanto, da forte estiagem deste mês, que fez o setor ver diminuídas as chances de uma "supersafra" em 2018.

O especialista da Conab, no entanto, disse que é prematuro para falar em quebra de safra para o ano que vem.

"Café é interessante, pode ter problemas na primeira florada, mas pode recuperar na segunda, pode ter até terceira florada. Planta que tem recuperação muito rápida. Então a gente acha que é muito cedo para falar em quebra para o ano que vem", disse Oliveira Neto.  

ÁREA

A Conab estima que área total com café neste ano fique em 2,2 milhões de hectares, queda de 0,7 por cento na comparação com 2016.

Desse total, 345,19 mil hectares (15,6 por cento) estão em formação e 1,86 milhão de hectares (84,4 por cento) em produção.

A maior parte é formada por lavouras de arábica, com 1,78 milhão de hectares. O robusta ocupa 426,9 mil hectares.

A estatal afirmou ainda que "a área de café vem decrescendo a cada ano e é notório que esse comportamento ocorra visto ao ganho de produtividade que os produtores têm alcançado, tendo em vista a aplicação de novas tecnologias nessa cultura, com o uso de novas variedades, adubação adequada, irrigação, entre outros".

Segundo a Conab, é possível perceber que a queda de área é uma tendência, tanto em Estados com menor área cultivada, quanto nos maiores, como é caso do Espírito Santo. A companhia informou ainda que, dos principais Estados produtores, apenas Minas Gerais e Bahia apresentam ganho na área cultivada entre 2001 e 2017.

Em 2001, por exemplo, a área em produção no Brasil superava 2 milhões de hectares, e em 2017 ficou abaixo de 1,9 milhão de hectares.

"Essa mudança nas áreas cultivadas com café, tendo redução em alguns Estados e ganhos em outros, tem contribuído para concentrar ainda mais a produção de café no país", afirmou a Conab.

Enquanto em 2001 os quatro maiores Estados com área cultivada (Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Bahia) respondiam por 76 por cento do total do país, em 2017 a estimativa é que eles respondam por 92 por cento da área total, segundo o levantamento.

Segundo a estatal, alguns fatores estão contribuindo para essa concentração, como as condições edafoclimáticas destas regiões, a cadeia mais estruturada, os investimentos dos governos estaduais para incentivo do setor e a facilidade de escoamento.

(edição de Luciano Costa)