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Energia deve seguir mais cara em novembro por restrição em linhão do Norte ao Sudeste

19/10/2017 17h25

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - Uma limitação no montante de energia que pode ser transportado pela maior linha de transmissão de eletricidade do Brasil, que leva até o Sudeste a produção de duas enormes hidrelétricas em Rondônia, Jirau e Santo Antônio, deverá pressionar as contas de luz em novembro, disseram especialistas à Reuters.

Embora a restrição esteja presente desde o início da operação do linhão, ela ainda não era considerada nos modelos computacionais que calculam o preço da energia --em alta pelas fracas chuvas em áreas de hidrelétricas-- e guiam o acionamento das termelétricas.

Mas a partir do próximo mês a questão será considerada, após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avaliar que o problema é de "caráter estrutural", limitando um alívio para os bolsos dos consumidores que poderia ocorrer com a chegada da temporada de chuvas nas hidrelétricas.

Os consumidores do país têm pago um adicional nas tarifas desde julho, devido a chuvas abaixo da média na região das hidrelétricas, principal fonte de geração do Brasil. Em outubro, a cobrança extra foi elevada para seu maior nível, a chamada bandeira tarifária segundo patamar, com custo de 3,50 reais a cada 100 kilowatts-hora.

Em novembro, quando geralmente começam chuvas na região das hidrelétricas, a expectativa era de que a cobrança extra caísse para 3 reais, primeiro patamar da bandeira vermelha, ou 2 reais, com bandeira amarela, mas a limitação de transmissão pode manter a tarifa sob pressão, disse à Reuters o presidente da comercializadora FDR Energia, Erik Azevedo.

"O que vai acontecer é que, com a capacidade reduzida da transmissão, vai reduzir a energia disponível no Sudeste... se não fosse essa restrição do linhão, a gente com certeza poderia ter bandeira vermelha nível 1. Com isso, já passa para bandeira vermelha nível 2", disse.

Criadas para incentivar uma redução no consumo quando a oferta de energia no sistema é menor, as bandeiras tarifárias geram custos maiores quando saem da cor verde para a vermelha ou amarela.

A mudança de nível das bandeiras é guiada pelo custo das usinas termelétricas acionadas para atender à demanda, em complemento às usinas hídricas.

A bandeira vermelha nível 1 é acionada quando há uso de termelétricas com custo acima de 422 reais. O nível 2 da bandeira é acionado com o uso de térmicas acima de 610 reais.

Atualmente, as térmicas mais caras em funcionamento estão na casa dos 860 reais por megawatt-hora.

A comercializadora de energia Comerc previa que a usina térmica mais cara a ser acionada em novembro teria custo na casa dos 524 reais, mas com as restrições esse custo deve subir para quase 700 reais no Sudeste, o que caracterizaria a bandeira vermelha no segundo nível.

"Tem um aumento muito grande de preço, porque você não consegue escoar a energia pro Sudeste. Isso afeta, sim, o cenário de oferta", disse a gerente de estudos setoriais da Comerc, Juliana Chade.

LINHÃO BUSCA SAÍDA

A restrição, que pode durar até o final de 2019 se o problema não for resolvido, tem origem em limitações em um equipamento chamado "eletrodo de terra" em um dos dois bipolos do linhão de transmissão que liga Rondônia ao Sudeste, operado pela IE Madeira, parceria entre Cteep e Eletrobras.

O eletrodo, que é utilizado apenas em casos de interrupção no funcionamento de um dos bipolos, precisará ser instalado em local diferente do inicialmente planejado para funcionar adequadamente.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) avaliou que, com as limitações no equipamento, falhas que obrigassem o desligamento forçado de qualquer um dos dois bipolos do linhão poderiam resultar em um blecaute de grande porte no Sul e Sudeste.

Para evitar esse risco, o ONS estabeleceu que os dois bipolos do linhão de 2,4 mil quilômetros de extensão deverão operar em capacidade máxima de 4,7 mil megawatts, ante uma capacidade total de 6,3 mil megawatts das estruturas.

Antes, previa-se que o linhão alcançaria uma capacidade de 5,6 mil megawatts ainda em 2016 e chegaria ao total de 6,3 mil megawatts em 2017.

As hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, entre as maiores do Brasil, somam cerca de 7,5 mil megawatts em capacidade de geração.

O diretor técnico da IE Madeira, Jairo Kalife, disse à Reuters que a empresa está em processo de conclusão de estudos e conversas com o órgão ambiental Ibama e com o Iphan afim de ter autorização para uma obra que solucionará o problema, com uma mudança no posicionamento do eletrodo de terra.

A intervenção deverá custar cerca de 50 milhões de reais. O investimento total da IE Madeira na construção de seu bipolo e subestações no linhão foi de mais de 3 bilhões de reais.

"Com uma complementação de entre quatro a seis meses a gente faz isso... a grande incógnita é quanto tempo vão demorar as liberações ambientais", disse Kalife.

A IE Madeira tem sofrido um desconto de 10 por cento em sua receita desde a entrega do linhão, em 2014, devido à limitação do eletrodo de terra.

Atualmente, a empresa tenta convencer a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a cancelar a punição, alegando que enfrentou dificuldades na fase de testes do empreendimento devido a atos de vandalismo que derrubaram torres de energia necessárias aos ensaios.