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Eletrobras quer resolver processos nos EUA antes de privatizacão, diz CEO

Luciano Costa

31/01/2018 13h54

SÃO PAULO, 31 Jan (Reuters) - A estatal Eletrobras tem conversado com autoridades nos Estados Unidos para tentar encerrar um processo contra a companhia na Justiça norte-americana antes de sua privatização, que o governo quer concluir no segundo semestre deste ano por meio de uma oferta de novas ações, disse à agência de notícias Reuters nesta quarta-feira (31) o presidente da elétrica, Wilson Ferreira Jr.

A companhia brasileira é alvo de ação coletiva de investidores dos EUA que alegam ter sofrido prejuízos devido ao envolvimento da empresa em casos de corrupção, descobertos em meio à Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

"Você se submete às autoridades. Nesse momento, óbvio, o que a gente tem de conhecimento é que no curso dos processos pode haver iniciativas de acordo, e a companhia vai apreciar cada uma delas", afirmou.

Em entrevista, o executivo disse que a Eletrobras tem conversado com o Departamento de Justiça dos EUA, a SEC (órgão regulador do mercado de ações norte-americano) e investidores, mas não quis comentar se a empresa aceitaria um acordo que envolvesse um pagamento para encerrar as ações, como um anunciado recentemente pela Petrobras. 

"A única coisa que posso colocar é o seguinte: estamos contribuindo com cada uma dessas instâncias, para que a gente venha, junto dessas autoridades, a chegar a um bom termo, e no prazo mais breve possível. Idealmente, antes da emissão (de ações no âmbito da privatização)", afirmou.

Ele ressaltou, no entanto, que a Eletrobras se auto-denunciou às autoridades após os achados da Lava Jato e tem atuado como assistente da acusação nos processos.

"A Eletrobras também foi vítima, não há um benefício à companhia. Agora estamos iniciando os trabalhos para tentar recuperar valores e estamos contribuindo com as autoridades brasileiras e norte-americanas no sentido de prestar os esclarecimentos e concluir esses processo com a brevidade possível", disse.

Ferreira prevê que a oferta de ações que deve reduzir a fatia do governo federal na companhia a uma posição minoritária, efetivando a desestatização, deve acontecer no segundo semestre.

Um projeto de lei com a modelagem da desestatização foi enviado neste mês pelo Planalto ao Congresso Federal, onde será relatado pelo deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA), que já foi presidente de uma subsidiária da Eletrobras no Nordeste, a Chesf. 

Críticas públicas de Aleluia ao projeto e sua ligação com a Chesf geraram expectativa entre especialistas de que o texto possa ser alterado -- com mudanças como a exclusão da subsidiária do processo de desestatização, uma proposta que agradaria políticos da região.

Questionado sobre se é viável um avanço da privatização sem a inclusão da Chesf ou outras subsidiárias, como Furnas, Ferreira foi enfático.

"Não, não é. Não vejo sentido nisso, os ativos têm sinergias", afirmou, defendendo que a união de todas as subsidiárias da Eletrobras é que possibilita à companhia ganhos de escala e eficiência.

"Acho que as reações (ao projeto de lei) são naturais, mas o Aleluia é uma pessoa experiente, conhece o setor. Ele está se aprofundando nisso", acrescentou.

O executivo, que presidiu por anos a CPFL Energia antes de ir para a Eletrobras em 2016, disse ainda que gostaria de seguir à frente da companhia após a conclusão da desestatização, caso seja esse o desejo dos investidores que assumirem o controle do negócio.

Liminar

O presidente da Eletrobras disse que o governo federal espera derrubar ainda nesta semana uma decisão liminar que, na prática, paralisou um avanço da privatização, ao travar a contratação de estudos necessários ao processo.

A decisão, da Justiça Federal de Pernambuco, suspendeu trecho da medida provisória 814/17 que retirou vetos existentes na legislação à inclusão da Eletrobras no Plano Nacional de Desestatização (PND).

"Estamos aguardando o desfecho, imagino que seja nessa semana, da liminar, para que a gente possa fazer os contratos, contratar os assessores financeiros. É o que a gente tem sido informado. Deve se ter alguma coisa no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana", afirmou.