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PF lança operação para investigar desvios em fundo de pensão dos Correios

Por Ricardo Brito

01/02/2018 07h55Atualizada em 01/02/2018 15h47

SÃO PAULO, 1 Fev (Reuters) - A operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal deflagrada na manhã desta quinta-feira (1º) para investigar uma suposta organização criminosa para desviar recursos do Postalis, o fundo de pensão dos empregados dos Correios, teve o banco norte-americano BNY Mellon como um dos alvos e realizou busca e apreensão na casa do ex-presidente do fundo Alexej Predtechensky, disse à agência de notícias Reuters uma fonte com conhecimento das apurações.

Segundo divulgou a PF, cem mandados judiciais de busca e apreensão estão sendo cumpridos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas, além do Distrito Federal. No total, 62 equipes policiais estão envolvidas na operação, batizada de Pausare, e as ações ocorrem em regime de esforço concentrado nas próximas 48 horas. As medidas judiciais foram autorizadas pela Justiça Federal do Distrito Federal.

"A operação Pausare surge de um conjunto de auditorias de órgãos de controle encaminhados pelo MPF (Ministério Público Federal), que identificaram má gestão, irregularidades e impropriedades na aplicação dos recursos do Postalis. A missão da PF é investigar as repercussões criminais da atuação desse grupo de pessoas no desvio de recursos do fundo", afirma a nota da Polícia Federal.

"Entre os alvos das medidas judiciais há pessoas físicas, em especial empresários em suposto articulação com gestores do fundo de pensão, bem como dirigentes de instituição financeira internacional. Também serão alvos dos policiais federais pessoas jurídicas, entre elas empresas com títulos em Bolsas de Valores e instituições de avaliação de risco", acrescentou a PF sem dar mais detalhes sobre os alvos da operação.

O Postalis chegou a registrar um rombo da ordem de R$ 6 bilhões e, segundo a PF, os desequilíbrios provocados pela gestão do fundo e os desvios investigados pela operação Pausare fizeram com que aposentados e funcionários da ativa dos Correios, assim como o Tesouro Nacional, tivessem de aumentar sua contribuição ao fundo.

A PF disse que não fará balanço parcial da operação durante o dia e não revelou eventuais prisões ou dificuldades em cumprir os mandatos. Também não confirmou se haverá um balanço no fim do dia.

Três investimentos sob suspeita

Em nota, o MPF disse que a operação Pausare foca em três investimentos realizados pelos administradores do Postalis.

O primeiro refere-se a uma aplicação de aproximadamente R$ 223,4 milhões no Fundo de Investimento em Participações ETB, que envolvia o projeto Nova Bolsa (que vislumbrava a criação de uma nova Bolsa de Valores no Brasil), vinculado às empresas Marco Polo Network Inc e Vistrix Partneres. O fundo de pensão financiou o investimento praticamente sozinho, com 98,33% do aporte total inicial e ficou com apenas 25% do empreendimento.

O segundo ponto diz respeito a emissões de Cédulas de Crédito Imobiliário (CCI) da Mudar Master II Participações S/A, adquiridas no valor total de R$ 109,8 milhões.

Por último, apura-se investimento de R$ 190 milhões no Fundo de Investimento em Participações Bionergia, vinculado ao Grupo Canabrava.

Intervenção de 180 dias

Em outubro do ano passado a Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), órgão responsável pela fiscalização de entidades de previdência privada decretou intervenção de 180 dias no Postalis, quarto maior fundo de pensão fechado do país em número de participantes, com 136 mil pessoas entre ativos e aposentados.

No dia 18 deste mês, o Ministério Público Federal abriu processo civil contra unidade brasileira do norte-americano BNY Mellon para ressarcimento de R$ 8,2 bilhões em prejuízos causados ao Postalis.

Até o momento, não é possível saber a suposta participação do BNY Mellon e do ex-presidente da Postalis no caso. Predtechensky comandou o fundo de 2006 a 2012 e, segundo apurou a Reuters com fontes, é apadrinhado político do ex-ministro de Minas e Energia e senador Edison Lobão (MDB-MA).

O banco confirmou que a PF esteve em seu escritório e que está cooperando com as autoridades.

"A Polícia Federal esteve em nosso escritório hoje em decorrência de uma investigação em curso, que entendemos envolver uma séria de outras instituições. Estamos cooperando integralmente com as autoridades", disse o BNY Mellon, em nota.

Procurado, o Postalis não comentou de imediato.

(Reportagem adicional de Aluísio Alves, em São Paulo; Edição de Eduardo Simões)

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