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Governo deverá responder em breve se aceita "nova empresa" a ser criada entre Boeing e Embraer

02/02/2018 18h21

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro deverá dar uma resposta nos próximos dias sobre se aceita a criação de uma terceira empresa, negociada entre Embraer e Boeing como forma de contornarem as condições do governo federal em torno de uma eventual aquisição da companhia brasileira, afirmaram duas fontes do governo nesta sexta-feira.

Uma das fontes com conhecimento das negociações disse que uma nova proposta da empresa norte-americana foi apresentada na quinta-feira e não inclui a área de defesa da fabricante brasileira, que desenvolveu o cargueiro militar KC-390, maior aeronave já construída no país.

"A Boeing apresentou ontem uma nova proposta. Ela será estudada e analisada pelo comitê monitora as discussões", disse a fonte nesta sexta-feira.

Essa fonte afirmou que o governo ainda não se debruçou sobre os detalhes da proposta e, por isso, não pode dizer se vai aceitar o acordo. Ainda assim, a intenção do Executivo Federal é dar uma resposta o mais rápido possível sobre se avaliza a operação.

As empresas tornaram público em dezembro que estavam discutindo uma aliança depois que as rivais Airbus, da Europa, e Bombardier, do Canadá, acertaram umaparceria em torno dos jatos regionais CSeries, do grupo canadense.

O governo brasileiro detém uma golden share na Embraer, mecanismo que dá poder de veto em decisões estratégicas da fabricante brasileira, como uma eventual aquisição da companhia.

"O acordo caminha na direção da criação de uma terceira empresa", disse a outra fonte ouvida pela Reuters.

A avaliação no governo é que, embora a eventual criação da nova empresa vai preservar a independência da divisão militar da Embraer, os projetos dessa área da companhia brasileira poderão ganhar um impulso em termos de venda, disse a primeira fonte. O projeto do KC-390, por exemplo, conseguiria o know how da Boeing para encontrar novos potenciais compradores, com uma eventual conversão do cargueiro para a área comercial.

A Embraer informou em comunicado ao mercado nesta sexta-feira que não recebeu oferta da Boeing, mas que segue mantendo discussões com a norte-americana e com representantes do governo brasileiro sobre uma aliança, que poderá envolver a criação de uma nova empresa.

"A Embraer não aceitou e tampouco recebeu proposta da Boeing uma vez que as partes envolvidas ainda estão analisando possibilidades de viabilização de uma combinação de seus negócios, que poderão incluir a criação de outras sociedades", afirmou a companhia brasileira em comunicado ao mercado.

Já a Boeing afirmou no Brasil que estrutura uma possível aliança com a Embraer e que o assunto ainda está sendo estudado.

ACELERAÇÃO

A percepção do governo brasileiro, segundo essa segunda fonte, é que Boeing decidiu acelerar as tratativas nas negociações após a União ter indicado que vetaria a compra de toda a Embraer e que também não concordaria em ceder parte da área militar da companhia brasileira.

Outro ingrediente que deixou a Boeing mais pragmática nas conversas com autoridades do Brasil, conforme a fonte, foi a decisão da Comissão de Comércio dos Estados Unidos de ter rejeitado os argumentos da empresa norte-americana de que foi prejudicada pelas vendas de aeronaves CSeries a preços abaixo daquele mercado e descartado uma recomendação para sobretaxar em quase 300 por cento as vendas da aeronave com 110 a 130 assentos por cinco anos.

A Boeing contratou um importante escritório de advocacia no Brasil e uma instituição financeira para assessorar a empresa na formatação da parceria com a Embraer, disse uma das fontes.

A área de defesa da Embraer, apesar de representar apenas 20 por cento da empresa brasileira, é a que desde a década de 1970 tem impulsionado os avanços tecnológicos da companhia e atualmente desenvolve uma série de projetos com forte apelo para a soberania nacional.

Em meados do mês passado, uma outra fonte com conhecimento das discussões tinha afirmado à Reuters que os modelos de parceria entre as empresas poderiam ser um "market agreement", uma joint venture ou um acerto sobre desenvolvimento conjunto de tecnologias.

Na ocasião, a fonte comentou que as autoridades brasileiras estudaram a fundo outros casos de parceria e também a situação comercial da Boeing. A avaliação obtida foi que parcerias como as que a companhia norte-americana firmou com empresas australianas e britânicas do setor não interessariam serem copiadas pela Embraer porque envolveram, em grande parte,prestação de serviços, segundo disse a fonte à época.

A ação da Embraer encerrou o dia em alta de 4,41 por cento, maior alta do Ibovespa, cotada a 21,30 reais. Os ADRs da empresa nos EUA exibiam valorização de 3,2 por cento às 18:18 (horário de Brasília).