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Temer diz que Brasil será excluído de tarifas de aço dos EUA durante negociações, mas Washington não confirma

21/03/2018 21h04

Por Lisandra Paraguassu e David Lawder

BRASÍLIA/WASHINGTON (Reuters) - O presidente Michel Temer afirmou nesta quarta-feira que os Estados Unidos não vão aplicar tarifas de importação de aço e alumínio do Brasil enquanto o país estiver negociando com Washington ser isentado das sobretaxas.

A declaração, porém, não foi confirmada pelo órgão de comércio dos EUA, que afirmou por meio de porta-voz que uma eventual decisão de isenção de outros países além de México e Canadá precisa da aprovação do presidente norte-americano, Donald Trump.

Temer fez o comentário em discurso na abertura de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto.

"As novas tarifas, mensagem da Casa Branca, não se aplicarão enquanto estivermos conversando sobre o tema", disse o presidente, citando declarações que teriam sido feitas por autoridades da Casa Branca mais cedo.

Porém, uma porta-voz do representante comercial norte-americano ao ser questionada pela Reuters sobre os comentários do governo brasileiro não confirmou "qualquer decisão neste momento".

Um decreto presidencial é necessário para qualquer exclusão adicional de país, seja temporariamente ou no longo prazo, algo que ainda não foi assinado por Trump.

Durante reunião nesta quarta-feira de uma importante comissão do Congresso dos Estados Unidos, o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, reconheceu que a situação do Brasil, como grande fornecedor de produtos siderúrgicos intermediários ao país, é "única e sabemos que temos que levar em consideração" os pleitos brasileiros.

Na avaliação de fontes do lado brasileiro ouvidas pela Reuters, o que houve foi "um ruído" na comunicação.

"As informações que existem hoje é que as taxas passarão a ser aplicadas a partir de sexta-feira e as negociações (para isenção do Brasil) começarão em breve", disse uma das fontes.

As ações do setor siderúrgico avançaram nesta quarta-feira. A CSN, que exporta parte de sua produção aos EUA, liderou o movimento, fechando em alta de 5,46 por cento. Usiminas teve ganho de 2,5 por cento e Gerdau, que tem instalações produtivas nos EUA, avançou 1,5 por cento.

De acordo com as fontes ouvidas pela Reuters, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, recebeu a informação sobre a fala de Lighthizer do embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, e repassou a Temer em um bilhete durante a reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Em algum momento, alguém inferiu que a taxação estaria suspensa durante as negociações mas, de acordo as fontes, essa garantia não existe.

"As negociações nem iniciaram ainda. É possível que com o decorrer das negociações as taxas possam ser suspensas, mas não sabemos ainda", disse uma das fontes.

Consultada, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República reiterou, por telefone, que Temer baseou sua fala nos comentários de Lighthizer e que recebeu informações repassadas pelo Itamaraty. Ao tratar da não aplicação de taxas, Temer estaria falando do futuro, justificou a Secom.

Os EUA já concederam isenções para o Canadá e o México das tarifas de 25 por cento sobre aço e de 10 por cento sobre alumínio que foram impostas por Trump no início deste mês.

O Brasil exportou para os Estados Unidos em 2017 cerca de 5 milhões de toneladas de aço, segundo maior fornecedor do país depois do Canadá, das quais aproximadamente 4 milhões de toneladas corresponderam a produtos semiacabados, que precisam ser laminados em usinas locais antes de serem utilizados em produtos finais como carros e eletrodomésticos.

Em nota divulgada no fim do dia, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, afirmou que o governo brasileiro "tem feito diversas gestões com os EUA" sobre as tarifas de aço e alumínio e que o ministro Marcos Jorge "espera um desfecho positivo, no qual o Brasil não seja indevidamente atingido por restrições comerciais".

(Reportagem adicional de Marcela Ayres e Leonardo Goy, em Brasília)