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Pedro Parente deixa presidência da Petrobras e aumenta incertezas sobre futuro da estatal

01/06/2018 15h00

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - O presidente-executivo da Petrobras Pedro Parente pediu demissão do cargo nesta sexta-feira, em caráter irrevogável, em meio a discussões sobre a mudança da política de preços da estatal.

A Petrobras afirmou que vai discutir nesta sexta-feira a indicação de um presidente interino, e que o restante da diretoria da estatal permanece no cargo.

O anúncio da saída de Parente, que contava com amplo apoio do mercado, levou as ações da estatal a despencaram na bolsa paulista.

Veja comentários agentes do setor e do mercado sobre a saída de Parente:

HELDER QUEIROZ, EX-DIRETOR DA AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO

"Já era esperado...A política de preços que ele estava levando em frente... tinha muitos acertos, tinha muitos equívocos também, principalmente nessa parte final. E aí teve uma interferência grande do governo.

"Agora isso aborta o processo de reestruturação financeira, abala também a credibilidade frente aos mercados. Então vamos ver o que vai acontecer e ver quem vai assumir agora. Ele (Parente) certamente estava ali desconfortável com a intervenção.

"A passagem para o reajuste diário para mim foi um grande equívoco. Não se revelou sustentável a partir daquela semana... quando o preço (do barril) subiu a 80 dólares/ barril e o câmbio se desvalorizou... Faltou ali até sensibilidade política com relação a como o mercado e os consumidores se posicionam e se organizam."

ROBERTO CASTELO BRANCO, EX-CONSELHEIRO DA PETROBRAS

"O bode expiatório de toda esta confusão foi a política que ele implantou, as pressões eram enormes em cima dele. O governo populista, enfraquecido politicamente num ano eleitoral deve ter pedido coisas a ele que como profissional ele sem dúvida nenhuma se recusava fazer.

"Para a empresa, para o Brasil, abre-se uma fonte de incerteza muito perigosa. Nós voltamos agora a 2014 quando a direção foi de mais estado na economia, mais intervenção nos mercados."

NEWTON ROSA, ECONOMISTA-CHEFE DA SULAMÉRICA INVESTIMENTOS

"Foi o último prego no caixão do governo Temer, porque simboliza o fim da esperança depositada no primeiro ano do governo e a Petrobras era o símbolo de um novo processo de gestão, com foco em reformas estruturais que o país precisa.

"A mudança da Petrobras contribuiu para um choque de confiança, agora estamos no caminho inverso. E isso vai aparecer em maior prêmio do risco-país, câmbio pressionado, atividade fraca... a única coisa boa é que a inflação está controlada. Jogaram fora a água da banheira com o bebê dentro e volta ao que era antes, com uma política de preços ditada mais pelos interesses políticos que efetivamente na empresa em si"

ROBERT LUTTS, PRESIDENTE E CEO DA CABOT WEALTH MANAGEMENT

"Há uma completa falta de confiança na administração da empresa... os investidores estão correndo em outras direções o mais rápido que podem, e o tamanho da margem de manobra que as pessoas dão para os times de administração é muito pequeno hoje.

Eles não querem pegar o risco. Eventualmente, as pessoas que avaliam o valor vão entrar. O fator confiança é muito duro. É o maior problema, e é uma questão regional: não é apenas essa companhia individualmente.

A empresa tem algum trabalho a fazer - muito trabalho - para reparar a confiança entre os acionistas. Quando você chega a uma situação como essa, tudo é suspeito, e acho que eles precisam passar por uma imensa fase de reconstrução. É um ativo nacional que em algum momento foi a jóia da coroa do país. O que é hoje? A visão das pessoas é mais de um ativo político que um ativo de recursos, o que é problemático porque qual é o valor disso?"

JOSÉ FRANCISCO DE LIMA GONÇALVES, ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO FATOR

"Querer mudar a natureza política das estatais, apenas com mudança do governo, é um devaneio. É uma confirmação de que não é assim que muda o país, precisa ter discussão em campanha, compromissos.

"(A mudança na Petrobras) não contamina tanto ações de outras estatais , porque já havia essa visão de que aquela história da ponte para o futuro não pegou; o destaque é a percepção de que não há mais grandes expectativas sobre nada. Como efeito indireto, o mau humor vai dar uma piorada."

EDMAR ALMEIDA, PESQUISADOR, GRUPO DE ECONOMIA E ENERGIA DA UFRJ

"É um desastre para a empresa. O Parente era um fiador de uma estratégia. Então a leitura do mercado é que toda a estratégia desmoronou. A empresa estava em um momento muito importante, de realizações, da implementação de um plano estratégico, a percepção que havia com relação a empresa é que agora ela se recuperaria, então na medida que sai o Parente, as expectativas desabam e vai ser difícil manter a estratégia.

"Na minha opinião, apesar de que estava se recuperando, a situação financeira da empresa ainda era frágil. A questão da divida é muito alta, os títulos do mercado internacional vão desabar. Então, nós colocamos a maior empresa do país no olho do furacão em uma semana... jogamos por terra a recuperação,

"Acredito que só após as eleições, com o novo governo, com uma nova visão para a empresa, é que a gente vai ver quais são as verdadeiras consequencias disso. As consequencias são terríveis no curto prazo e vamos ver o que vai acontecer no longo prazo"

"Politicamente Pedro Parente atravessou uma linha vermelha. Eu acho que havia um consenso de que a direção era certa... É fácil dizer após, vendo o que aconteceu, que faltou sensibilidade do governo e da Petrobras em relação à política de preços, no alinhamento diário. O governo errou porque não reduziu os impostos a tempo e a Petrobras não teve sensibilidade em relação aos impactos diários".

“A empresa estava negociando ativos muito valiosos, em fase final de negociação. Certamente isso dificulta. Agora isso coloca em causa tudo, vai haver uma pressão política para que a empresa fique parada, não realize mais nada, até a eleição.”

CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTES

"Parente foi o maior responsável pela crise que o Brasil enfrentou com a greve dos caminhoneiros. Nada justifica os preços abusivos do diesel praticados pela empresa nos últimos meses.

Além disso, a Petrobras é autossuficiente em petróleo, portanto, não há justificativa para a dolarização de preços que vem prejudicando duramente o setor de transporte e a economia nacional, justamente neste momento em que o Brasil vem se esforçando para voltar a crescer e gerar empregos."

(Por Marta Nogueira, Alexandra Alper e Iuri Dantas)