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ENTREVISTA-Nova geração de turbinas mantém eólicas com preço baixo no Brasil, diz EDF

06/09/2018 14h59

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A aposta de investidores de energia eólica em equipamentos maiores e mais avançados ajudou a manter baixos os preços de usinas da fonte em um leilão para novos projetos de geração realizado pelo governo brasileiro na semana passada, em uma dinâmica que deve se repetir nos próximos anos, disse à Reuters o presidente da EDF Renewables no Brasil.

A companhia da francesa EDF viabilizou cerca de 276 megawatts em eólicas na licitação, em que foi um dos destaques, o que levou o portfólio da elétrica em renováveis no Brasil à marca de 1 gigawatt em capacidade, dos quais cerca de 600 megawatts são empreendimentos eólicos e solares já em operação.

"Essa marca de 1 gigawatt no Brasil é um fato importante para a gente, e esse leilão permitiu que alcançássemos essa meta... a expectativa no Brasil é muito boa no médio e no longo prazo", afirmou Paulo Abranches.

A EDF já investiu 3 bilhões de reais em renováveis no país e está preparada para colocar mais cerca de 6 bilhões de reais nos próximos quatro ou cinco anos, segundo Abranches.

Ele disse que os negócios dependerão das oportunidades no mercado, mas ressaltou que a companhia está preparada para a continuidade de um cenário de preços pressionado nas licitações do governo para projetos de geração.

"Essa dinâmica de preços baixos a gente está vendo em todas as partes do mundo, não só no Brasil. Em qualquer que seja a região, tanto as solares quanto as eólicas estão cada vez mais competitivas, a tecnologia está evoluindo bastante. E a dinâmica dos leilões também está criando muita competição", afirmou.

No chamado leilão A-6, na última sexta-feira, o governo contratou 2,1 gigawatts em novos projetos, sendo 1,25 gigawatt em eólicas. Os projetos vencedores assinam contratos para a venda da produção futura a distribuidoras de energia por prazos de 20 a 30 anos.

A forte concorrência entre empresas pelos contratos levou o preço médio de contratação das usinas eólicas a 90,45 reais por megawatt-hora, cerca de 60 por cento abaixo do teto estabelecido para a fonte.

O valor ficou abaixo do menor valor registrado para as eólicas no leilão A-6 do ano passado, de 97 reais, e algumas usinas, da desenvolvedora Casa dos Ventos, chegaram a negociar energia a 79 reais.

"Há novas turbinas que estão chegando ao mercado com um custo de energia muito competitivo. São 'n' fatores. A gente não vê os preços voltarem ao que eram antes em um horizonte de tempo de curto, médio prazo, nos próximos um ou dois anos", disse o executivo.

Fornecedores como Nordex Acciona e GE passaram a oferecer mais recentemente a investidores no Brasil turbinas eólicas com capacidades de entre 3,4 megawatts e 4,8 megawatts, contra máquinas de entre 1,5 megawatt e 3 megawatts que dominaram o mercado do país nos últimos anos.

Segundo o presidente da EDF, além da tecnologia, uma demanda ainda baixa por energia no Brasil devido à desaceleração da economia e um grande interesse dos investidores por renováveis no Brasil também devem ajudar a pressionar as cotações.

Ainda assim, ele disse que o retorno dos empreendimentos da EDF "está compatível" com os padrões do grupo, até devido à estratégia adotada na companhia pelo leilão para ampliar a rentabilidade.

ESTRATÉGIAS

A estratégia da EDF para a licitação envolveu a venda de uma fatia da produção de seus empreendimentos no chamado mercado livre de eletricidade, onde grandes clientes como indústrias podem negociar contratos de energia diretamente com geradores e é possível obter preços maiores.

Essa movimento já havia sido feito pela EDF em um leilão A-4 em abril, quando a empresa conseguiu viabilizar um parque eólico a preços de 67,60 reais por megawatt-hora, um recorde no Brasil.

"No leilão de abril a gente já optou por isso, e nesse leilão a gente continuou com essa estratégia. É um mix de antecipação (da conclusão das usinas) com mercado livre, e os outros 'players' também fizeram igual", explicou.

Ele não quis comentar, no entanto, em quanto tempo será possível adiantar a entrega das usinas, o que permite a venda da energia extra gerada no mercado livre.

Abranches também não detalhou as negociações da empresa com fabricantes de turbinas. Ele disse que a EDF tem pré-contrato com um fornecedor, sem revelar um nome, mas adiantou que as conversas envolvem grandes máquinas, com maior capacidade.