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Decisiva, reta final da campanha tem crescente apelo por voto útil e radar nas pesquisas

02/10/2018 15h54

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - O país chega à reta final da campanha para o primeiro turno das eleições, quando parcela considerável da população define em quem votar, e, em meio a crescentes apelos pelo voto útil, as pesquisas serão acompanhadas de perto.

O cientista político e coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisa sobre a democracia (Cebradi), Geraldo Tadeu Monteiro, explica que é usual parte do eleitorado deixar sua decisão de voto para a última hora, e diante do disputado quadro eleitoral, o voto útil terá seu peso.

"A gente sabe que quantitativamente cerca de 23 por cento das pessoas decidem o seu voto na última semana. Sendo que 15 por cento, no final de semana, ou seja, no sábado ou no domingo. Isso é tradicional", disse Monteiro à Reuters.

"Então neste ano, como é uma disputa mais acirrada, você não tem nenhum candidato sobrando com um número muito grande de votos, a expectativa é que o voto útil seja decisivo, sim", argumentou.

Soma-se a esse dado informação divulgada na última quarta-feira pela pesquisa CNI/Ibope, segundo a qual 28 por cento --cerca de três em cada 10 eleitores-- admitiram que mudariam seu voto para evitar que um candidato indesejado saia vitorioso.

Além disso, a sondagem apontou que os eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) e de Fernando Haddad (PT) são os mais decididos --55 por cento dos entrevistados que declararam voto em Bolsonaro classificam sua decisão como definitiva, sem chance de mudança, enquanto entre os que declaram voto em Haddad, a parcela dos que não mudarão "de jeito nenhum" seu voto é de 49 por cento.

Já pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira aponta que 66 por cento dos entrevistados se declararam totalmente decididos sobre sua escolha. Resta saber como se comportará a parcela restante.

"Quando a gente faz a análise da estrutura de voto de cada candidato a gente vê que com exceção dos dois candidatos que estão na frente das pesquisas, o Bolsonaro e o Haddad, todos os demais candidatos têm o voto ainda pouco consolidado", disse o cientista político.

VOTE EM MIM

Não à toa, campanhas investem seus últimos esforços no voto útil. Bolsonaro tenta canalizar o voto antipetista, colocando-se como a única candidatura competitiva capaz de impedir um novo governo do Partido dos Trabalhadores. O discurso, aliás, pede o voto do eleitor anti-PT de forma a liquidar a disputa ainda no primeiro turno.

A campanha do tucano Geraldo Alckmin já havia começado a modular sua estratégia para o voto útil desde o atentado a faca contra Bolsonaro, relata o cientista política Creomar de Souza, da Universidade Católica de Brasília, tentando colar em si a imagem do candidato com chances efetivas de derrotar o PT.

Essa estratégia foi reforçada nos últimos programas e inserções no rádio e na TV.

Haddad, por sua vez, encarna a antítese do candidato do PSL, e pode faturar em cima do movimento anti-Bolsonaro, já que figura como o segundo colocado nas pesquisas.

"Surgiu essa narrativa de construir essa ideia do voto útil: O voto antipetista ou o voto antibolsonarista", explicou Souza.

"O voto tem um componente emocional e um componente racional. O componente emocional te diz que você vai votar em alguém preferencialmente, ou não vai votar em alguém de jeito nenhum, e tem o componente racional, que você passa a fazer cálculos, acho que a discussão do voto útil começou a explodir a partir daí."

Para o cientista político, o movimento trouxe em sua esteira uma outra construção, levando o candidato do PDT, Ciro Gomes, a se apresentar como aquele com mais chances de derrotar Bolsonaro em um segundo turno, com a vantagem de poder se esquivar da rejeição que tem o PT como alvo. Também mobilizou a candidata da Rede, Marina Silva, a pedir que os eleitores não levem em conta os institutos de pesquisa para definir seu voto.

"Se o Brasil continuar dividido, a crise só vai aumentar. Tá na hora de unir o país. As pesquisas mostram que ganho com folga tanto do Bolsonaro quanto do PT no segundo turno. Pra chegar lá, preciso do seu voto já no próximo domingo. Não vote contra ninguém. Vote a favor do Brasil", disse Ciro nesta segunda-feira no Twitter.

"Toda eleição as pessoas tentam decidir o futuro do Brasil com base nas pesquisas. Os grupos que se alimentam da polarização não querem que a população mude de verdade, então eles querem que o povo desista do seu voto e se oriente única e exclusivamente pelas pesquisas", afirmou Marina em meados de setembro, quando começou a desidratar nas sondagens.

Souza lembra ainda que prevalece a percepção, no eleitorado brasileiro, de que quem ganha no primeiro turno não sofre uma virada no segundo turno, aliada à ideia de que seria um "desperdício" votar em um candidato sem chances de ir à segunda rodada da disputa. Os dois argumentos fortalecem, na sua opinião, a tendência de voto útil.

De acordo com o doutor em Direito pela Universidade de São Paulo e especialista em marketing político e propaganda eleitoral também pela USP Daniel Falcão, o voto útil normalmente ganha força nos últimos momentos antes das eleições. E, nesse contexto, as pesquisas eleitorais podem interferir na decisão do voto.

"Eu não vou dizer que esse é o papel (da pesquisa), mas que ela acaba fazendo isso, ela faz. Que ela acaba influenciando , não há dúvida. Não podemos dizer qual o tamanho dessa influência, mas claro que os candidatos estão apostando nisso, isso é notório", afirmou.

Os dois principais institutos prometeram a divulgação de três pesquisas até a eleição. O Ibope começou com a liberação de uma sondagem na noite de segunda-feira, e terá ainda uma na quarta e outra sábado. O Datafolha divulga um levantamentos nesta terça, depois quinta-feira e também sábado.