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Apesar de comentários machistas, Bolsonaro ganha apoio de eleitoras

04/10/2018 18h37

Por Gabriel Stargardter e Anthony Boadle

RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - Luzia Amaral deu uma boa e demorada olhada nos candidatos à Presidência do Brasil e finalmente se decidiu pelo candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, enxergando nele a única opção para evitar o retorno do PT na eleição desta semana.

Luzia é parte de um crescente número de mulheres que, segundo pesquisas de opinião, se voltaram recentemente a Bolsonaro, um candidato polarizador cujos comentários desprezando estupros e defendendo salários menores para mulheres têm levado eleitoras a manter distância.

Se a tendência permanecer, algumas das mulheres que anteriormente hesitavam em relação ao capitão da reserva do Exército poderão ajudá-lo a chegar à Presidência, talvez até a uma vitória no primeiro turno neste domingo, dizem analistas e pesquisadores.

A perspectiva anima investidores que temem um retorno da política econômica do PT, mas apavoram críticos de Bolsonaro, que dizem que sua visão ecoa aquela do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ou até do presidente linha-dura filipino, Rodrigo Duterte.

Luzia disse que não está empolgada com a promessa de Bolsonaro de afrouxar a legislação de armas de fogo e não gosta de suas declarações homofóbicas, mas que está disposta a olhar além desses pontos se Bolsonaro for capaz de vencer o candidato petista, Fernando Haddad.

"Meu voto, na verdade, é um voto de protesto ", disse Luzia, uma aposentada de 64 anos que vive no centro do Rio de Janeiro. "Na atual conjuntura, nós não temos no quadro dos candidatos que se apresentam, nenhum candidato que seria do meu gosto para governar o país."

Depois de governar o Brasil por 13 dos últimos 15 anos, o PT é culpado por muitos pela forte recessão, crescente violência e corrupção.

Uma pesquisa Datafolha de terça-feira mostrou Bolsonaro ampliando sua liderança sobre o segundo colocado Haddad, e indicou que o candidato poderá vencer um esperado segundo turno que acontecerá em 28 de outubro se ninguém alcançar maioria no próximo domingo.

Os sinais de que Bolsonaro está ganhando força levaram o principal índice acionário brasileiro para perto de uma máxima de cinco meses e a moeda brasileira para o patamar mais forte em quase dois meses na quarta-feira.

"(As pesquisas estão) trazendo euforia ao mercado... que já está começando a precificar a possibilidade de uma vitória (de Bolsonaro) no primeiro turno", disse a estrategista de câmbio Fernanda Consorte, do banco Ourinvest.

CRESCENTE APOIO FEMININO

O apoio de Bolsonaro entre as mulheres cresceu cerca de 6 pontos percentuais só na última semana, indicaram as pesquisas.

Isso é ainda mais surpreendente dado que ocorre poucos dias após sua candidatura desencadear o maior movimento de mulheres nas ruas que o Brasil já viu em décadas.

Longe de travar Bolsonaro, que ficou hospitalizado durante quase todo o mês de setembro após ser esfaqueado durante um ato de campanha, os protestos parecem tê-lo ajudado, particularmente entre algumas mulheres que viram as jovens e progressivas manifestantes como apoiadoras do PT.

Luzinete da Silva, uma advogada de 55 anos do Rio de Janeiro que recentemente decidiu votar em Bolsonaro, disse que as mulheres que participaram das marchas estavam "mal informadas".

"Acho que são mulheres que não são bem informadas, não estão vendo, lendo sobre as propostas dele (Bolsonaro), comparando, analisando o país como um todo", disse ela.

Ninguém vence uma eleição presidencial no Brasil no primeiro turno desde 1998.

Mas ondas repentinas de última hora de sentimento antipetista impactaram recentes eleições locais, como a vitória de João Doria (PSDB) no primeiro turno na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2016, curiosamente contra o atual candidato presidencial petista, Haddad.

As chances de Bolsonaro ganhar no domingo serão impulsionadas se houver alta abstenção e se muitos eleitores votarem em branco ou nulo, disse Leonardo Barreto, da consultoria política Factual, baseada em Brasília.

Para ele, se os movimenntos detectados nas pesquisas Ibope e Datafolha de segunda e terça-feira continuarem, o voto útil pró-Bolsonaro pode levar a "uma última onda" nesta eleição.

Barreto chegou a dizer que se Bolsonaro alcançasse 34 por cento na pesquisa Ibope de quarta-feira, poderia ser um prenúncio para uma vitória no primeiro turno, observando que a campanha do deputado acredita que o presidenciável está entre 5 e 6 pontos percentuais de se eleito já no domingo.

A sondagem do Ibope divulgada na noite de quarta, no entanto, mostrou Bolsonaro com 32 por cento.

(Reportagem adicional de Claudia Violante, em São Paulo)