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PERFIL-Articulador hábil, Alckmin vislumbra novo fracasso ao tentar Planalto pela 2ª vez

05/10/2018 18h20

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - Político de estilo "mineiro", muitas vezes desconfiado e com grande habilidade de articulação política nos bastidores, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, enfrenta o risco concreto de um fracasso eleitoral para seu partido, que desde 1994 chega pelo menos ao segundo turno da disputa presidencial.

Reservado no plano pessoal e com gostos e costumes que levaram críticos a taxá-lo desde "picolé de chuchu" até a "meio jeca", Alckmin buscou durante a campanha colocar-se como um moderado representante do centro, contra os radicalismos, mas apesar de dispor de grande estrutura de campanha --ampla coligação e o maior tempo de TV--, não conseguiu, a menos até agora, fazer frente à polarização política.

Natural de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, ondeiniciou sua carreira política, Alckmin, que está com 65 anos,tem vários traços do estereótipo do cidadão do interior. Gostade comidas simples, é contador de histórias, ao mesmo tempo quetambém é prudente e calculista na hora de agir.

"Ele tem um estilo muito mineiro. Estilo 'a vingança é umprato que se come frio'", disse à Reuters o deputado federalFloriano Pesaro (PSDB-SP), que foi secretário estadual deDesenvolvimento Social de Alckmin em um dos mandatos do tucanono governo de São Paulo.

"Eu considero ele um político desconfiado, ele tem poucosamigos", acrescentou Pesaro, que elogia o ex-chefe como umgestor preocupado com resultados e que cobra muito isso de seusauxiliares.

Em solo paulista, comandou o maior Estado do Brasil por quatro vezes, embora não tenha tido sucesso em suas duas tentativas de tornar-se prefeito da capital. Em suaprimeira tentativa de voo nacional, em 2006, fracassou e foiderrotado por Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial.

Naquela ocasião, depois de conseguir levar a disputa para osegundo turno, tentou mudar o estilo, adotando tom maisagressivo contra o petista, e colheu como resultado algo raro:depois de conseguir quase 40 milhões de votos no primeiro turno,viu uma redução de apoio na segunda rodada, quando somou 37,5milhões de votos.

Começou a trilhar o caminho para disputar mais uma vez oPalácio do Planalto há dois anos, quando contrariou caciquestucanos no Estado e patrocinou pessoalmente a candidatura deJoão Doria à prefeitura paulistana pelo PSDB.

Com a vitória do afilhado ainda em primeiro turno --algo quejamais havia acontecido na cidade desde a possibilidade de duasrodadas de votações--, Alckmin credenciou-se como principal nometucano para a disputa presidencial.

Teve de lidar com movimentos do próprio Doria,recém-empossado no Edifício Matarazzo, em direção a uma eventualcandidatura presidencial, que acabou não se concretizando. Doriadeixou a prefeitura menos de um ano e meio após assumir paradisputar o governo paulista.

O PSDB também enfrentou problemas internos, com oentão presidente da legenda, o senador Aécio Neves (MG),envolvido em escândalos. Com a saída do mineiro da presidênciada sigla, o partido passou a viver a expectativa de uma disputainterna pelo seu comando.

Alckmin apareceu como solução, defendida pelo ex-presidenteFernando Henrique Cardoso, mas inicialmente tratou apossibilidade com reticências.

"Ele achava que não era importante presidir o partido. Oimportante era fazer a campanha. Depois nós mostramos para eleque era importante ter a direção da máquina partidária, porquese não você corre o risco de não ter o partido alinhado, e eleaceitou essa argumentação", disse Pesaro.

Alckmin assumiu o PSDB no final de 2017 e, a partir dali, jáera o candidato virtual do partido à Presidência na eleição deoutubro deste ano.

"MEIO JECA"

A postulação do então governador paulista, no entanto, nãoera consenso no partido. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio,anunciou a intenção de disputar prévias contra o correligionáriopaulista, que não se opôs, ao menos publicamente. Mas aspropostas de Virgílio para a realização de debates e modelo deprévias não prosperaram e, ao retirar seu nome, o prefeitodisparou contra Alckmin.

"É um dos homens públicos mais banais --no mau sentido--, cheio de golpezinhos, cheio de historinhas, de pequenasespertezas", disse Virgílio à Reuters em fevereiro, quandoretirou seu nome para disputar a indicação tucana ao Planalto.

"Ele acha que por exclusão ele virou candidato, por exclusãoele vai para o segundo turno e por exclusão ele vira presidente.Tudo por exclusão, nada por afirmação", disse.

À época, Alckmin respondeu afirmando que Virgílio estavasendo injusto com ele e com o partido e, reservadamente, ficouchateado com as críticas. Já durante a campanha eleitoral, o prefeito de Manaus anunciou apoio à candidata da Rede, Marina Silva.

"Ele achou que o Arthur foi desleal com ele. Mas o Geraldonão é de guardar rancor. Ele é de deixar as coisas passarem e,se tiver que dar o troco, ele vai dar na hora certa. Mas ele nãoé rancoroso, é diferente", disse Pesaro.

Alckmin concordou apenas com uma das críticas feitas peloprefeito de Manaus, a de que é "meio jeca".

O ex-governador gosta de contar histórias, a esmagadoramaioria delas de Pindamonhangaba. Os relatos vão desde "causos"políticos da cidade até anedotas do cotidiano.

Alckmin, que aponta seu pai Geraldo como seu grande ídolo,lembra frequentemente de um dos ensinamentos do patriarca: quemenriqueceu na política é ladrão.

Embora jamais tenha sido atingido em cheio por escândalos decorrupção, teve de conviver com episódios como o cartel nasobras do metrô paulista, irregularidades na aquisição de merendapara escolas estaduais, uma suposta menção a seu nome --com ocodinome "Santo"-- na lista de propinas da Odebrecht e a citaçãode um delator da empreiteira a seu cunhado como destinatário derecursos que seriam usados em suas campanhas eleitorais em 2010e 2014.

Alckmin, que é foi denunciado por suposta improbidadeadministrativa no caso em que delatores ligados à Odebrechtapontaram o tucano como beneficiário de 10 milhões de reais emcaixa dois eleitoral, nega quaisquer irregularidades e aliadosdizem que a citação em possíveis irregularidades incomoda otucano.

CAFEZINHO E CHOCOLATE

O estilo simples já fez com que aliados de Alckmin chamassemsua atenção para o fato de estar usando roupas excessivamentegastas. Amante de cafezinhos, o tucano é capaz de tomar váriosao longo do dia, provocando azia em aliados que o acompanham emviagens. Gosta também de chocolates e, presenteado com marcascaras do produto, pode surpreender o autor do presente com umagaveta cheia de bombons nacionais, seus favoritos.

"Ele sempre teve o perfil de uma vida modesta. A vida dele éo trabalho e a família. Ele trabalha de sábado, domingo,feriado. É até demais", disse o deputado federal Silvio Torres(PSDB-SP), nome próximo ao ex-governador.

Religioso, Alckmin também vai à missa todos os domingos, àsvezes mais de uma vez. Torcedor do Santos, cita o clube docoração em eventos públicos, mas está longe de ser o maisfanático dos fãs do clube.

Com medo de avião e de helicóptero --mesmo antes de perder ofilho caçula, Thomaz, em um acidente com uma aeronave deste tipoem 2015-- prefere viajar de carro, sempre que possível e, setiver que voar, opta por voos de carreira.

Médico anestesista de formação, Alckmin é casado há 39 anoscom Maria Lúcia Alckmin, a "Lu" a quem costuma fazer declaraçõespúblicas de amor. Teve com ela três filhos --além de Thomaz,Geraldo e Sophia.