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CSN negocia alta de 27,5% em preço de aço a montadoras, terá crédito fiscal bilionário

08/11/2018 16h27

SÃO PAULO (Reuters) - A CSN está negociando com montadoras de veículos aumento de 27,5 por cento nos preços de aço, em um reajuste a ser aplicado a partir do início de 2019, disse o diretor comercial da companhia, Luis Fernando Martinez, nesta quinta-feira.

Segundo o executivo, que falou durante teleconferência com analistas da CSN, os acordos de reajuste com as primeiras montadoras estão próximos de serem acertados. O executivo não citou nome de fabricantes de veículos, mas a CSN é uma importante fornecedora da General Motors no Brasil, montadora líder de vendas de automóveis e comerciais leves no país. Em 2017, a CSN acertou reajuste de 22 por cento com as montadoras, para vigência neste ano, disse o executivo.

Após a teleconferência, as ações da CSN atingiram o valor mais alto em oito meses, repercutindo, além do otimismo sobre o mercado de aço no Brasil, comentários do diretor de relações com investidores da companhia, Marcelo Cunha Ribeiro. Às 16:08, os papéis lideravam os ganhos do Ibovespa, avançando 1,93 por cento, a 10,01 reais.

O executivo afirmou que a CSN deve apurar no quarto trimestre ganhos decorrentes de decisões favoráveis da justiça contra a inclusão de ICMS na base de cálculo de PIS/Cofins, algo que tem acontecido com uma série de outras empresas, como a rede de varejo Marisa Lojas, que na véspera disse que pode reconhecer 780 milhões de reais em créditos relacionados à questão.

Em nota a clientes, analistas do Itaú BBA afirmaram que a CSN espera reconhecer um crédito fiscal de 1,4 bilhão de reais adicional no quarto trimestre de 2018 decorrente da ação de exclusão do ICMS da base da PIS/COFINS. "Um crédito fiscal de 2,1 bilhões de reais é muito significativo", afirmou a equipe do Itaú BBA, acrescentando que o montante responde por cerca de 15 por cento do valor de mercado da companhia.

CRÍTICAS AO MERCADO

Durante a teleconferência, o presidente-executivo da CSN, Benjamin Steinbruch, criticou analistas da empresa, afirmando que relatórios recentes sobre a companhia não compreenderam a situação do mercado de aço no país. Segundo ele, a CSN quer terminar 2018 com estoque de produtos siderúrgicos "próximo de zero", o que, aliado a uma situação de baixos estoques nos mercados consumidores, pode contribuir para um salto de preços da liga no Brasil no início do próximo ano, caso a recuperação da economia se sustente.

"Nossa perspectiva para o mercado e economia para o ano que vem é bastante grande...A perspectiva nossa é que mercado esteja desabastecido e com uma chance de recuperação muito grande para o primeiro trimestre", disse Steinbruch.

Na véspera, o presidente-executivo da rival Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou que a tendência para o mercado siderúrgico brasileiro em 2019 é positiva, com avanço gradual dos lançamentos imobiliários, retomada dos investimentos em óleo e gás e crescimento na indústria automotiva.

Em um aparente sinal da robustez do mercado interno, Steinbruch disse que a CSN já está com produção de aço vendida até o final do ano.

VENDA DE ATIVOS

No terceiro trimestre, a CSN reduziu sua produção em 12 por cento sobre um ano antes, consumindo estoque próprio para manter as vendas praticamente estáveis. No período, o Ebitda da companhia subiu 34 por cento.

Com o avanço dos resultados no terceiro trimestre, a CSN manteve meta de conseguir baixar seu nível de alavancagem para uma relação de dívida líquida sobre Ebitda ao redor de 3,5 vezes em 2019 ante 4,93 vezes ao final de setembro.

Neste front, a CSN deve anunciar em breve novas vendas de ativos fora do Brasil e, possivelmente, um acordo de investimento com interessados em sua operação de mineração, disse o diretor de relações com investidores da companhia, Marcelo Cunha Ribeiro, sem dar detalhes.

Em agosto, quando afirmou que a CSN esperava conseguir em 2018 cerca de 3 bilhões de dólares em desalavancagem, Steinbruch disse que estava negociando um acordo de venda antecipada de minério de ferro com investidores e que já tinha contratado banco para ajudar a empresa na operação.

"Já começamos a falar com investidores. Vai ser necessária uma primeira fase não vinculante. Até agora tudo aponta para uma execução viável. Se desenrola muito no curto prazo", disse Ribeiro nesta quinta-feira.

Sobre os ativos da CSN no exterior, que incluem fábricas de aço em Portugal e na Alemanha, o executivo disse que o processo de venda "está bastante adiantado, atraímos interesse de competidores estratégicos. Estamos em fase de diligência e saberemos o resultado nos próximos 45 dias. Esperamos dar notícias concretas até o final do ano".

No final de junho, a empresa concluiu venda de usina nos Estados Unidos por 400 milhões de dólares.

Questionado sobre expectativas de investimentos para 2019, Ribeiro afirmou que ainda é cedo para fazer estimativas, mas que o montante deverá ser "marginalmente maior que em 2018".

Parte substancial dos recursos deverá ser aplicado em parada para manutenção do principal alto forno da usina da empresa em Volta Redonda (RJ), o de número 3, que deverá ficar fora de operação durante dois meses a partir do final de julho. A CSN calcula que o montante a ser desembolsado na reforma será de cerca de 200 milhões de reais e que após os trabalhos a empresa poderá elevar sua produção anual de ferro gusa em 400 mil toneladas.

(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Paula Arend Laier)