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Tragédia de Brumadinho tem dezenas de mortos e centenas de desaparecidos

26/01/2019 19h59

Por Gram Slattery e Marta Nogueira

BRUMADINHO, Minhas Gerais/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O colapso de barragem de mineração da Vale em Brumadinho (MG) deixou dezenas de mortos e centenas de desaparecidos, em meio a poucas esperanças de encontrar muitos sobreviventes, enquanto a mineradora já começa a sentir os efeitos legais do desastre.

Até o fim da tarde de sábado, o Corpo de Bombeiros havia registrado 34 mortos, 81 desabrigados e 23 hospitalizados, depois que uma avalanche de lama atingiu comunidades e uma área administrativa da própria Vale, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte.

No início da noite, a Vale publicou uma lista de 253 funcionários, dentre próprios e terceirizados, que constavam como desaparecidos.

"Infelizmente, neste momento, as chances de encontrar sobreviventes são mínimas. Provavelmente estaremos apenas resgatando corpos", disse a jornalistas Romeu Zema, governador do Estado de Minas Gerais.

O número de mortos deve subir drasticamente, segundo Avimar de Melo Barcelos, prefeito da cidade de Brumadinho. A causa da ruptura não é conhecida.

Renato Simão de Oliveiras, de 32 anos, procurava em hospitais e com a polícia por seu irmão, que trabalhava para a Vale há seis anos, e estava desesperado com a falta de informação.

"Eu ouvi sobre isso quando estava no trabalho. Liguei para ele várias vezes, mas não consegui encontrá-lo", afirmou. "Estamos perdidos, não sabemos de nada."

O Estado ainda está se recuperando do colapso de novembro de 2015, de uma barragem maior, da mineradora Samarco --uma joint venture da Vale com a anglo-australiana BHP,--, que deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e atingiu o rio Doce, causando o maior desastre ambiental do país.

À Reuters, o procurador da República José Adércio Sampaio afirmou que o novo colapso pode mudar completamente o rumo das negociações no entorno de uma ação de 155 bilhões de reais movida contra a Samarco e suas donas (Vale e BHP), no âmbito de tragédia ocorrida há três anos.

Coordenador da força-tarefa do Rio Doce, criada pelo Ministério Público Federal para investigar o caso Samarco, Sampaio ponderou no entanto que ainda é preciso investigar as causas do novo desastre.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que é necessário mudar o protocolo de segurança de barragens no país e que o Ministério Público terá ação mais severa e firme na tragédia em Brumadinho após os aprendizados com o desastre em Mariana.

O presidente Jair Bolsonaro, que esteve em Brumadinho na manhã deste sábado, afirmou que o governo federal fará o que puder para ajudar e impedir que isso ocorra de novo. E disse que o governo pode liberar recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para ajuda na tragédia.

"Difícil ficar diante de todo esse cenário e não se emocionar. Faremos o que estiver ao nosso alcance para atender as vítimas, minimizar danos, apurar os fatos, cobrar justiça e prevenir novas tragédias como a de Mariana e Brumadinho, para o bem dos brasileiros e do meio ambiente", tuitou.

Também na rede social, o presidente afirmou que o governo de Israel ajudará o país na busca por desaparecidos.

MEDIDAS JUDICIAIS E MULTAS

A Vale sofreu bloqueios judiciais somando 6 bilhões de reais, teve parte de suas atividades suspensas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) e recebeu multas ambientais de mais de 300 milhões de reais, devido ao rompimento.

A agência reguladora em Minas Gerais decidiu interditar e suspender de imediato as atividades do Complexo Córrego do Feijão, até que haja o restabelecimento de todas as condições técnicas de segurança da operação, devidamente comprovadas junto à agência, segundo documento visto pela Reuters.

Dos recursos bloqueados da empresa, 5 bilhões de reais foram devido a uma ação movida pelo Ministério Público do Estado, com o objetivo garantir a adoção de medidas emergenciais e a reparação de danos ambientais decorrentes do rompimento da barragem.

Além disso, a Justiça estadual acatou pedido do Estado, com bloqueio de outro 1 bilhão de reais.

No caso das multas ambientais, o Ibama multou a empresa em 250 milhões de reais, enquanto a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), responsável pelo licenciamento ambiental da barragem, anunciou uma multa de 99 milhões de reais.

Em uma entrevista na noite de sexta-feira, o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afirmou que a barragem 1, que se rompeu, estava paralisada há três anos e estava sendo descomissionada. A estimativa é que havia cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro.

Schvartsman ressaltou que em 10 de janeiro havia sido feita a última leitura dos monitores e estava "tudo normal", além disso, disse que a estrutura tinha um atestado de estabilidade da empresa de auditoria externa alemã TUV SUD. O executivo frisou o tempo todo que a prioridade da empresa era o resgate das vítimas.

Procurada pela Reuters, a alemã confirmou ter inspecionado a barragem de rejeitos em setembro e ter concluído que ela estava operando bem.

A mina de Feijão é uma das quatro no complexo da Vale em Paraopeba, que inclui duas plantas de processamento e produziu 26 milhões de toneladas de minério de ferro em 2017, ou cerca de 7 por cento da produção total da Vale naquele ano, segundo informações no site da empresa.

(Reportagem adicional de Marcela Ayres, em Brasília, Ernest Scheyder, em Houston, e Christoph Steitz em Frankfurt)