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Elétrica CEB busca levantar R$500 mi em meio a discussões sobre privatização, diz CEO

10/06/2019 15h45

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A Companhia Energética de Brasília (CEB), controlada pelo governo do Distrito Federal, precisa levantar cerca de 500 milhões de reais para equacionar a situação financeira de seu braço de distribuição de eletricidade, a CEB-D, disse à Reuters o presidente de ambas as companhias, Edison Garcia.

Uma das hipóteses sobre a mesa atualmente para a obtenção dos recursos é a venda de uma participação majoritária na CEB-D, um ativo que especialistas avaliam que poderia atrair interesse de elétricas como a italiana Enel e a brasileira Energisa.

A possível privatização da CEB-D será discutida em assembleia agendada para 19 de junho, quando serão apresentados estudos internos da empresa também sobre outras alternativas possíveis para melhorar a situação financeira, acrescentou Garcia.

"Na assembleia, os acionistas devem indicar à administração da companhia que medidas querem que sejam adotadas para a superação desse problema... estamos trabalhando com a hipótese de captar 500 milhões de reais", afirmou Garcia.

Ele disse que, além da venda do controle da CEB-D, outras alternativas para amenizar a crise financeira da empresa poderiam envolver um aporte de capital pelo governo de Brasília ou a venda de ativos de geração da holding CEB.

A venda de negócios em geração, inclusive, chegou a ser proposta pela gestão anterior da CEB, sob o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), substituído neste ano por Ibaneis Rocha (MDB). Mas a convocação da assembleia do dia 19 aponta que a reunião deverá debater a revogação dessa decisão em prol da captação de recursos por meio de venda de fatia na CEB-D.

O governador Ibaneis Rocha já defendeu publicamente que a saída para a companhia deve envolver a venda de 51% da CEB-D, mas o CEO da elétrica não quis antecipar detalhes sobre a decisão que será tomada na assembleia.

"Essa foi a fala do governador (sobre venda do controle da CEB-D), mas estudos estão sendo desenvolvidos e a decisão vai se dar na assembleia. A companhia está levando alternativas... e o controlador, os acionistas, vão tomar a decisão", disse.

Segundo ele, a entrada de novos recursos na CEB-D é importante porque os passivos da companhia estão próximos de 1 bilhão de reais.

Desse valor, 537 milhões de reais decorrem de empréstimos, financiamentos e debêntures.

Mas a empresa ainda tem 59 milhões de reais em pagamentos em atraso pelo suprimento de energia e 108 milhões de reais em tributos a serem acertados em parcelas, além de dívidas também parceladas no mercado de curto prazo de energia (153 milhões de reais) e pela compra de energia de Itaipu (122,4 milhões).

Os ativos de geração da companhia, que envolvem participações minoritárias, principalmente, foram avaliados em cerca de 675 milhões de reais.

"A CEB-D tem um histórico de indicadores de qualidade positivos, que melhoraram nos últimos anos... entretanto, ela vive, eu diria que na última década, um processo de desequilíbrio econômico-financeiro que vem sendo suprido com aportes do controlador ou com desmobilização patrimonial", explicou Garcia.

"O endividamento nos acendeu um sinal de alerta, de que precisamos equacionar a situação", acrescentou.

INTERESSE

A decisão do governo de Brasília de apostar na venda do controle da CEB-D, se confirmada, vai se somar a planos de outros Estados para a privatização de ativos de energia.

Os novos governadores do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, Eduardo Leite e Romeu Zema, por exemplo, têm falado em vender as elétricas estatais CEEE e Cemig.

"Esse movimento da CEB vem dentro de um movimento maior que estamos vendo também em outros Estados", disse à Reuters o consultor João Carlos Mello, da Thymos Energia.

Ele avalia que a privatização da CEB-D deve gerar interesse no mercado, enquanto uma eventual venda dos ativos de geração da CEB poderia enfrentar dificuldade por serem participações minoritárias, vistas como menos atraentes por investidores.

A italiana Enel, que controla a distribuição de energia em Goiás após ter adquirido a estatal Celg-D junto à Eletrobras em leilão no final de 2016, poderia ser uma potencial compradora da CEB-D, assim como a Energisa, que tem distribuidoras próximas, em Minas Gerais, Tocantins e Mato Grosso, acrescentou Mello.

"É um ativo que deve atrair alguns interessados", disse o consultor Ricardo Lima, da Tempo Presente, que definiu a Enel como "interessado natural" no negócio.

"É um ativo interessante porque você tem ali uma renda média bastante interessante no setor residencial e tem um setor público desenvolvido. Frente a outros, os ativos estão relativamente novos (a rede elétrica)... e é uma área geográfica restrita, não tem um espalhamento geográfico muito grande, o que facilita em questões logísticas", analisou Lima.

Procurada, a Enel destacou que ainda não há um processo formal aberto para a desestatização da CEB-D e afirmou que "nunca comenta rumores de mercado e especulações". A Energisa não respondeu um pedido de comentário.

A CEB Distribuição atende cerca de 1 milhão de clientes no Distrito Federal, com uma área de concessão de 5.780 km², segundo o mais recente balanço da companhia. A distribuidora registrou prejuízo de 33,6 milhões de reais em 2018.

(Por Luciano Costa; edição de Roberto Samora)