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Campos Neto diz que juros não estão diretamente ligados a reformas, mas a efeitos sobre inflação

John Revill

02/07/2019 07h55Atualizada em 02/07/2019 09h30

ZURIQUE, 2 Jul (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou hoje que a trajetória dos juros não está diretamente ligada às reformas, e sim aos efeitos sobre a inflação, ao reforçar a percepção de que a retomada da recuperação econômica será gradual.

"Não queremos dizer que os juros estão diretamente ligados às reformas", disse Campos Neto durante evento em Zurique. "O importante é o que vai para o canal da inflação. Temos uma curva bastante achatada na inflação."

Ao manter a Selic em 6,5% em sua última reunião de política monetária, o BC ressalvou que, embora o balanço de riscos para a inflação tenha evoluído de maneira favorável, o risco relacionado à agenda de reformas é preponderante, o que pede manutenção do juro básico no atual patamar.

Para economistas, a sinalização dada é de que cortes de juros só ocorrerão após a aprovação da reforma da Previdência no plenário da Câmara dos Deputados.

Em sua apresentação no evento, divulgada pelo BC, Campos Neto reforçou a percepção de interrupção do processo de recuperação da economia, repetindo que o cenário da autoridade monetária é de retomada adiante de forma gradual.

"Dados recentes sobre a atividade econômica indicam interrupção no processo de recuperação econômica do Brasil nos últimos trimestres, mas nosso cenário básico é de retomada do processo de recuperação econômica à frente, de forma gradual", disse ele na apresentação.

Ainda assim, Campos Neto voltou a destacar os riscos para esse cenário, citando a necessidade de avanço nas reformas estruturais, em particular a da Previdência.

"Uma possível frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar o prêmio de risco e aumentar a inflação no horizonte relevante para a política monetária", disse.

"Embora o balanço de riscos tenha evoluído de forma favorável, o risco (das reformas) prevalece nesse momento", completou.

Ele afirmou ainda que a sustentabilidade fiscal é fundamental para reduzir incertezas, aumentar a confiança e o investimento e, consequentemente, alimentar crescimento econômico de longo prazo.

"O avanço de reformas estruturais, em particular a reforma da Previdência, é necessário", afirmou.

Campos Neto ainda ressalvou que a estimativa é de que reformas do setor bancário tenham o maior impacto sobre o crescimento da produtividade, e disse que o Brasil pode levantar mais dinheiro do que o esperado com a venda de ativos públicos.

"Precisamos reduzir o tamanho do Estado, vendendo ativos públicos", disse. "O retorno estimado ao Tesouro é maior do que o esperado... há muitas operações que estão acontecendo."

(Texto de Camila Moreira; edição de Maria Pia Palermo)