Mercado prevê mais troca de swap por reserva um dia após BC anunciar mudanças em atuação cambial
A primeira sessão após o Banco Central anunciar vendas de dólares das reservas foi marcada pela reação positiva dos mercados financeiros, com queda firme do dólar e ainda mais expressiva nas taxas de cupom cambial, num sinal de que analistas veem alívio em pressões de liquidez em meio à mudança na dinâmica dos fluxos no mercado local.
De forma geral, analistas esperam que o BC dê sequência nos próximos meses à troca de swaps por reservas, dado o novo "normal" na dinâmica do fluxo cambial no Brasil.
O dólar caía 1,24% hoje, abaixo de R$ 4, maior queda em um mês. No mercado de cupom cambial da B3 <0#FRC:>, as taxas dos principais contratos chegaram a recuar cerca de 20 pontos-base, com uma medida de inclinação se afastando de máxima recorde alcançada na véspera.
Na noite de quarta, o BC informou mudanças em seu modo de atuar no mercado de câmbio. Entre 21 e 29 de agosto, a autoridade monetária fará ofertas simultâneas de 550 milhões de dólares à vista e de igual montante em contratos de swap cambial reverso. Será a primeira vez desde fevereiro de 2009 que o BC fará venda direta de dólares das reservas cambiais.
A atuação simultânea visa trocar, por dólar à vista, um total de 3,8445 bilhões de dólares em swaps cambiais tradicionais que expiram em outubro e que ainda não foram rolados pelo BC.
Analistas consultados pela Reuters destacaram o caráter positivo do novo modelo de intervenção por mirar problemas decorrentes da nova "realidade" do mercado cambial brasileiro, marcado por persistentes saídas de recursos.
"Não é uma mudança estrutural, mas é um movimento muito pertinente e correto", disse Nuno Martins, chefe de estruturação e vendas de derivativos do BofA Merrill Lynch. "Basicamente o que ele está fazendo é reagir a uma mudança de funcionamento do mercado de câmbio que vem sendo observada há alguns meses", afirmou.
Esse novo "funcionamento" está ligado sobretudo à persistência das saídas de dólares nos últimos meses, num período tradicionalmente marcado por ingresso líquido de recursos.
No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o país teve déficit de 2,194 bilhões de dólares no fluxo cambial total (comercial mais financeiro), contra superávit de 29,184 bilhões de dólares no mesmo período do ano passado. Em 12 meses, o quadro é ainda mais dramático, com as saídas líquidas totalizando 31,633 bilhões de dólares --pior resultado em 20 anos.
Parte desse fluxo negativo decorre do aumento de pagamentos antecipados de dívida em moeda estrangeira por parte de empresas brasileiras. O saldo de títulos de dívida privada emitidos no país saltou cerca de 34% em 12 meses até junho. Já o estoque de papéis vendidos no exterior caiu na mesma proporção, mostraram dados do BC.
"Mas com o ajuste na curva de 'forward' de dólar, haverá mais estímulo, por exemplo, para exportadores venderem moeda estrangeira", afirmou Martins, do BofA.
Ele citou ainda que a diferença entre o estoque de swaps cambiais (cerca de 69 bilhões de dólares) e o de linhas de dólar com compromisso de recompra (em torno de 11 bilhões de dólares) pode aumentar apostas de que o BC faça venda líquida de dólar no mercado à vista, o que contribui para o firme alívio nas taxas de cupom cambial e também da cotação do dólar.
Memor posição vendida
Com a venda de dólares das reservas, a expectativa é que a elevada posição vendida em moeda à vista detida pelos bancos seja diminuída, reduzindo distorções, segundo o diretor de tesouraria do Banco MUFG Brasil, Anderson Godoi.
Os bancos encerraram julho com posições vendidas em dólar à vista num total de 27,739 bilhões de dólares, apenas um pouco abaixo da posição vendida de 30,867 bilhões de dólares de junho, a segunda maior da série histórica, atrás apenas dos 35,936 bilhões de dólares de setembro de 2016.
Elevadas posições vendidas em dólar spot por parte dos bancos indicam que as instituições tiveram de prover esses recursos às empresas devido à escassez de moeda. Para isso, as instituições tomam linhas externas ao custo da Libor e aplicam no cupom cambial doméstico.
"A curva de cupom cambial estava distorcida, com as taxas de curto prazo mais elevadas que as de prazos mais longos. Com a ação do BC, essa distorção deve ser amenizada", afirmou Godoi.
Nesta quinta, a taxa de cupom cambial de primeiro vencimento chegou a cair mais de 20 pontos-base, abaixo de 3%, depois de ter alcançado na véspera o maior patamar desde o fim de junho.
O Citi considerou que o impacto das mudanças na forma de atuação no câmbio será "neutro" no mercado à vista, mas a venda de dólar no mercado spot vai ajudar a aliviar o cupom cambial, tornando "ligeiramente mais atrativo" o "carry" com a moeda brasileira.
Troca por reservas
Para Godoi, ainda é cedo para saber o que o BC poderá fazer depois de fazer a migração para dólar à vista dos swaps cambiais que ainda restam do vencimento outubro, mas a maior probabilidade é que o BC "não pare por aí".
Os vencimentos de swaps previstos para novembro de 2019, dezembro de 2019 e janeiro de 2020 somam cada um cerca de 11 bilhões de dólares.
Para Nuno, do BofA, "não há nada no radar" que indique expectativa de mudança na dinâmica do fluxo cambial. "Precisaria equalizar cerca de 30 bilhões de dólares de fluxo negativo dos últimos 12 meses. Por isso, acho bem razoável esperar que o BC continue seguindo essa estratégia nos próximos meses."
O que dá respaldo ao novo modelo de intervenção do BC é o conceito de posição cambial líquida --basicamente reservas internacionais descontado o estoque de swaps. Atualmente, essa posição está em torno de 326 bilhões de dólares, considerada "sólida" pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.
A discussão sobre o nível ótimo de reservas, contudo, ainda não parece "oportuna", segundo o economista Márcio Garcia, professor da PUC-Rio e estudioso de políticas monetária e cambial.
"O mundo está pegando fogo e você vai discutir abrir mão desse seguro? Não acho que é o caso e nem acho que é a discussão corrente no BC neste momento", afirmou Garcia. "Não vejo essa discussão ficando oportuna logo."
Mas a venda de reservas ajuda na redução da dívida bruta do governo, algo admitido pelo próprio Banco Central. O autarquia ressalvou, contudo, a "atuação do BC no mercado de câmbio visa a promoção do regular funcionamento do mercado local de câmbio", disse o BC à Reuters, via assessoria de imprensa.
(Reportagem adicional de Marcela Ayres, em Brasília)
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