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Bolsonaro nega ter acusado ONGs por queimadas, mas insiste que são suspeitas

22/08/2019 11h59

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro demonstrou irritação nesta quinta-feira com a cobertura feita pela imprensa sobre as declarações que fez na véspera sobre possível envolvimento de organizações não-governamentais nas queimadas na Amazônia e negou ter acusado as ONGs, mas insistiu que "a maior suspeita" vem delas.

Logo ao chegar para falar com jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, algo que tem feito praticamente todos os dias, o presidente disse que falaria primeiro, antes dos repórteres começarem a fazer perguntas, e reclamou da forma que sua declaração da véspera, também na saída do Alvorada, foi noticiada.

"Vocês que me entrevistaram ontem, vocês viram o que está nos jornais hoje? Não é culpa de vocês, passa pelo crivo do editor. Em nenhum momento eu acusei as ONGs. Suspeita", disse.

"É inacreditável o que a imprensa brasileira faz no Brasil... O Brasil vai chegar à situação que está a Venezuela, é isso que a grande imprensa brasileira, grande parte da imprensa, quer, e fica o tempo todo de picuinha", disparou.

Apesar de ter afirmado que não acusou diretamente as ONGs pelas queimadas florestais, o presidente voltou a dizer que essas entidades perderam recursos com as decisões dos governos da Alemanha e da Noruega de não mais repassarem verbas ao Brasil para preservação da floresta e disse que as ONGs buscam derrubá-lo.

"As ONGs perderam dinheiro, com o dinheiro da Noruega e Alemanha que vinha para cá. Estão desempregados. Têm que fazer o quê? Tentar me derrubar, tentar me derrubar. É o que sobra para eles, mais nada além disso", disse.

"Pode ser fazendeiro (o responsável pelas queimadas)? Pode. Todo mundo é suspeito, mas a maior suspeita vem de ONGs", repetiu.

Bolsonaro afirmou, ainda que "não se tem recurso" suficiente para fiscalizar a Amazônia e atribuiu este fato ao que chamou de "caos" que herdou ao assumir a Presidência neste ano.

"A Amazônia é maior do que a Europa, como é que você vai combater incêndio criminoso nessa área?", indagou aos jornalistas.

"IMPRENSA ESTÁ ACABANDO"

Logo depois de apontar que a intenção das ONGs ambientais é tirá-lo do poder por causa da perda de recursos, Bolsonaro comparou a situação com a dos veículos de imprensa, e lembrou que editou uma medida provisória que retira a obrigatoriedade de empresas de capital aberto publicarem seus balanços financeiros em jornais de grande circulação, medida que tira receita de veículos impressos.

"Como a imprensa. Tirei de vocês 1,2 bilhão de reais na publicação de balancetes. Não é maldade, é bondade e justiça para o empresário, que não aguenta pagar isso para publicar páginas e páginas de jornais que ninguém lê. Então publica no site oficial, na CVM, a custo zero. E ainda estamos ajudando a não ter desmatamento, porque papel vem de árvore", disse o presidente.

Apesar da declaração do presidente, as empresas de papel e celulose produzem em plantios feitos em áreas de reflorestamento e não desmatam a floresta para produzir papel-jornal. A exploração de madeira e a expansão de áreas agrícolas estão entre os principais motores do desmatamento da Amazônia.

"Estamos em uma nova época. Assim como acabou no passado o datilógrafo, a imprensa está acabando também. Não é só pela questões de poder aquisitivo do povo, que não está bom, é porque não se acha a verdade ali", atacou.

(Por Eduardo Simões, em São Paulo)