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"É um ultraje inaceitável", dizem 52 ONGs em carta a Bolsonaro após declarações

22/08/2019 16h52

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - Em carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro divulgada nesta quinta-feira, 52 organizações não-governamentais disseram ser um "ultraje inaceitável em si" a declaração do chefe do Poder Executivo Federal de que essas entidades estariam por trás das queimadas no país diante do suposto fato de elas terem perdido recursos para se financiar.

A carta, subscrita por ONGs como Instituto Socioambiental, Oxfam Brasil, SOS Mata Atlântica, diz que é uma prática prejudicial atribuir aos outros a responsabilidade por eventos pelos quais se é realmente responsável.

"Como presidente do Brasil, suas responsabilidades incluem a conservação de um ambiente ecologicamente equilibrado, de acordo com nossa Constituição", diz a manifestação, escrita em inglês e obtida pela Reuters.

"Essa acusação específica já é um ultraje inaceitável em si --mas o que torna a situação ainda pior é que esse não é um caso isolado. Você tem freqüentemente destacado sua vontade de erradicar toda a atividade de ativismo no Brasil, assim como declarou, sem qualquer evidência, que as ONGs no Brasil têm práticas ilegítimas", completa.

O texto afirma ainda que é "ultrajante" ver que as instituições que se dedicam total e abnegadamente às causas sociais são atacadas e injustamente acusadas de serem responsáveis ​​pelos danos que realmente trabalham para exterminar.

"Infelizmente, fazer esse trabalho corajoso no Brasil muitas vezes traz um risco para a vida daqueles que trabalham por um país mais justo e humano que respeite seu ambiente e sua liberdade", afirma.

"As ONGs devem ser consideradas aliadas do governo em muitas agendas-chave para a construção de uma sociedade próspera, digna e desenvolvida", acrescenta o texto.

"Por isso, reforçamos que, se houver genuína aspiração e ação concreta para defender o interesse público e combater as práticas ilegais, o governo deve respeitar, valorizar e procurar colaborar com a sociedade civil organizada. Somos capazes e estamos dispostas a unir esforços para trabalhar para o Brasil", finaliza a carta.

Nesta manhã Bolsonaro ter acusado as ONGs na véspera, mas insistiu que "a maior suspeita" sobre os recentes incêndios na Amazônia vem delas.

"As ONGs perderam dinheiro, com o dinheiro da Noruega e Alemanha que vinha para cá. Estão desempregados. Têm que fazer o quê? Tentar me derrubar, tentar me derrubar. É o que sobra para eles, mais nada além disso", disse Bolsonaro nesta quinta-feira.

"Pode ser fazendeiro (o responsável pelas queimadas)? Pode. Todo mundo é suspeito, mas a maior suspeita vem de ONGs", repetiu.