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Banco central da Argentina queima reservas antes das eleições, mas peso ainda assim derrete

25/10/2019 16h52

Por Hugh Bronstein e Walter Bianchi

BUENOS AIRES (Reuters) - O banco central da Argentina continuou a vender dólares para defender o combalido peso argentino nesta sexta-feira, à medida em que aumentavam as preocupações com a diminuição das reservas da autoridade monetária às vésperas da eleição presidencial de domingo, temida pelos mercados financeiros.

Diante da proximidade da votação, com o aumento do nervosismo sobre uma economia assolada pela recessão e pela inflação, cambistas nas ruas de Buenos Aires empurraram a moeda para 75,5 por dólar americano no mercado negro, com queda de 7,6%.

O peso formal , apoiado pelo banco central, caiu apenas 0,3%, para 59,99, para o dólar, acumulando uma queda de 24,4% nas 11 semanas desde que o surpreendente resultado das votações primárias jogou água fria nos mercados.

A autoridade monetária vendeu 220 milhões de dólares em intervenções nesta sexta-feira, disseram operadores, enquanto o peso continuava seu processo de recuo que já dura quatro anos, sob o mandato do presidente Mauricio Macri, um defensor do livre mercado que deve perder sua disputa pela reeleição no próximo domingo.

O BC local já vendeu 21 bilhões de dólares de suas reservas desde as eleições primárias, em agosto, quando Macri foi atingido pelo peronista Alberto Fernandez.

As reservas estavam em 45,26 bilhões de dólares nesta sexta-feira, enquanto os mercados apresentavam preocupações com o ressurgimento de um governo intervencionista, sob uma eventual presidência de Fernandez.

    "Minha impressão é que ele anunciará um controle de capital mais restrito desde o primeiro dia, porque o nível de reserva é muito baixo ", disse Alberto Bernal, principal estrategista de mercados emergentes da XP Investimentos em Nova York.

O peso caiu 1,3% na quinta-feira no mercado oficial, mesmo após o banco central vender 346 milhões de dólares em reservas durante o dia.

O país tem um contrato de empréstimo de 57 bilhões dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que afirmou que irá avaliar o seu relacionamento com a Argentina assim que as políticas do próximo governo sejam anunciadas.

Enquanto isso, a aliança de Fernandez com a ex-presidente e ícone populista Cristina Kirchner tem preocupado investidores. Kirchner está concorrendo como vice de Fernandez.

"Alberto precisa garantir que Cristina pare de falar sobre política econômica, porque toda vez que ela fala o mercado e poupadores surtam. Fernandez terá muito pouco tempo para entregar um plano coerente que os mercados e FMI possam endossar", disse Bernal.

    Macri foi eleito com a promessa de "normalizar" uma economia distorcida pelos fortes controles comerciais e da moeda impostos por Kirchner. Mas ele superestimou sua capacidade de atrair investimentos e subestimou o impacto inflacionário de suas políticas fiscais.

Isso incluiu cortes nos subsídios de utilidade pública, que impulsionaram as contas de eletricidade, e aumentaram os custos para empresas, que por sua vez subiram os preços dos bens e serviços que produziam. Assim, a inflação decolou. Somente em setembro, os preços ao consumidor subiram 5,9%.

(Por Hugh Bronstein e Walter Bianchi)