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ENTREVISTA-Copel avalia vender controle de usina Foz do Areia após decreto de Bolsonaro

04/12/2019 18h39

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A estatal paranaense Copel tem estudado a eventual venda do controle de sua usina Foz do Areia, após o governo Bolsonaro ter publicado recentemente decreto que visa facilitar a privatização de ativos estaduais de geração, disse à Reuters o diretor financeiro da elétrica, Adriano Rudek de Moura.

Essa alternativa seria uma forma de a Copel garantir que continuará com a hidrelétrica, mesmo com participação minoritária, uma vez que se aproxima o fim do contrato de concessão da maior usina da empresa, em 2023.

Pela medida presidencial, empresas federais, estaduais e municipais podem fechar antecipadamente a renovação por 30 anos de concessões de geração de energia que passem por processo de desestatização, inclusive com possibilidade de manutenção de uma fatia minoritária nos empreendimentos, caso desejem.

A usina Foz do Areia, localizada no Paraná, pode ter bônus de outorga entre 3 bilhões e 3,5 bilhões de reais em troca do novo período de concessão, pela renovação antecipada, disse Moura.

Ele lembrou que, se a empresa decidir não aderir à prorrogação nos moldes do decreto, a concessão do ativo com 1,67 gigawatt em capacidade será relicitada ao final do atual contrato.

"Estamos fazendo um estudo, porque o plano até então era participar do leilão (em 2023). Mas creio que a tendência de ir com parceiros e fazer a privatização parece mais lógica, mais segura, melhor para a companhia", disse o executivo, projetando que a empresa poderia ficar com até cerca de 49,9% do ativo.

"Nós conseguiríamos, sem dúvida, participar do leilão sozinhos... mas é uma decisão difícil, ao ir sozinho você corre o risco de perder tudo. A decisão vai ser do conselho e ratificada em assembleia (de acionistas)", acrescentou Moura.

Pelos prazos definidos no decreto, a Copel precisará comunicar ao governo sua decisão por volta de março de 2020. A privatização, então, precisaria ocorrer até meados de 2022.

Os valores que serão cobrados pela renovação da concessão ainda não foram definidos pelo governo federal, e deverão ser estipulados pelos ministérios de Minas e Energia e da Economia.

DESINVESTIMENTOS

Em paralelo, a Copel tem buscado preparar a venda de ativos considerados não essenciais, como seu braço de telecomunicações e uma participação de 51% na distribuidora de gás Compagás, na qual tem como sócios a Transpetro, da Petrobras, e a japonesa Mitsui.

O plano de desinvestimento da Copel Telecom está mais avançado, com expectativa de que o leilão do ativo possa ser realizado até o primeiro semestre de 2020, segundo Moura.

Segundo ele, a Copel avalia que a empresa é mais valiosa que o antigo braço de telecom da elétrica mineira Cemig, vendido à American Tower e à Algar em 2018, por 649 milhões de reais.

O ativo da Cemig foi negociado por cerca de 10 vezes a geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), acrescentou o diretor.

"É uma referência de múltiplo, mas mudou muito o mercado e nosso ativo tem mais vantagens competitivas que os da Cemig, por exemplo".

O Ebitda ajustado da Copel Telecom até setembro é de aproximadamente 150 milhões de reais, apontou Moura.

Analistas do BTG estimaram em maio que a Copel poderia obter até 1,8 bilhão de reais com a operação.

"Não vi esse relatório, mas a conta que o mercado está fazendo é mais ou menos essa", afirmou Moura, ao ser questionado sobre o cálculo.

"É realmente um ativo muito atrativo, e vamos fazer uma avaliação bem cuidadosa."

Na Compagás, o processo de venda aconteceria "na melhor das hipóteses" em meados de 2021, uma vez que as sócias da empresa estão em negociação com o governo paranaense sobre o vencimento do contrato da concessionária.

A concessão da empresa expiraria em 2024, mas lei complementar publicada pelo governo paranaense em 2017 estabeleceu interpretação de que o vencimento se deu no início de 2019.

As tratativas devem envolver pagamento de outorga pela prorrogação contratual, segundo o diretor.

DIVIDENDOS

Em outra frente, a Copel tem preparado uma política de pagamento de dividendos que terá como objetivo aumentar a transparência sobre a distribuição dos lucros aos acionistas, disse Moura.

"Nossa ideia é deixar claro quais seriam as regras de pagamento de dividendos, considerando alguns fatores, como nível de endividamento, nível de investimentos e situação do caixa", afirmou.

"Queremos deixar claro, para não ser uma surpresa, quando pudermos pagar, por exemplo, um valor maior que o mínimo de 25% (dos lucros), que é nossa atual prática", explicou.

As discussões sobre a mudança na política acontecem em meio a expectativas da Copel de bons resultados e redução do endividamento e deverão estar concluídas até o final do primeiro trimestre de 2020.

"Temos que pensar em alternativas, não vamos ficar com esse dinheiro parado no caixa. Essa política realmente está vindo num momento oportuno".