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ENTREVISTA-Líbia enfrentará "catástrofe" se bloqueio a petróleo continuar, diz premiê

20/01/2020 15h28

Por Ulf Laessing e Nadeen Ebrahim

BERLIM (Reuters) - A Líbia enfrentará uma "situação catastrófica" a não ser que forças estrangeiras pressionem o comandante Khalifa Haftar a retirar um bloqueio imposto a campos de petróleo, responsável por reduzir a produção local a quase zero, disse o premiê do país nesta segunda-feira.

Desde sexta-feira, forças de Haftar fecham os principais portos petrolíferos da Líbia em meio a um jogo de poder. Países europeus, árabes e os Estados Unidos se reuniram com aliados de Haftar em Berlim para pressioná-lo a interromper uma campanha para tomar a capital Trípoli.

O primeiro-ministro reconhecido internacionalmente como líder líbio, Fayez al-Serraj, disse à Reuters que rejeita as demandas de grupos do leste do país, representados pelo comandante, que vinculam a reabertura dos portos a uma nova distribuição de receitas petrolíferas entre os líbios. Para ele, essa receita deveria beneficiar todo o país.

"Se continuar assim, a situação será catastrófica", disse Serraj em entrevista concedida em Berlim.

"Espero que os países estrangeiros acompanhem a questão", afirmou, quando perguntado se deseja que as potências estrangeiras pressionem Haftar pela retirada do bloqueio aos terminais de exportação de petróleo da Líbia no Mediterrâneo.

Grande parte da riqueza petrolífera da Líbia está localizada no leste do país, mas as receitas são canalizadas através da petroleira estatal NOC, de Trípoli, que diz que serve a toda a nação e se mantém de fora dos conflitos entre façções.

O governo paralelo de Haftar tentou por diversas vezes exportar petróleo contornando a passagem do produto pela NOC, mas foi impedido por uma proibição da Organização das Nações Unidas (ONU), disseram diplomatas.

A NOC envia as receitas obtidas com óleo e gás, vitais para a Líbia, ao banco central de Trípoli, que trabalha principalmente com o governo de Serraj, embora também financie parte dos salários de funcionários públicos, combustíveis e outros serviços no leste, controlado por Haftar.

Um documento enviado a operadores de petróleo e visto pela Reuters nesta segunda-feira apontou que a NOC declarou força maior para os carregamentos de petróleo dos campos de Sharara e El Feel, localizados no sudoeste do país.

Ao menos nove navios deveriam ser carregados nos próximos dias em portos que agora estão sob força maior, segundo uma fonte do setor. A NOC já havia declarado anteriormente força maior para os portos da costa nordeste da Líbia.

A Líbia não tem uma autoridade central estável desde que o ditador Muammar Gaddafi foi derrubado por rebeldes apoiados pela Otan em 2011. Por mais de cinco anos, o país teve dois governos rivais, no leste e no oeste, com ruas controladas por grupos armados.

(Por Ulf Laessing e Nadeen Ebrahim em Berlim, com reportagem adicional de Julia Payne e Ahmad Ghaddar em Londres)