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Preços de bônus argentinos recuam e prêmio de risco dispara após alerta de reestruturação

13/02/2020 16h35

Por Hugh Bronstein e Walter Bianchi

BUENOS AIRES (Reuters) - Os bônus argentinos eram alvejados nesta quinta-feira, depois de o ministro da Economia alertar que uma "profunda reestruturação da dívida" estava a caminho e prometer assumir uma postura dura com os credores.

Os preços dos bônus no mercado de balcão caíam em média 2%, enquanto o prêmio de risco do país disparava 118 pontos-base, para 2.068 pontos-base, ante os seguros Treasuries dos EUA.

Na noite de quarta-feira, o ministro da Economia, Martín Guzmán, disse ao Congresso que, embora estivesse estendendo os vencimentos da dívida, não tentaria reduzir o déficit fiscal primário neste ano. Ele disse que a austeridade nunca foi uma boa ideia para uma economia em recessão.

Guzmán disse que a carga da dívida argentina é insustentável e alertou que a reestruturação provavelmente seria "frustrante" para os detentores de títulos. "Mas não permitiremos que fundos estrangeiros definam o tom da política macroeconômica", acrescentou.

O Citi Research, em nota aos clientes, se referiu aos comentários como "retórica antimercado".

"O foco em tornar a dívida sustentável sem um ajuste fiscal iminente não é um bom presságio para os detentores de títulos", afirmou.

O único país com maior risco de inadimplência do que a Argentina é a Venezuela, de acordo com um índice de bônus de mercados emergentes do JP Morgan. O spread dos títulos da Venezuela sobre os Treasuries estava em 12.990 pontos-base nesta quinta-feira, enquanto o índice geral para emergentes mostrava 307 pontos-base.

O maior credor da Argentina, o Fundo Monetário Internacional (FMI), enviou uma equipe de economistas a Buenos Aires nesta semana para elaborar um plano para o governo pagar os 44 bilhões de dólares que deve ao organismo. O acordo preparará o terreno para as negociações de reestruturação com os credores.

"Será uma negociação complexa, mas acredito que os argentinos entendem que há um limite para a quantidade de dor que eles podem impor aos detentores de títulos", disse Alberto Bernal, estrategista-chefe de mercados emergentes da XP Investments em Nova York.

O governo diz que precisa adiar os vencimentos de cerca de 100 bilhões de dólares em títulos e empréstimos para dar espaço a uma economia asfixiada pela recessão e pela inflação alta.

Na terça-feira, o governo abalou o mercado quando adiou unilateralmente --desta quinta para 30 de setembro-- um pagamento de 1,47 bilhão de dólares em principal de seu título AF20.

"O AF20 foi muito mal conduzido, mas ainda acredito que há mérito em decidir não imprimir dinheiro para pagar por essa amortização", afirmou Bernal. "Isso mostra que o governo entende a clara causalidade existente entre imprimir pesos e deteriorar ainda mais as expectativas de inflação."

Analistas do setor privado esperam que a terceira maior economia da América Latina encolha 1,5% em 2020, com a inflação desacelerando a 41,7%, de 50% atualmente.

Guzmán e o FMI dizem que as reuniões iniciais entre os dois foram construtivas. Mas o porta-voz do FMI, Gerry Rice, alertou que a capacidade do Fundo de conceder perdão de dívidas não é ilimitada.

"A capacidade do FMI de reestruturar a dívida e adiar os pagamentos é limitada por nossas estruturas legais e políticas", disse ele a repórteres em Washington.