IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Contas externas do Brasil acumulam rombo de 2,91% do PIB, maior em mais de 4 anos

25/03/2020 13h26

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O déficit em transações correntes do Brasil foi de 3,904 bilhões de dólares em fevereiro, passando a responder por 2,91% do Produto Interno Bruto no acumulado em 12 meses, maior patamar desde dezembro de 2015 (3,03% do PIB), num período ainda não afetado negativamente pela pandemia do coronavírus.

A elevação do déficit tem ocorrido apesar do pífio desempenho econômico, seguindo tendência já verificada em 2019. As perspectivas para as transações correntes devem ficar ainda mais difíceis diante do impacto do coronavírus na atividade doméstica e no crescimento global.

O déficit do mês foi inteiramente coberto pelo fluxo de investimentos diretos, mas no período a saída líquida de investimentos em ações foi a maior desde outubro de 2008, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira.

Para março, a perspectiva do BC é de déficit em transações correntes de 1 bilhão de dólares.

Em resposta por escrito a perguntas da imprensa, o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, apontou que o Covid-19 ainda não havia sensibilizado os números de fevereiro. Sobre o cenário à frente, ele afirmou que essa leitura será feita pelo BC na quinta-feira, com a publicação do Relatório Trimestral de Inflação.

Rocha pontuou, contudo, que se a previsão do BC para março se confirmar, haverá redução de 1,7 bilhão de dólares no déficit acumulado em 12 meses até março de 2020.

O resultado de fevereiro representou um aumento de 17,1% sobre igual mês do ano passado, principalmente pela piora nas contas de serviços e de renda primária. O dado veio um pouco acima do déficit de 3,45 bilhões de dólares esperado por analistas em pesquisa da Reuters.

Já os investimentos diretos no país (IDP) alcançaram 5,996 bilhões de dólares no mês, em linha com expectativa de 6,0 bilhões de dólares. Para março, o BC projeta que cheguem a 7 bilhões de dólares, após terem somado 5,992 bilhões de dólares até o dia 23.

DADOS DE FEVEREIRO

No último mês, a balança comercial teve um superávit de 2,518 bilhões de dólares, com uma ligeira redução frente ao saldo positivo de 2,672 bilhões de dólares registrado em fevereiro do ano passado.

Embora a disseminação do coronavírus na China já tivesse começado desde o fim de 2019, as preocupações sobre seu rápido contágio mundo afora e sobre seu impacto nas redes de saúde e na atividade econômica ganharam vulto em março.

Em fevereiro, ainda houve um aumento de 4% nas exportações brasileiras, segundo os dados do BC, a 16,386 bilhões de dólares. As importações, por sua vez, subiram 6% na mesma base, a 13,868 bilhões de dólares.

O maior responsável pela piora do rombo em transações correntes em fevereiro foi o déficit na conta de serviços, com aumento de 239 milhões de dólares frente a igual período do ano passado, a 2,594 bilhões de dólares.

Dentro dessa conta, estão as despesas líquidas com aluguel de equipamentos, que subiram 55,2% a 1,454 bilhão de dólares em fevereiro. Já os gastos líquidos de brasileiros no exterior, que costumam ser sensíveis à alta do dólar frente ao real, caíram 47% sobre um ano antes, a 403 milhões de dólares.

Olhando para a renda primária, o déficit subiu 224 milhões de dólares contra fevereiro de 2019, a 3,904 bilhões de dólares, segundo os dados do BC. Nesse caso, a linha foi influenciada principalmente pelo aumento de 35,3% nos gastos líquidos com juros, a 1,369 bilhão de dólares.

No primeiro bimestre do ano, o déficit em transações correntes somou 15,784 bilhões de dólares, crescimento de 27,5% ante igual etapa do ano passado.

Para 2020, o BC previu em sua última projeção novo aumento do déficit em transações correntes, para 57,7 bilhões de dólares, ante 49,452 bilhões de dólares em 2019.

A conta foi feita em dezembro e deve ser atualizada pela autoridade monetária na quinta-feira, na publicação do Relatório Trimestral de Inflação.

SAÍDA DE INVESTIMENTOS

De acordo com o BC, a saída líquida de investimentos em portfólio no Brasil chegou a 3,358 bilhões de dólares em fevereiro, com retirada líquida de 4,495 bilhões de dólares em ações e fundos de investimento e ingresso de 1,137 bilhão de dólares em títulos de dívida.

Considerando apenas o investimento em ações, inclusive os papéis de empresas brasileiras negociados no mercado externo, houve saída líquida de 4,428 bilhões de dólares em fevereiro, pior resultado num mês desde outubro de 2008 (-6,065 bilhões de dólares), quando o mundo estava mergulhado na crise financeira.

Isso aconteceu a despeito de fevereiro ter sido marcada pela bilionária venda de ações da Petrobras detidas pelo BNDES.

Questionado sobre o movimento, Rocha, do BC, reconheceu que "os impactos da pandemia nos mercados financeiros são significativos".

Ele destacou ainda que o BC está "tomando todas as medidas necessárias para garantir a liquidez, em moeda estrangeira e nacional, e o funcionamento dos mercados".

Nos dois primeiros meses do ano, a saída líquida de investimentos do mercado doméstico foi de 1,907 bilhão de dólares, com saques líquidos de 8,606 bilhões de dólares em ações e fundos de investimento e entrada de 6,699 bilhões de dólares em títulos de dívida.

Na parcial de março até o dia 23, a retirada líquida de ações e fundos de investimento é de 6,109 bilhões de dólares e de 10,528 bilhões de dólares em títulos da dívida, já superando a marca histórica de um mês fechado, de saída de 9,014 bilhões de dólares de investimentos em carteira em dezembro de 2014.