Dólar bate máxima histórica acima de R$5,25 com clima azedo no exterior
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar seguia em alta firme e chegou a renovar máxima histórica acima de 5,25 reais nesta quarta-feira, em meio a sinais crescentes do impacto econômico da pandemia de coronavírus, com especialistas projetando a permanência da força da moeda norte-americana até o final do ano.
Às 12:52, o dólar avançava 0,97%, a 5,2446 reais na venda, enquanto o dólar futuro mais negociado tinha alta de 0,66%, a 5,2495 reais.
Na máxima do dia, o dólar spot chegou a tocar 5,2520 reais na venda, nova máxima recorde intradia, alta de 1,11%.
Mais uma vez, os mercados voltavam as atenções para os efeitos econômicos da atual crise de saúde, com dados pessimistas e sinais de aprofundamento na disseminação do vírus elevando a expectativa de uma recessão global.
A atividade industrial da zona do euro entrou em colapso no mês passado, enquanto o setor privado norte-americano fechou, em termos líquidos, postos de trabalho em março pela primeira vez desde 2017.
Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou os norte-americanos ao dizer que as próximas duas semanas serão muito difíceis na luta contra o coronavírus, com autoridades de saúde da Casa Branca prevendo um enorme salto nas mortes relacionadas à doença, mesmo com medidas rigorosas de distanciamento social.
"Há um clima superpesado, com o coronavírus --principalmente nos EUA-- atingindo patamares inimagináveis", disse à Reuters Jefferson Laatus, sócio e fundador do grupo Laatus.
"Isso assusta bastante o mercado, porque tem um impacto econômico sem precedentes... Isso vai causar uma desaceleração enorme, não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo", acrescentou.
O dólar tende a se fortalecer em tempos de recessão, dada a maior procura de investidores e empresas por ativos seguros.
Dentro desse cenário, o Morgan Stanley divulgou que clientes enxergam a moeda a 5 reais ao final de 2020, patamar mais baixo em relação aos níveis entre 5,10 e 5,25 reais registrados nas últimas sessões. "No geral, investidores esperam que o real se fortaleça moderadamente até o final de 2020, a menos que o impacto da Covid-19 sobre a economia brasileira dure mais do que 9 meses", disseram analistas do banco em relatório.
Na véspera, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, previu que a economia brasileira deve começar a melhorar no último trimestre do ano. O BC projeta variação zero para o PIB neste ano, mas Campos Neto já avisou que haverá revisão da estimativa. Algumas casas já veem o PIB em contração de 3%.
Com maior aversão a risco no exterior, a moeda norte-americana ganhava força nesta quarta-feira contra peso mexicano, lira turca, rand sul-africano e dólar australiano, alguns dos pares do real.
No Brasil, o Banco Central, a partir desta quarta-feira, deu início à rolagem de contratos de swap cambial com vencimento em 4 de maio de 2020, totalizando 4,9 bilhões de dólares. A autarquia vendeu todos os 10 mil contratos ofertados nesta sessão.
A medida não ajudava a aliviar a pressão sobre o real, mas, segundo Jefferson Laatus, "tendo pressões adicionais, o BC pode atuar mais vezes nos mercados, inclusive com venda spot".
O dólar interbancário fechou o último pregão em alta de 0,25%, a 5,1944 reais na venda, segunda maior cotação para encerramento da história. No acumulado do primeiro trimestre, a divisa disparou mais de 29%, maior alta desde o trimestre findo em setembro de 2002.
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