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Coronavírus: Prevent Senior fica entre críticas de autoridades e apoio de usuários

Eduardo Simões e Lisandra Paraguassu

em São Paulo e Brasília

03/04/2020 20h44

Já apreensivos com a pandemia de coronavírus, clientes da operadora Prevent Senior, especializada no principal grupo de risco da doença, os idosos, têm acompanhado com atenção o surgimento do nome da empresa no noticiário e na boca de autoridades, após os hospitais da companhia concentrarem um grande número de mortes pela covid-19.

Desde o início da epidemia, os hospitais da Prevent tiveram 79 mortes, o que representa 36% das mortes do Estado de São Paulo até esta sexta-feira. Números dessa natureza assustaram clientes, chamaram a atenção da vigilância epidemiológica e fizeram com que todos os olhos se voltassem para o que acontecia dentro do sistema da empresa.

A operadora, que se tornou refúgio para pessoas de mais de 60 anos diante dos custos estratosféricos dos planos de saúde tradicionais para esta faixa etária, se defende dizendo que em seus hospitais não há subnotificação, ao contrário do que ocorre na rede pública, e que a taxa de letalidade em sua rede é quase a metade da apontada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a faixa de 80 anos —a média de idade dos que morreram por covid-19 em seus hospitais, segundo a empresa.

Com 470 mil clientes, número equivalente a 25% da população idosa da cidade de São Paulo, a Prevent Senior virou assunto em entrevista coletiva do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e conviveu com visitas das vigilâncias sanitárias estadual e municipal a seu principal hospital, o que incluiu um pedido de intervenção por parte da prefeitura e uma investigação pelo Ministério Público.

Até o momento, nenhuma das ações apontou fatores que levem a uma desconfiança sobre o que acontece dentro dos hospitais da Prevent.

As ações da vigilância apontaram baixo risco, e a possibilidade de uma intervenção da prefeitura aguarda ainda um relatório da Secretaria de Saúde do Estado após nova inspeção feita nesta semana. De acordo com uma fonte, "preliminarmente estava tudo em ordem".

A quantidade de mortos no Prevent e os temores que envolvem a epidemia, no entanto, assustam clientes do plano.

A empresária Elaine Masciarelli, cujos pais são clientes da Prevent Senior —o pai com 88 anos, a mãe com 82— disse ter ficado apreensiva.

"Quando a gente viu o que aconteceu na Prevent foi assustador. Eles (pais da empresária), claro, que são grupo de risco e estamos preocupados", disse ela, que, no entanto, defende a operadora. "Não temos nenhuma queixa, nenhuma", contou à Reuters.

A empresária disse que seus pais são beneficiários da operadora há cerca de quatro anos e migraram para a empresa após o plano em que estavam se tornar "impagável".

"Ele estava pagando quase 5 mil reais para duas pessoas, não tinha como manter. Ou pagava plano ou se alimentava", disse. Atualmente, segundo ela, o casal paga mensalidade de 2.200 reais.

"Com toda a sinceridade, é impossível passar por isso sem questionar, mas é inviável você trocar. Vão permanecer porque não existe concorrência para pegar esse nicho", afirmou.

Onda de apoio

A controvérsia envolvendo a Prevent Senior chegou às redes sociais, onde usuário do plano e familiares também saíram em defesa da empresa. O cartunista Maurício de Sousa publicou em sua conta no Twitter um desenho de sua Turma da Mônica em homenagem ao corpo clínico da operadora.

"Queremos prestar aqui nossa homenagem aos médicos, enfermeiros e funcionários do hospital Prevent Senior pelo heróico trabalho dedicado aos idosos atingidos pelo coronavírus. Cada minuto de sua atenção é uma vitória", disse o cartunista em uma publicação com mais de 1,2 mil curtidas. Não estava claro se ele tem alguma ligação com a rede.

As autoridades de saúde, no entanto, parecem ter uma opinião diferente. O ministro Mandetta questionou o fato de a Prevent Senior atender apenas idosos, apontando que o caso deveria ser analisado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e a Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo pediu a interdição de três hospitais da empresa —nos bairros paulistanos do Paraíso, Pinheiros e Jardim Paulista— por "subnotificação e outras inconformidades encontradas no serviço", segundo nota do órgão.

Desde então, no entanto, o ministério tem evitado comentar o caso da Prevent. Consultados pela Reuters, a resposta é que quem irá cuidar disso é o governo do Estado de São Paulo.

A Prevent Senior destaca a importância de seu papel no atendimento aos idosos.

"Na verdade a ANS tem que observar mesmo, porque a ANS tem que promover esse tipo de atuação como a nossa, porque nós somos um dos únicos planos que aceitam idosos e provê um sistema de saúde de qualidade por um preço que seja justo", disse à Reuters o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Junior.

Sobre o pedido de intervenção da prefeitura, ele afirma não ter recebido qualquer documento neste sentido e argumenta que dois dos três hospitais da empresa citados não são voltados para o tratamento de Covid-19. Ele disse que a prefeitura notificou uma das unidades por atrasos na notificação de 18 dos mais de 600 casos notificados, não por subnotificação.

Encaminhou também à Reuters laudo de inspeção das vigilâncias estadual e municipal na unidade datado de 19 de março que afirma em suas considerações finais: "a instituição segue normas de biossegurança, disponibilizando recursos para que os profissionais executem suas atividades, estabelecimento de fluxos e acompanhamento diário no cumprimento de normas estabelecidas, treinamento e restrição de fluxo de pessoas nos locais em que há casos confirmados ou suspeitos".

O laudo aponta "satisfatório" em sua conclusão e aponta o risco do hospital como "baixo".

Bode expiatório

Batista diz ainda que os dados de mortos nos hospitais da empresa "são reais", segundo ele, porque os resultados dos exames saíram rapidamente pois a companhia usa todos os laboratórios privados da capital paulista, enquanto na rede pública há uma fila de 16 mil exames aguardando resultado no Instituto Adolfo Lutz.

"O nosso dado é real e ele dá, sim, um diagnóstico exato de 25% da população idosa de São Paulo", disse, garantindo que os hospitais não têm superlotação nem sofrem risco de sofrer esse problema —são oito no total e um de campanha que pode ser montado— e que há estoque confortável de equipamentos de proteção individual e respiradores para enfrentar a pandemia.

"Nós não iremos servir de bode expiatório, até porque o próprio prefeito (Bruno Covas) já informou que a prefeitura está subnotificando porque não tem exame suficiente. Então não venha falar em subnotificação para mim", reclamou.