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Alta nos preços de insumos aperta margens da indústria de frango no Brasil

07/04/2020 18h01

Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) - Os avanços nos preços do milho e farelo de soja, principais insumos utilizados na alimentação de frangos, têm apertado as margens da indústria do setor, já afetada pelo recuo nos valores da carne no mercado interno.

"O problema do setor é o custo no curto prazo, com o milho e o farelo de soja desproporcionalmente caros para a avicultura", disse o Itaú BBA em análise divulgada nesta terça-feira.

Segundo a avaliação do banco, o farelo subiu bastante no último mês associado à desvalorização cambial e o milho segue em patamar muito elevado de preço, em meio à escassez de oferta.

O Indicador de Milho Esalq/B3 encerrou esta segunda-feira cotado a 57,83 reais por saca de 60 quilos, alta de 51,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

Já o valor do frango congelado negociado no atacado de São Paulo ficou em 4,39 reais por quilo na segunda-feira, queda de 3,51% na variação anual. Na variação mensal, o recuo chega a 9,48%.

Com o frango em queda e o milho em alta expressiva, a analista de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila, afirmou que a relação de troca tanto para o produtor da ave quanto para a indústria ficou mais apertada.

"A margem vem se estreitando e com toda essa conjuntura de incertezas econômicas (com a crise do coronavírus) não sabemos como vai ficar a demanda no curto e médio prazo. Tínhamos uma expectativa positiva para este ano e com essas incertezas fica difícil de traçar uma nova perspectiva. A margem deve continuar estreita", explicou.

Neste cenário, o Itaú BBA afirmou que as indústrias que teriam algum alívio nos custos são as que fizeram a aquisição dos insumos para ração antecipadamente, a preços menores.

"Mesmo olhando para o segundo semestre, é válido considerar a possibilidade de que o milho não caia muito, diante das perspectivas de balanço apertado no Brasil", disse o banco.

Com a expectativa de preços firmes do milho, a indústria de carnes tem avaliado que precisará importar o produto a partir de maio, enquanto a segunda safra do país não chega ao mercado.

Apesar da queda nos valores do frango, os patamares de preço da carne suína e de boi, que são mais elevados, tendem a limitar recuos mais expressivos para o frango no Brasil.

"Em condições de piora econômica, a carne de frango tem a vantagem comparativa do menor preço relativamente às outras carnes. Além disso, o rápido ciclo de produção permite ajustes de rota com relativa rapidez e eficiência."

A adversidade econômica tende a estar atrelada aos impactos do coronavírus, que desencadeou a interrupção de atividades no comércio, indústria e serviços, em meio a medidas de controle da disseminação da doença.

Quanto ao mercado internacional, o Itaú BBA destacou que muitos novos casos de gripe aviária vêm sendo notificados em diversas partes do mundo, principalmente na Ásia e no Leste Europeu, o que favorece as exportações do Brasil para estas regiões.

"As exportações do Brasil têm crescido... na esteira da boa oferta, preço competitivo e sanidade do produto do Brasil."

Os embarques de carne de frango in natura de março alcançaram 324 mil toneladas, alta de 2% igual período de 2019. Com isso, o crescimento no primeiro trimestre foi de 9,6%, "um excelente resultado sobretudo nos últimos dois meses, com a China explicando boa parte da expansão", ressaltou o Itaú BBA.