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Gol suspende projeções e manterá maior parte da frota em terra até maio

07/04/2020 11h17

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - A Gol suspendeu nesta terça-feira suas projeções para 2020 e 2021, citando a contínua incerteza sobre o impacto e a duração da pandemia de Covid-19, que fez a companhia aérea reduzir drasticamente sua oferta de voos.

O presidente-executivo da Gol, Paulo Kakinoff, afirmou em teleconferência com analistas e jornalistas que a empresa deve definir em até duas semanas se aceita uma linha de crédito do BNDES, que reservou cerca de 10 bilhões de reais para apoiar o setor aéreo, um dos mais afetados pelo coronavírus no mundo.

"A gente acha que está em uma evolução positiva na construção desta linha...O BNDES tem falado de 3 bilhões de reais, com 5 anos para pagamento, dois primeiros de carência de amortização e 1 de carência de juros", afirmou Kakinoff.

"Ainda deve ter mais uma ou duas semanas de trabalho para tentarmos concordar nos demais pontos", acrescentou o executivo, citando entre os pontos qual será o gatilho que disparará uma eventual conversão do crédito em ações da Gol para o BNDES, qual a taxa que será aplicada na linha e eventual nível de diluição.

Enquanto isso, a Gol tem tomado medidas para reduzir despesas em meio a uma queda de 90% na demanda por seus voos no país e incertezas que levaram as ações da empresa a acumularem queda de mais 70% em 2020.

A companhia afirmou que espera manter a maioria da frota em terra durante abril e maio, depois de deixar 120 aeronaves sem voar no final de março.

Desde a segunda quinzena de março, a Gol retirou 120 aviões de operação e reduziu oferta para 50 voos diários entre o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e as 26 capitais brasileiras e Brasília. Kakinoff evitou comentar se a empresa já está avaliando mudanças na malha adiante, afirmando que a situação "está muito fluida" .

"Não temos discussão sobre o que será a malha após o período de maio...A malha pode ser prorrogada em função da demanda."

Apesar disso, o executivo mencionou que a Gol tem flexibilidade para reduzir sua frota de 130 para 100 aeronaves em 12 a 18 meses, eventualmente, a depender da demanda futura, sem sofrer grandes impactos no fluxo financeiro da empresa. Isso porque a companhia pode fazer devoluções antecipadas de aviões e encerrar contratos de leasing de curto prazo. Além disso, Kakinoff afirmou que a fornecedora de aviões da Gol, a Boeing, está "tendo altíssimo nível de flexibilidade" nas discussões de frota da companhia brasileira.

A Gol disse que a pandemia teve efeito limitado no desempenho do primeiro trimestre, quando a companhia deve ter registrado lucro por ação de 0,25 real, excluindo variação cambial e no Exchangeable Senior Notes, conforme projeções preliminares e não auditadas da empresa.

Nos primeiros três meses do ano, a margem Ebitda deve ter ficado entre 44% e 46% e a margem Ebit, entre 27% e 29%. A Gol também estimou redução de cerca de 1% na receita unitária de passageiro e queda de cerca de 23% no custo unitário excluindo combustíveis, ambos na comparação ano a ano.

A alavancagem financeira da companhia, medida pelo indicador dívida líquida/Ebitda ficou em aproximadamente 2,8 vezes no trimestre encerrado em março. A companhia disse que tinha 3 bilhões de reais em caixa e aplicações, além de 1,3 bilhão de reais em recebíveis.

O vice-presidente financeiro da Gol, Richard Lark, afirmou que a liquidez total da companhia no final de março era de 6 bilhões de reais se considerado ainda 1,7 bilhão de reais em despesas antecipadas, reserva de manutenção e depósitos em garantia. O executivo comentou ainda que a Gol não tem vencimentos de estrutura de capital no curto prazo.

Por volta de 10:55, as ações da companhia subiam 10,3% a 11,20 reais, enquanto o Ibovespa tinha elevação de 7,1%.

PRESERVAÇÃO DE CAIXA

A Gol divulgou primeiros resultados de uma série de medidas que adotou a fim de preservar o caixa da companhia pelos próximos 90 dias, entre elas redução de 50% da folha de pagamento, bem como período de carência de seis meses e diferimento dos pagamentos de leasing de aeronaves.

Em meio à diminuição de 93% da oferta, registrou diferimento de todos os pagamentos de combustível, suspensão de taxas de navegação e aeroportos públicos, suspensão dos projetos de investimento por 180 dias e prorrogação dos prazos de pagamentos de capex em até 90/180 dias, entre outras reduções de custo.

Também obteve rolagem dos vencimentos de curto prazo existentes dos bancos locais e aumento dos limites de crédito para manter todas as linhas de capital de giro existentes e prorrogou para 2022 a amortização de 156 milhões de reais em debêntures locais do trimestre.

A companhia disse que, do lado de suporte governamental, teve os impostos e taxas suspensos no segundo trimestre de 2020.

Questionado sobre atrasos no pagamento a fornecedores, o presidente da Gol afirmou que a empresa tem "tratado individualmente cada um dos casos e discutido com cada contraparte qual a maneira mais viável (de pagamento) e compreendendo a necessidade dos fornecedores. Óbvio que é momento estressante para todos. O movimento caiu 90%, o mesmo problema que tivemos todos estão tendo."

Segundo Kakinoff, 85% dos compradores de passagens da empresa, cerca 5 milhões a 6 milhões de bilhetes, optaram por não fazer pedidos de reembolso, optando por manter o crédito na Gol para viajarem futuramente. Os 15% restantes, terão reembolso em até um ano, segundo novas regras aprovadas pelo governo para enfrentamento da crise do Covid-19.

(Com reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr.)