Bolsonaro admite ter pedido que PF colhesse depoimento em investigação do caso Marielle
Por Pedro Fonseca
(Reuters) - Apesar de ter negado interferência política na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu nesta sexta-feira ter solicitado à PF que colhesse depoimento de um dos suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco e de ter cobrado o então ministro Sergio Moro a investigar um porteiro que citou o nome do presidente no mesmo caso.
Em pronunciamento no qual rebateu as acusações de Moro de que teria demitido o diretor-geral da PF Maurício Valeixo por ter interesse em interferir em investigações da corporação e em inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro acabou reconhecendo ter pressionado por ações da PF tanto no caso Marielle quanto nas investigações a respeito da facada que levou durante a campanha presidencial de 2018.
"Nos quase 16 meses que esteve à frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas, não via interferência, mas quase como uma súplica, sobre o Adélio, o porteiro, e o meu filho 04", disse Bolsonaro, fazendo referência a seu quarto filho, Jair Renan.
O presidente admitiu ter pedido à PF que colhesse depoimento de um ex-sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro suspeito de matar Marielle, que está preso em Mossoró (RN), depois que foi divulgado que Jair Renan teria namorado uma filha dele. Bolsonaro e o ex-sargento moravam no mesmo condomínio na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Bolsonaro reclamou ter que tomar a iniciativa porque a PF não teria feito por conta própria, e também reclamou de Moro, que pediu demissão mais cedo nesta sexta-feira acusando o presidente de interferência política.
"Fiz um pedido para a Polícia Federal, quase como por favor: 'chegue em Mossoró e interrogue o ex-sargento'. Foram lá, a PF fez o seu trabalho, interrogou, e está comigo a cópia do interrogatório", disse, acrescentando que o ex-sargento garantiu que a filha nunca namorou o filho do presidente.
"Mas eu é que tenho que correr atrás disso? Ou é o ministro, é a PF que tem que se interessar?", questionou.
Ainda sobre o caso Marielle, Bolsonaro também reclamou que a PF não demonstrou interesse em investigar um ex-porteiro do condomínio onde ele morava que citou o nome do presidente nas investigações sobre a morte da vereadora.
Na verdade, a PF abriu inquérito para investigar eventuais irregularidades cometidas pelo porteiro, e depois o Ministério Público do Rio disse que o porteiro mentiu no depoimento em que citou Bolsonaro.
"Será que é interferir na PF exigir uma investigação sobre esse porteiro? O que aconteceu com ele? Ele foi subornado? Ele foi ameaçado?", disse o presidente. "Exigir pela PF, via seu ministro, que esse porteiro fosse investigado."
Bolsonaro reclamou ainda que Moro e a PF não deram importância adequada às investigações sobre a facada que levou durante a campanha presidencial de 2018, dizendo que seria fácil descobrir o mandante uma vez que o autor do ataque, Adélio Bispo, foi preso em flagrante.
"Com todo respeito a todas as vidas do Brasil, acredito que a vida do presidente tem um significado", afirmou.
"A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo. Cobrei muito dele isso. Não interferi", disse o presidente.
Adélio foi absolvido no ano passado pela 3ª Vara Federal de Juiz de Fora (MG) por ser considerado inimputável por ser portador de uma doença mental. A Justiça determinou que ele fosse internado por tempo indeterminado.
(Edição de Alexandre Caverni)
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