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BNDES negocia com bancos financiamento de até US$1,5 bi para Embraer, pode elevar participação

Marcelo Pereira/UOL
Imagem: Marcelo Pereira/UOL

Rodrigo Viga Gaier

01/05/2020 15h33

A Embraer pode obter um crédito de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão junto ao BNDES e bancos comerciais para capital de giro e financiar a exportação de aeronaves, disseram à agência de notícias Reuters duas fontes do governo próximas às negociações.

As conversas entre o banco e a fabricante de aviões ainda estão estágio inicial, mas, de acordo com as fontes, a Embraer também pode ser incluída em um programa de socorro às companhias aéreas nacionais afetadas pelos impactos da pandemia de covid-19.

A Boeing anunciou na semana passada cancelamento do acordo para comprar o controle da principal divisão da companhia brasileira por US$ 4,2 bilhões, gerando dúvidas sobre o futuro da Embraer e motivando a empresa a abrir um processo de arbitragem contra a fabricante norte-americana.

Segundo as fontes, um suporte está sendo estudado pelo governo brasileiro, via BNDES, para a Embraer após a frustração do negócio com a Boeing.

"A Embraer não estava endereçada nos nossos esforços para ajudar o setor aéreo...Aí teve a questão com a Boeing e aí ela virou candidata (a apoio)", disse à Reuters uma das fontes.

"A Embraer virou candidata de uma possível sindicalização entre os bancos e BNDES. É uma empresa aberta, de capital pulverizado que permite fazer algo como bônus com subscrição ou uma conversibilidade (em ações). É consenso dos bancos que a Embraer é uma natural candidata a um apoio...para dar capital de giro a ela e para financiar a venda dos aviões", adicionou a fonte.

Procurados, representantes do BNDES não comentaram o assunto. A Embraer não se manifestou, mas fez referência a comunicado enviado por ocasião do anúncio do cancelamento do acordo com a Boeing:

"A Embraer encerrou 2019 com uma sólida posição de caixa e não temos dívidas significativas nos próximos dois anos. Mesmo assim, a partir do término do acordo com a Boeing, estamos adotando medidas adicionais para preservar nossa liquidez e manter nossas sólidas finanças durante esses tempos turbulentos, o que inclui o que inclui ajustes de estoque e produção, extensão de ciclos de pagamento, redução de despesas e investimento e acesso a fontes complementares de financiamento."

Porém, para o financiamento de até US$ 1,5 bilhão ser estruturado com o BNDES e os bancos comerciais, o governo precisa reativar o Fundo de Garantia a Exportação (FGE), que foi alvo de intensas críticas do atual presidente Jair Bolsonaro por ter apoiado projetos de engenharia em países como Angola, Venezuela e Cuba nos governos petistas.

"O FGE está travado e precisa ser destravado, reconstruído em melhores termos depois daqueles problemas...tem que estruturar esse sistema para apoiar a Embraer para atender encomendas, mas para o BNDES apoiar precisa que o FGE tenha orçamento, dotação e previsibilidade. Financiar hoje é uma operação de muito risco", disse uma das fontes.

Além do empréstimo, um possível aumento da participação do governo, via BNDES, no capital da Embraer também está sendo avaliado. O braço de investimentos em participações do banco de fomento, BNDESPar, detém 5,4% do capital da fabricante brasileira.

"As conversas estão iniciais...equity é sempre bem vindo nesse tipo de empresa (como a Embraer). A empresa pode ficar reticente hoje de fazer um movimento de equity porque teve uma queda grande na bolsa brasileira. A Embraer é uma candidata a ter uma operação de equity; faz sentido numa empresa como essa", disse uma das fontes.

Divórcio amargo

Falando durante uma live organizada pela Aviation Week nesta sexta-feira (1º), o presidente-executivo da divisão de aviação comercial da Embraer, John Slattery, afirmou que a empresa está queimando caixa, mas tem capacidade de levantar mais recursos se necessário. "Não estou preocupado com liquidez", afirmou o executivo.

Slattery brincou que o público da apresentação era dominado por advogados de cada lado da disputa com a Boeing, enquanto as duas empresas se dirigem para o que é amplamente esperado como um caso de divórcio amargo.

Para se preparar para a separação da unidade de aviação comercial, antes da desistência da Boeing, a Embraer fechou as principais atividades por 40 dias, preparando-a para formar uma joint-venture que seria 80% controlada pela Boeing.

Slattery disse que isso resultou em alguma duplicação entre o núcleo da Embraer e a unidade de aviação comercial, mas que a terceira maior fabricante de aviões do mundo se recuperará do cancelamento do acordo como "uma única Embraer".

"No momento, a direção está muito clara... vamos controlar a Embraer Comercial... e de uma maneira bem ponderada traçar os próximos movimentos", disse Slattery.

(Com reportagem adicional de Tim Hepher e Marcelo Rochabrun)