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Produção industrial no Brasil despenca e tem pior março em 18 anos com impacto do coronavírus

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
Imagem: Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

05/05/2020 09h01

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A indústria brasileira sofreu forte golpe da pandemia de coronavírus em março com perdas generalizadas e o nível de produção mais fraco para o mês em 18 anos, indicando ainda mais perdas para abril.

A produção industrial do Brasil despencou 9,1% em março na comparação com o mês anterior em meio ao fechamento de fábricas e empresas em todo o país como medida de contenção ao Covid-19.

Esse é o resultado mais fraco desde a queda de 11% em maio de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros em todo o país. Também representa a leitura mais baixa para um mês de março desde 2002.

Os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda que, em relação a março do ano passado, houve perda pelo quinto mês seguido, de 3,8%

Ambos os resultados foram bem piores do que expectativas em pesquisa da Reuters com economistas de queda de 4,7% na variação mensal e de 1,6% na base anual.

O setor industrial do país chegou a ensaiar uma melhora no começo do ano, com dois meses seguidos de ganhos, mas todo esse cenário foi desmantelado pelas consequências da pandemia em meio a férias coletivas, paralisações, menor demanda e isolamento social.

"A queda fica mais forte no último terço de março e tem uma continuidade para abril e meses seguintes. Se tem de fato mais empresas em abril com férias coletivas e paradas, é natural supor que abril terá um ritmo maior de queda dessa produção nacional", avaliou o gerente da pesquisa, André Macedo.

"Isso terá um efeito negativo para o consolidado de 2020. Serão meses com quedas importantes para indústria (março, abril e maio)", completou. "2020 será um ano marcante para indústria".

As perdas em março foram generalizadas e acentuadas entre as categorias econômicas, sendo a mais forte a queda de 15,2% dos Bens de Capital, uma medida de investimento -- foi o recuo mais acentuado desde maio de 2018.

A produção dos Bens de Consumo recuou 14,5%, influenciada principalmente pela menor produção de automóveis. A de Bens Intermediários teve perdas de 3,8%, também recorde desde maio de 2018 e interrompendo três meses de resultados positivos.

Entre os ramos pesquisados, 23 de 26 tiveram resultados negativos, sendo que a maior a influência negativa foi a queda de 28% de veículos automotores, reboques e carrocerias por conta das pressionada pelas paralisações e interrupções da produção em várias unidades produtivas devido ao coronavírus.

Essa queda foi a mais forte desde maio de 2018 e eliminou a expansão de 7,8% acumulada pelo ramo nos dois primeiros meses de 2020.

"O resultado de março tem um perfil disseminado de queda e esse movimento é semelhante ao de maio de 2018, com a greve de caminhoneiros. Na raiz do resultado tem o isolamento, que leva a interrupção e paralisação de vários segmentos da indústria brasileira", completou Macedo.

O IBGE destacou ainda que é preciso levar em conta que o período de confinamento não compreendeu todo o mês de março e variou em todo o país.

As incertezas tomam conta da economia brasileira devido ao surto de coronavírus, com muitos trabalhadores em quarentena e correndo o risco de desemprego.

Em abril, a confiança da indústria brasileira medida pela FGV teve a maior queda já registrada na série histórica, atingindo nova mínima recorde, com os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19 amargando o sentimento dos empresários e elevando a incerteza sobre o futuro do setor.

A pesquisa Focus realizada pelo Banco Central junto a uma centena de economias aponta que o cenário para a economia é de contração de 3,76% neste ano, com a produção industrial recuando 2,75%.