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Em depoimento, Ramagem disse que Moro o desqualificou para assumir direção da PF

12/05/2020 17h10

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O delegado Alexandre Ramagem afirmou que o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fez questão de desqualificá-lo para assumir o cargo de diretor-geral da Polícia Federal usando o "argumento inverídico" de intimidade familiar com o presidente Jair Bolsonaro e parentes dele, segundo depoimento que prestou na Polícia Federal nesta segunda-feira.

Segundo Ramagem, Moro queria emplacar um diretor-geral da PF de sua proximidade, embora tenha destacado que a prerrogativa para a indicação do cargo legalmente é do presidente da República.

"A desqualificação ocorreu através de argumento inverídico de intimidade familiar nunca antes tido como premissa ou circunstância, apenas como subterfúgio para indicação própria sua de pessoas vinculadas ao seu núcleo diretivo de sua exclusiva escolha", disse Ramagem, segundo o depoimento obtido pela Reuters com uma fonte envolvida no inquérito.

Atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem disse que não tem amizade com os filhos do presidente. Mas afirmou que tem ciência de que goza da consideração, respeito e apreço da família de Bolsonaro pelos trabalhos realizados e pela confiança do presidente em seu trabalho.

O delegado destacou que não tem intimidade pessoal com familiares dele, mas ressalvou que, mesmo se assim o tivesse, não seria motivo para desprezar todo o seu currículo.

Preferido por Bolsonaro para comandar a PF, o delegado teve sua posse suspensa por liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes sob a alegação que haveria indícios de desvio de finalidade em sua indicação.

No depoimento, Ramagem rebateu essa alegação. Disse que a PF se encontra robustamente blindada de influências externas e frisou que isso era de conhecimento do próprio Moro. Por isso, chamou de absurda a alegação de desvio de finalidade com base em presunção futura de influência em investigações criminais sigilosas.

Questionado se teria uma missão específica para assumir a PF, o delegado negou e disse que a sugestão do seu nome ao próprio Moro ocorreu após o então chefe da corporação, Maurício Valeixo, ter manifestado interesse em deixar o posto.

Ramagem afirmou que o presidente nunca chegou a conversar com ele, sob a forma de intromissão, sobre investigações específicas que a PF pudesse atingir pessoas ligadas a Bolsonaro.

SUBSTITUTO

No depoimento, o delegado disse que foi consultado pelo presidente e pelo novo ministro da Justiça, André Mendonça, sobre as qualificações profissionais de uma eventual escolha de Rolando Alexandre de Souza para ser o novo diretor-geral da PF.

Souza era subordinado a Ramagem na Abin antes de assumir o comando da PF. Ramagem disse no depoimento que, depois dessa conversa, não participou de qualquer assunto referente à administração da PF, inclusive não tendo participado de nomes para diretorias e superintendências.

(Edição de Alexandre Caverni)