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Petrobras eleva gasolina em 10% nas refinarias, na 2ª alta de maio

Marta Nogueira

Rio de Janeiro

13/05/2020 13h25

Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras elevará o preço médio da gasolina nas refinarias em 10% a partir de quinta-feira, na segunda alta do combustível fóssil realizada neste mês, na esteira de uma recuperação recente dos preços internacionais do petróleo, apontou a petroleira nesta quarta-feira.

Ainda assim, a gasolina da petroleira estatal --responsável por quase 100% da capacidade de refino do país-- acumula queda de cerca de 40% neste ano, impactada por uma diminuição dos preços do petróleo e de seus derivados diante da propagação do novo coronavírus, que reduziu a demanda global.

Em 7 de maio, a empresa havia elevado em 12% o preço médio da gasolina vendida às distribuidoras. Antes disso, o último aumento de preços do combustível ocorreu em 20 de fevereiro.

Os preços do petróleo Brent acumulam aumento de mais 15% neste mês, reagindo a cortes de produção e a um relaxamento de medidas de isolamento social tomadas em função da pandemia nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.

Em contrapartida, a Petrobras decidiu manter o valor do diesel, o combustível mais consumido no país e sensível para os caminhoneiros, uma categoria que costuma apoiar o presidente Jair Bolsonaro. No caso desse produto, a queda acumulada nas refinarias no ano é de 44%.

PARIDADE DE IMPORTAÇÃO

Chefe da área de óleo e gás da consultoria INTL FCStone, Thadeu Silva afirmou que tanto a gasolina quanto o diesel da petroleira permanecem com defasagem em relação ao valor internacional.

Segundo ele, o aumento da gasolina foi de 0,1097 real por litro, quando teria de ser de pelo menos 0,20 real por litro para que estivesse em linha com o mercado internacional. Já o diesel estaria com uma defasagem de 0,10 real por litro.

"Ou seja, a conta para a importação de gasolina continua muito complexa e o setor sucroalcooleiro pode continuar reclamando", afirmou o especialista.

O recuo dos preços da gasolina neste ano reduziu a competitividade do etanol hidratado, seu concorrente nas bombas. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro barrou um pedido do segmento sucroenergético para um aumento da Cide no combustível fóssil.

A política de preços da Petrobras busca seguir valores de paridade de importação, que leva em conta preços no mercado internacional mais os custos de importadores, como transporte e taxas portuárias, com impacto também do câmbio. No entanto, a empresa tem evitado repassar volatilidade ao mercado interno.

A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estima que as defasagens, após o reajuste de hoje, estejam em 0,25 real por litro no caso do diesel e em 0,15 real por litro, na gasolina, o que dificulta a importação dos combustíveis por outros agentes.

Em relatório a clientes nesta quarta-feira, o banco UBS alertou para o risco de ingerências políticas na estratégia de preços da Petrobras, após o presidente Jair Bolsonaro ter comentado publicamente sobre a última alta anunciada na gasolina.

"Já vimos comentários semelhantes e os investidores sabem o custo que isso pode causar à empresa", disse o relatório do UBS, referindo-se a governos anteriores, que fizeram a Petrobras subsidiar combustíveis, causando bilhões de dólares de prejuízos à estatal.

No entanto, o UBS ressaltou acreditar "que a administração da Petrobras tem feito um excelente trabalho mantendo os preços domésticos de combustíveis alinhados com a paridade internacional na maioria das vezes".

Antes do reajuste anunciado nesta quarta-feira, o UBS calculava uma defasagem de 14% para gasolina.

O repasse de ajustes em valores da gasolina cobrados nas refinarias aos consumidores finais, nos postos, não é imediato e depende de uma série de questões, como margem da distribuição e revenda, impostos e adição obrigatória de etanol anidro.

Procurada, a Petrobras reafirmou que os preços de venda de gasolina e diesel às distribuidoras têm como referência o preço de paridade de importação.

A empresa reiterou ainda que o preço de paridade de importação não é um valor absoluto, único e percebido da mesma maneira por todos os agentes.

"Os reais valores de importação variam de agente para agente, dependendo de características, como, por exemplo, as relações comerciais no mercado internacional e doméstico, o acesso à infraestrutura logística e a escala de atuação", afirmou.

A petroleira disse ainda que as importações de gasolina e diesel por empresas concorrentes continuaram ocorrendo entre abril e maio, "o que evidencia a viabilidade econômica das importações realizadas por agentes eficientes de mercado".