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Ramos diz que comparação com Alemanha de Hitler é "infeliz"; governo discute suspeição de Celso de Mello

01/06/2020 15h44

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - Enquanto o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, rebateu nesta segunda-feira um comentário do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que comparou a situação do Brasil, "guardadas as devidas proporções", com o que ocorreu na Alemanha nazista com Adolf Hitler, o governo discutiu internamente pedir o afastamento do magistrado do inquérito que investiga o presidente Jair Bolsonaro.

"Comparar o nosso amado Brasil à 'Alemanha de Hitler' nazista é algo, no mínimo, inoportuno e infeliz . A Democracia Brasileira não merece isso. Por favor, respeite o Presidente Bolsonaro e tenha mais amor à nossa Pátria!", disse Ramos, em postagem no Twitter.

No domingo, foi revelado uma mensagem enviada pelo decano do STF a interlocutores em que ele disse que bolsonaristas querem instaurar uma "desprezível e abjeta ditadura militar" e compara a situação do Brasil, "guardadas as devidas proporções", com o que ocorreu na Alemanha nazista com Hitler, segundo uma fonte que teve acesso à mensagem, obtida pela Reuters.

Celso de Mello é o relator do inquérito que investiga se Bolsonaro, conforme acusou o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, tentou interferir no comando da Polícia Federal. O presidente nega irregularidades.

Segundo uma fonte do governo, um ministro que tem participado das conversas sobre embates com o Supremo e esteve com o presidente nesta segunda avaliou o comentário de Celso de Mello como desnecessário.

Apesar disso, a avaliação é que, por ora, não há elementos concretos para se alegar a suspeição de Celso de Mello no Supremo. Esse pedido, se fosse realizado e aceito, retiraria dele a relatoria do inquérito contra Bolsonaro.

Já o líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), criticou publicamente a atuação do Celso de Mello nesta segunda em uma rede social e pediu que o ministro do STF se declare suspeito para comandar o inquérito.

"Quando um juiz assume postura enviesada e incita amigos a resistir a uma determinada corrente, deixa de ser magistrado e adentra a arena das paixões políticas; abandona, também, a imperiosa imparcialidade e deve, por lealdade ao país, declarar-se suspeito. Decano, dê o exemplo", disse ele, no Twitter.

O decano do Supremo tem sido um dos principais alvos das críticas do presidente e aliados dele no Supremo. No domingo, o gabinete dele informou que "a manifestação do ministro Celso foi exclusivamente pessoal".

As comparações da atual conjuntura brasileira com a Alemanha nazista tem se tornado cada vez mais recorrentes entre analistas e colunistas.