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Preço do petróleo deve empurrar desinvestimentos da Petrobras para 2021, diz WoodMack

10/06/2020 17h40

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - O atual cenário de preços baixos do petróleo deve atrasar a perfuração de poços exploratórios no Brasil e também desafiar o plano de desinvestimentos da Petrobras, possivelmente obrigando a companhia a adiar o fechamento de transações para 2021, disseram especialistas da Wood Mackenzie à Reuters.

Depois de acordo da Opep+ que prorrogou restrições de oferta, a consultoria elevou a projeção para a cotação do Brent, referência internacional, a 50 dólares por barril em média em 2021, de 46 dólares antes. Mas a previsão para 2020 segue inalterada, em média de 35 dólares, segundo relatório divulgado na terça-feira.

"A perspectiva é de redução bastante grande em atividades de exploração no Brasil, seguida também de atraso, postergação, em tomadas de decisão final de investimentos. Todo Capex (investimento) está sendo empurrado bem mais pra frente, a gente só vê uma normalização do setor lá para 2023", disse o chefe de upstream da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis.

"Isso impacta também toda a parte do cenário dos desinvestimentos da Petrobras. Achamos que só vai fechar negócio dessa leva de ativos que está à venda mais para o ano que vem, porque agora, com volatilidade, fica difícil mesmo dar um preço para esses ativos", acrescentou ele.

O Brent começou 2020 na casa de 65 dólares por barril, mas despencou em meio à disseminação do coronavírus pelo mundo. Medidas de isolamento adotadas para conter a pandemia derrubaram drasticamente a demanda por combustíveis e levaram o barril a tocar em abril uma mínima de 21 anos, abaixo de 16 dólares.

Depois de acordos para cortes recorde de produção fechados entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outros países incluindo a Rússia --grupo conhecido como Opep+-- os preços engataram uma recuperação, com o Brent operando pouco acima dos 41 dólares nesta quarta-feira.

Esse movimento, no entanto, não deve ser suficiente para que as empresas retomem totalmente as atividades de perfuração no Brasil, disse a gerente de pesquisa em petróleo e gás upstream da Wood Mackenzie, Juliana Miguez.

"Esperávamos antes um número bem maior de poços sendo perfurados neste ano, e agora estamos considerando uma postergação de dez dos poços previstos. Só os poços que já têm sonda contratada que vão seguir", disse ela, que citou ativos de Petrobras e Shell na Bacia de Santos como exemplos.

Com isso, a consultoria agora vê 11 poços sendo perfurados no país em 2020, incluindo sete da Petrobras e da Shell no segundo semestre, número estável ante 2019.

Em 2021, o número poderia saltar para 17 poços, considerando avanço em alguns projetos parados neste ano.

Em meio aos impactos da pandemia de coronavírus no Brasil, a reguladora ANP decidiu em abril flexibilizar algumas obrigações de petroleiras, com possibilidade de prorrogação por nove meses da fase de exploração de contratos.

PETROBRAS

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, reconheceu em meados de maio que o coronavírus poderia impactar os planos de venda de ativos da companhia, mas assegurou que a empresa seguia com seus esforços de desinvestimento e poderia anunciar novidades em "pouco tempo".

Desde então, a companhia finalizou um negócio envolvendo campos terrestres no Rio Grande do Norte que havia sido anunciado em agosto passado, mas não avançou significativamente em outras operações em andamento.

Nesta quarta-feira, a Petrobras informou ampliação do prazo para que eventuais compradores expressem interesse por blocos exploratórios na bacia do Espírito Santo colocados à venda no início do mês.

Em seu relatório, a Wood Mackenzie disse ver agora chance "baixa" de a Petrobras atingir as metas de desinvestimento em 2020/21 e apontou que a estatal pode ser obrigada a reavaliar os ativos à venda.

"No ano que vem devemos ter uma visão melhor... devemos ter alguma movimentação. Mas, de repente, o preço vai ser mais baixo. Nesse cenário que estamos colocando, de 50 dólares (para o preço médio do Brent em 2021) esses ativos vão ter um preço mais baixo", disse Assis.

Com isso, segundo ele, a Petrobras poderia precisar buscar a venda de participação em campos maiores e em águas mais profundas, como Roncador e Marlim, uma vez que muitos dos ativos colocados no mercado pela empresa hoje são em águas rasas e em terra, com custos de extração elevados.

A Reuters publicou no início de maio que a Petrobras se preparava para oferecer a interessados uma fatia em Marlim, o que foi adiado devido às incertezas geradas pela Covid-19.

Em dezembro, antes do tombo dos preços no mercado de petróleo e da pandemia, o presidente da estatal disse acreditar que poderia levantar de 2 bilhões a 4 bilhões de dólares com a negociação de uma fatia de Marlim.