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BC vê queda de 6,4% do PIB em 2020, com viés de melhora, e reforça compromisso com meta de inflação

25/06/2020 15h58

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central piorou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 a uma retração de 6,4%, ante crescimento zero calculado em março, refletindo o impacto profundo da crise com o coronavírus na atividade, conforme Relatório Trimestral de Inflação publicado nesta quinta-feira.

A expectativa de queda ficou maior que a da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, que ainda prevê um recuo de 4,7% para a atividade neste ano.

Já economistas ouvidos pelo BC na mais recente pesquisa Focus estimaram um tombo de 6,50% para o PIB, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) passou a ver uma retração de 9,1% para a economia brasileira.

"Achamos a projeção do FMI bastante pessimista, comparamos a projeção e aparentemente a projeção do FMI tem um elemento inercial muito maior", disse o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em entrevista virtual.

"Nosso viés em cima do número de -6,4% é viés de melhora", acrescentou ele.

Também presente na coletiva, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, afirmou que a nova estimativa reflete o quadro básico da autarquia, mas que há assimetria na distribuição dos cenários para números melhores.

Kanczuk frisou que, na atual crise, itens de consumo e de serviços têm sofrido de maneira excepcional. Em serviços, ele exemplificou que hotéis e restaurantes têm sido frontalmente impactados. Em consumo, o diretor citou bens duráveis sendo afetados de forma "brutal".

Para seu viés positivo para o PIB, o BC considera que esses itens poderiam ter números menos negativos.

O BC estimou que haverá "recuperação gradual nos dois últimos trimestres do ano", mas alertou que o nível de incerteza sobre o ritmo desse processo permanece acima do usual.

Do lado da oferta, a revisão mais acentuada foi feita pelo BC na expectativa para a indústria, que passou a -8,5% em 2020, contra -0,5% antes, com piora em todas as atividades do setor.

Para o setor de serviços, o BC agora vê recuo de 5,3% no ano, contra estabilidade projetada anteriormente. Já para a agropecuária, o crescimento esperado neste ano foi cortado a 1,2%, sobre 2,9% antes.

ESPAÇO PARA POLÍTICA MONETÁRIA

Campos Neto reforçou que ainda há espaço para atuação via política monetária, ao mesmo tempo em que pontuou que o quadro fiscal do país "é muito relevante" dentre os vários fatores que preocupam a autarquia em meio à incerteza gerada pela crise.

No relatório, o BC projetou uma inflação abaixo do centro da meta para este ano e 2021, ao mesmo tempo em que reiterou ver espaço para uma redução apenas residual dos juros.

Ainda assim, Campos Neto destacou que a mensagem da autoridade monetária não é de "forma alguma" que a meta de inflação esteja sendo abandonada ou sendo olhada de uma forma diferente.

"Temos mencionado um movimento em duas direções. De um lado, a parte do distanciamento gerando poupança precaucionária e, de outro lado, o estímulo dos programas e de tudo que tem sido feito. Nós mencionamos também que isso gera uma pequena assimetria", afirmou Campos Neto.

Ao cortar a Selic em 0,75 ponto na semana passada, à nova mínima histórica de 2,25% ao ano, o BC deixou a porta aberta para nova redução "residual" à frente, condicionada à avaliação do cenário.

Nesta quinta, Campos Neto destacou que o auxílio emergencial pago pelo governo em meio à crise do coronavírus fez com que a massa de renda subisse bem acima do padrão. A concentração de renda disponível nesse tempo pode ser elemento incentivador de consumo, completou.

Ele disse que o mercado não está reagindo como se o Brasil estivesse em dominância fiscal, mas destacou ser muito importante que o país retome a agenda de reformas e consolidação fiscal.

"Se convergência fiscal ficar desestabilizada temos juros estrutural diferente do que é projetado hoje", disse.

Campos Neto afirmou ainda que, a partir do ponto em que houver o entendimento de que não há mais espaço para política monetária, o BC irá olhar todos os instrumentos que tem à mão para atingir seu objetivo.

CÂMBIO

Sobre o câmbio, Campos Neto reconheceu que a volatilidade no Brasil está um pouco maior, mas afirmou que isso não significa que está piorando consistentemente.

"Nos dias de melhora tem melhora maior e nos dias de piora também tem uma piora maior", afirmou ele.

O presidente do BC atribuiu parte dessa volatilidade ao fato de o real ser uma moeda de mercado emergente que tem muita liquidez. Por conta disso, os investidores procuram hedge quando têm algum tipo de problema.

"Tem tido entrada e saída grande nesse sentido. A gente vê, por exemplo, que parte da volatilidade que vimos recentemente é gerada por notícias externas", pontuou ele.

Campos Neto afirmou que o BC está de olho nesse movimento, reconhecendo que ele acaba tendo consequências no operacional para o setor real.

A despeito disso, Campos Neto avaliou que a atuação da autoridade monetária tem sido bem sucedida no mercado cambial, sublinhando que a forma de intervir do BC não é para estabelecer nenhuma banda ou limite para o câmbio.

"É mais para suprir gaps de liquidez e às vezes nós entendemos que existe uma precificação relativa que está disfuncional e acaba contaminando outros mercados", afirmou.