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Demanda por combustível fóssil terá golpe histórico por impactos da covid-19, diz BP

Sonda para bombeamento de petróleo em Midland, Texas (EUA) - Nick Oxford
Sonda para bombeamento de petróleo em Midland, Texas (EUA) Imagem: Nick Oxford

Ron Bousso

Em Londres

14/09/2020 10h17

O consumo de combustíveis fósseis deve diminuir pela primeira vez na história moderna, à medida que as políticas climáticas impulsionam a energia renovável, enquanto a pandemia de coronavírus deixará um efeito duradouro na demanda global por energia, informou a BP em uma previsão.

O Energy Outlook 2020 da BP, uma referência para o mercado, sustenta a nova estratégia do presidente-executivo da empresa, Bernard Looney, para "reinventar" a empresa de petróleo e gás de 111 anos, mudando o foco para energias renováveis.

Este ano, a BP estendeu seus cenários até 2050, para alinhá-los com à estratégia da empresa de zerar as emissões de carbono de suas operações até a metade do século. Isso inclui três cenários que assumem diferentes níveis de políticas governamentais destinadas a cumprir o acordo climático de Paris de 2015 para limitar o aquecimento global a "bem abaixo" de 2 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.

Em seu cenário central, a BP prevê que a Covid-19 eliminará cerca de 3 milhões de barris por dia (bpd) em 2025 e 2 milhões de bpd em 2050. Em seus dois cenários agressivos, a Covid-19 acelera a desaceleração do consumo de petróleo, fazendo com que o pico seja o ano passado. No terceiro cenário, a demanda de petróleo atinge o pico por volta de 2030.

Embora a participação dos combustíveis tenha diminuído no passado como porcentagem do bolo total de energia, seu consumo nunca diminuiu em termos absolutos, disse o economista-chefe da BP, Spencer Dale, a jornalistas.

"(A transição energética) seria um evento sem precedentes", disse Dale. "Nunca na história moderna a demanda por qualquer combustível comercializado diminuiu em termos absolutos."

Ao mesmo tempo, "a parcela da energia renovável cresce mais rapidamente do que qualquer combustível jamais visto na história".

A participação dos combustíveis fósseis deverá diminuir de 85% da demanda total de energia primária em 2018 para entre 20% e 65% até 2050 nos três cenários. Ao mesmo tempo, a participação das energias renováveis deve crescer de 5% em 2018 para até 60% em 2050.

Retomada será difícil

A demanda global por gasolina e diesel deve retornar aos níveis anteriores à pandemia no final do ano que vem, embora um ressurgimento de casos de covid-19 possa manter o consumo oscilando, disseram hoje executivos seniores da indústria.

O caminho para a recuperação deve ser difícil, e a indústria de energia deve estar pronta para atender aos choques de demanda ajustando a produção de refinarias e com armazenamento suficiente para lidar com o excesso de oferta quando este surgir, disseram os executivos.

"Uma segunda onda ou um conjunto contínuo de surtos que impactem a demanda é o choque mais provável que o mercado de petróleo precisa considerar nos próximos 12 a 24 meses", disse Giovanni Serio, chefe global de pesquisa da trader de commodities Vitol, durante a Asia Pacific Petroleum Conference, que ocorreu de modo virtual.

A demanda global por petróleo diminuiu em 22 milhões de barris por dia (bpd) em abril, um recorde, com 4 bilhões de pessoas em quarentena devido ao coronavírus, disse Arif Mahmood, vice-presidente executivo e diretor executivo de downstream da malaia Petronas.

E a demanda global deverá cair 8,1 milhões de bpd este ano, para 91,9 milhões de bpd, disse a Agência Internacional de Energia (IEA).

Qualquer retomada da Covid-19 durante o inverno do Hemisfério Norte, no entanto, poderia gerar outro choque no mercado, disse o chefe de análise da S&P Global Platts, Chris Midgley.

"Há um risco real disso. Nós temos visto aumento nas taxas de infecção agora".

Serio, da Vitol, disse que interrupções na recuperação teriam que ser enfrentadas por uma disciplina ainda maior por parte de produtores e refinarias para conter a oferta, assim como uma disponibilidade imediata de armazenamento para o petróleo excedente.

A demanda por combustível para aviões, no entanto, não deve se recuperar muito, uma vez que levará mais tempo para que as viagens aéreas voltem aos níveis pré-pandemia.

O consumo de gasolina e diesel na Malásia já voltou aos níveis de 2019, mas o mercado de combustível para aviação "ainda segue muito deprimido", dado que as fronteiras do país estão fechadas, disse Arif.

"Mesmo se abrirem, ainda levará tempo para o mercado se recuperar", afirmou.

A demanda global por combustível de aviação caiu de cerca de 10 milhões de bpd para cerca de 3 milhões de bpd, disse Ben Lockock, co-chefe de petróleo da trading Trafigura.