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Dólar devolve perdas e passa a subir em meio a temores políticos locais

15/09/2020 09h18

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - Depois de ter operado em queda no início do pregão com o exterior benigno, o dólar à vista passou a mostrar leve alta contra o real nesta terça-feira, após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que o governo não irá mais criar o programa Renda Brasil.

Em um vídeo publicado na manhã desta terça-feira em suas redes sociais, Bolsonaro disse que "até 2022 no meu governo está proibido falar em Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final".

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, adiou a participação em um evento para se encontrar com o presidente ainda nesta terça-feira, embora a pauta da reunião não tenha sido informada.

Na esteira das manchetes, os mercados rapidamente adotaram postura mais cautelosa, que refletia preocupações sobre a permanência de Guedes no comando da equipe econômica do governo Bolsonaro.

"Há apreensão política, muito receio", disse à Reuters Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas, citando temores sobre a possibilidade de Guedes deixar o cargo depois da decisão do presidente de enterrar o programa --que o governo via como o caminho para deixar sua marca e atrair a fidelidade das famílias mais pobres.

"Enquanto não houver alguma notícia em relação a essa reunião, a tendência é o dólar continuar subindo", completou.

Às 12:22, o dólar avançava 0,37%, a 5,2940 reais na venda, enquanto o principal contrato de dólar futuro tinha alta de 0,41%, para 5,2945 reais.

Mais cedo, a moeda norte-americana spot havia registrado queda, chegando a tocar 5,2210 reais na venda na mínima do dia (-1,02%), patamar que teria sido o mais baixo para fechamento desde 31 de julho (5,2185 reais na venda).

O apetite por risco inicial no mercado de câmbio refletiu otimismo global depois de dados desta manhã mostrarem que a produção industrial da China acelerou no ritmo mais forte em oito meses em agosto, enquanto as vendas varejistas cresceram pela primeira vez no ano, sugerindo que a recuperação na segunda maior economia do mundo está ganhando terreno.

"Tudo que envolve a China tem um impacto muito forte e efeito de tração para o bom humor, mostrando que a economia chinesa cresceu de forma mais célere do que se imaginava", explicou Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.

Mas, "apesar dos dados, o mercado fica um tanto cauteloso à medida que os investidores aguardam decisões de juros", acrescentou.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil iniciou nesta terça-feira sua reunião de decisão de juros de dois dias. Na quarta-feira, ao final de seu encontro, o BC provavelmente vai manter a taxa básica de juros Selic na mínima recorde de 2,0%, adotando uma visão neutra que deve continuar até que um ciclo de aperto monetário comece no segundo semestre de 2021, mostrou uma pesquisa da Reuters.

Já nos Estados Unidos --em sua primeira reunião de política monetária desde que o chair do Fed, Jerome Powell, anunciou uma postura mais acomodatícia sobre a inflação--, o banco central pode mudar suas compras de Treasuries para dívidas de prazo mais longo de forma a manter baixos os rendimentos de vértices mais dilatados, disseram alguns estrategistas.

No exterior, moedas arriscadas pares do real --como rand sul-africano, peso mexicano e dólar australiano-- apresentavam alta contra a divisa norte-americana nesta manhã.

No entanto, o índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes --que recentemente tem apresentado fraqueza, ajudando mercados emergentes-- abandonou perdas registradas no início do pregão para registrar variação positiva de 0,07%.

Na segunda-feira, o dólar spot registou queda de 1,10% contra o real, a 5,2747 reais na venda.