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Chefes do Fed e do Tesouro dos EUA apoiam mais empréstimo a pequenas empresas, mas detalhes ficam vagos

22/09/2020 16h24

Por Dan Burns e Howard Schneider

(Reuters) - Os principais formuladores de política econômica dos Estados Unidos abriram a porta nesta terça-feira para mais ajuda a pequenas empresas atingidas pela recessão causada pelo coronavírus, mas divergiram sobre como ela pode ser estendida e entregue.

Em depoimento perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o presidente do Fed, Jerome Powell, foram pressionados por parlamentares preocupados com o fato de o esforço de vários trilhões de dólares do país para combater as consequências econômicas da pandemia ainda ter deixado ampla faixa de empresas vulneráveis, desde os menores restaurantes até escritórios comerciais e hotéis.

Mnuchin e Powell disseram que estavam buscando maneiras de disponibilizar mais ajuda, mas também que estavam atingindo limites legais e práticos que poderiam exigir uma ação do Congresso.

Empréstimos do Fed com edifícios comerciais como garantia, por exemplo, eram frequentemente proibidos pelos acordos de empréstimo existentes que barram novos financiamentos aos proprietários, disse Powell. E as propostas de que o Fed flexibilize as exigências de seu programa "Main Street" para torná-lo mais acessível às empresas menores, disse Powell, negligenciam o fato de que, até agora, as empresas maiores têm sido as interessadas no crédito do banco central.

"Há muito pouca demanda abaixo de 1 milhão de dólares", disse Powell em resposta a uma sugestão de Mnuchin de o valor mínimo do empréstimo sob o mecanismo Main Street ser reduzido de 250 mil dólares para 100 mil dólares.

Seria melhor que a ajuda para as pequenas empresas, disse Powell, viesse por meio de outro programa de subsídio, como o PPP (destinado a auxiliar empresas a continuar pagando funcionários), porque "tentar subscrever o crédito de centenas de milhares de pequenas empresas seria muito difícil" para o Fed, disse Powell.

A audiência, seis meses após o início da pandemia e seis semanas antes da eleição presidencial de 3 de novembro, evidenciou a encruzilhada que a economia dos EUA parece estar enfrentando.

Depois de uma queda histórica da atividade econômica durante março e abril, quando muitas lojas foram fechadas para combater a propagação da pandemia, a recuperação foi surpreendentemente forte. Cerca de metade dos 22 milhões de empregos perdidos em março e abril foram recuperados, e Powell disse que houve "melhora acentuada" em muitas outras medidas de atividade econômica.

Mas a disseminação do vírus ainda está desenfreada, e há consenso entre economistas, inclusive no Fed, de que a recuperação será interrompida se mais apoio federal não for fornecido, em particular para famílias e pequenas empresas.

RECUPERAÇÃO PUXADA POR ESTÍMULO

Powell observou nesta terça-feira que muitos dos dados econômicos saudáveis divulgados nos últimos meses foram resultado de gastos federais sob a Lei Cares, que previa 2,3 trilhões de dólares em ajuda.

Aprovado no final de março como a base da resposta econômica do governo federal à pandemia, o texto autorizou o Tesouro a financiar uma série de programas de empréstimos e crédito do Fed, incluindo o programa Main Street, bem como fazer pagamentos diretos a indivíduos, elevar benefícios a desempregados e fornecer empréstimos pelo programa PPP para pequenas empresas que devem ser perdoados.

O resultado não foi apenas uma recuperação nos empregos, mas uma estabilização da renda pessoal e um salto na poupança pessoal que Powell disse ter tornado a economia "resistente" à inadimplência de empréstimos, ações de despejos e outros problemas temidos quando a recessão sobreveio.

Como muitos desses programas expiraram durante o verão nos EUA, "o risco é que (as pessoas) gastem essas economias sem terem conseguido encontrar emprego ainda... Seus gastos diminuirão, sua capacidade de permanecer em suas casas diminuirá. A economia começará a sentir esses efeitos negativos", disse Powell.

O destino das pequenas empresas --principais geradoras de emprego nos EUA, mas também vulneráveis ​​a interrupções no fluxo de caixa e com falta de crédito-- é chave para definir o quão rápida e ampla será a recuperação.

Powell, Mnuchin e parlamentares concordaram que é necessária mais ajuda para o setor.

No entanto, não havia um caminho rápido proposto.

O Fed foi alvo de críticas de que seu muito alardeado programa de empréstimos "Main Street" fez poucos empréstimos reais. Dos 600 bilhões de dólares em financiamento potencial, foram processados apenas cerca de 2 bilhões de dólares desde junho, quando o programa foi aberto.

Mas Powell disse que a solução não era reduzir o tamanho mínimo do empréstimo ou ampliar o programa para uma classe de tomadores cuja capacidade de crédito o Fed teria dificuldade em julgar.

Em vez disso, ele citou que algo como o PPP --um programa que na verdade atua como um subsídio para pequenas empresas financiado pelo contribuinte-- "é a melhor maneira de abordar esse espaço", disse ele.

Mnuchin disse que o governo concorda e estará aberto para reaproveitar alguns dos fundos já alocados pelo Congresso.

Mas ele afirmou também achar que os programas subsequentes devem ser direcionados de forma mais restrita para restaurar empregos ou focar negócios, incluindo restaurantes, afetados mais duramente pela pandemia.

O Congresso, por sua vez, está em um impasse sobre novos programas de ajuda, com expectativas cada vez menores de ação sobre qualquer projeto de lei antes da eleição presidencial.

MELHORA EM MEIO A RISCOS

A melhora que Powell observou na economia vem com importantes notas de rodapé. Apesar da recuperação do emprego, a economia continua com cerca de 11 milhões de empregos a menos que em fevereiro.

A recuperação total, disse Powell, também dependerá do controle do vírus e "provavelmente ocorrerá apenas quando as pessoas estiverem confiantes que é seguro voltar a se engajar em uma ampla gama de atividades".

Até então, repetiu, provavelmente será necessária mais ajuda fiscal para evitar o pior.

A audiência desta terça-feira, presidida pela deputada democrata Maxine Waters, da Califórnia, foi a primeira de três com Powell nesta semana.

Na quarta-feira, Powell deve comparecer a uma audiência do Subcomitê da Câmara para a Crise do Coronavírus, presidido pelo parlamentar democrata James Clyburn, da Carolina do Sul.

Na quinta-feira, Powell e Mnuchin darão testemunho em audiência no Comitê Bancário do Senado, presidido pelo republicano Mike Crapo, de Idaho.