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Real seguirá com alta volatilidade e terá desempenho pior que pares até o fim do ano, prevê Barclays

23/09/2020 15h54

SÃO PAULO (Reuters) - A volatilidade na taxa de câmbio brasileira permanecerá alta no quarto trimestre, e o real deverá se desvalorizar e ter desempenho pior que seus pares até o fim do ano, afetado por persistentes incertezas fiscais e pelo ruído a ser gerado pelas eleições norte-americanas, avaliaram analistas do Barclays em relatório nesta quarta-feira.

Os profissionais recomendam a venda de uma cesta de moedas composta por real e peso chileno contra o peso mexicano.

O real é a moeda mais volátil do mundo, considerando as principais divisas, e em 2020 cai 27,9%, em termos nominais --pior desempenho global. Nesta quarta, a divisa recuava 1,8%, segunda maior queda mundial.

No começo de 2021, o Barclays vê uma "janela de oportunidade" para moedas emergentes e ativos de risco, passada a eleição nos Estados Unidos. Nesse momento, com o debate sobre o Orçamento finalizado e a esperada retomada de discussão das propostas de reformas já apresentadas, o real pode ter performance melhor que seus rivais.

"Mas esperamos que o otimismo do mercado então se esvaia até o fim do ano (de 2021), à medida que a agenda política se tornar mais influenciada pelas eleições de 2022 (no Brasil) e preocupações com sustentabilidade da dívida, limite de gastos, etc provavelmente ressurjam", disseram os analistas, que seguem posicionados em uma estrutura de opção (long USDBRL 1x2 call spread) para proteção contra riscos fiscais de curto prazo e riscos globais.

Os profissionais do Barclays avaliaram ainda que os agentes de mercado deverão "ignorar" o "forward guidance" do Banco Central --ferramenta de política monetária que pretende influenciar as expectativas do mercado via comunicação.

Com investidores dando de ombros para a sinalização do BC de que não elevará a Selic, o Barclays entende que o mercado vai manter nos preços expectativas de aumentos de juros já no início de 2021.

"No entanto, poderia haver espaço para achatamento na ponta curta da curva se o regime fiscal não se deteriorar (ou seja, o teto de gastos permanecer em vigor), com o início das altas de juros podendo ser precificado para depois", disseram.

No cenário-base do Barclays, o teto de gastos não será revogado, mas respeitado por meio de promulgação de alguns mecanismos corretivos, incluindo redução na indexação do Orçamento.

Apesar do cenário de volatilidade para o câmbio e de pressão na curva de juros, o banco privado acredita que os spreads de dívida do Brasil estão muito elevados e justificam recomendação "overweight" (acima da média do mercado).

O Barclays cita o spread entre o CDS de Brasil e México, que subiu para 85 pontos-base, de 20 pontos-base no fim de abril.

"Achamos que esse diferencial de spread é injustificado pelos fundamentos da dívida externa brasileira e riscos políticos contidos. Recomendamos venda tática de CDS de cinco anos do Brasil e compra de CDS de cinco anos do México."

(Por José de Castro)